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10/05/2006 - 08h00

Ombudsmans falam dos preconceitos que afetam o jornalismo

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da Folha de S.Paulo

A falta de cultura histórica e de contextualização no jornalismo ocasiona coberturas preconceituosas e caricaturais de temas sociais, segundo debatedores de ontem da 26ª Conferência Anual da ONO (Organization of News Ombudsmen, ou Organização de Ombudsmans de Notícias), organizada em São Paulo pela Folha.

Exemplos recentes incluiriam a nacionalização do gás na Bolívia, as manifestações em Paris que resultaram na queima de centenas de automóveis, as charges contra o profeta Maomé e a cobertura de ações policiais nas favelas do Rio.

A ONO convidou o geógrafo e colunista da Folha Demétrio Magnoli para discutir o assunto com Robert James Batten, do grupo Australian Broadcasting Corporation, e Stephen Pritchard, ombudsman do jornal britânico "The Observer".

Em todos os exemplos citados por Magnoli faltaram, segundo ele, "cultura histórica dos jornalistas" para colocar as reportagens em um contexto mais amplo.

No caso mais recente, do gás boliviano, Magnoli afirmou que a mídia preferiu fechar o foco na influência do presidente venezuelano Hugo Chávez no episódio.

Isso colocou, segundo o demógrafo, o "vulcão social" boliviano em segundo plano entre as motivações que levaram o presidente da Bolívia, Evo Morales, a adotar a medida. "O fator social foi esquecido, como se Morales tivesse alternativas", disse.

No caso das charges contra o profeta Maomé, Magnoli disse que as manifestações "menores e específicas na Europa" foram tratadas com a mesma relevância das "grandes e violentas" no Oriente Médio --dando força erroneamente à tese de um "choque de civilizações" entre o mundo ocidental e islâmico.

Austrália

Robert Batten também discorreu sobre a amplificação de preconceitos pela mídia ao analisar as manifestações contra libaneses ocorridas no final de 2005 na Austrália. Segundo Batten, o assunto começou como um pequeno desentendimento entre descendentes de libaneses e três salva-vidas australianos. Nos dias seguintes, acabou se tornando um caso de perseguição nacional contra libaneses depois que uma rádio adotou tom preconceituoso.

O caso das charges contra Maomé também foi tema de um debate. O ombudsman da Danish TV (Dinamarca), Jacob Mollerup, disse concordar com o princípio da liberdade de expressão. Mas os princípios, segundo ele, não levam em conta contingências e particularidades, como o caráter ofensivo que as caricaturas passaram a ter no mundo muçulmano.

Mesmo admitindo uma orquestração da crise por países islâmicos de regime autoritário, Mollerup disse valer para o episódio o mesmo que vale para a comunidade judaica: caso algo possa ofender, é sensato não publicar.

Jantar

Os ombudsmans participaram à noite de um jantar oferecido pela Folha na Pinacoteca do Estado. Em discurso, o diretor de Redação do jornal, Otavio Frias Filho, ressaltou a importância da função. "A opinião de um ombudsman independente é o mais valioso dos mecanismos de freios e contrapesos capazes de moderar eventuais abusos de um veículo e corrigir seus rumos", afirmou.

Ian Mayes, ombudsman do jornal britânico "The Guardian" e presidente da ONO, falou da satisfação de a reunião anual da entidade ter se realizado pela primeira vez fora de uma cidade européia ou norte-americana. Segundo ele, o evento em São Paulo fortalece os laços entre a ONO e a América Latina.

Fórum Folha

A conferência dos ombudsmans termina hoje de manhã. No mesmo local, a Federação do Comércio do Estado de São Paulo, começa às 15h o Fórum Folha de Jornalismo, aberto ao público, mas com lotação já esgotada.
Os especialistas convidados participarão hoje de dois painéis, "Transparência e Qualidade Jornalística" e "Poder e Jornalismo na América Latina".

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a conferência de Ombudsmans
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