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17/05/2006 - 09h09

Computador lista deputados que recebiam propina, diz PF

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RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
da Folha de S.Paulo

Perícia da Polícia Federal apresentada ontem à Corregedoria da Câmara dos Deputados aponta registros, na contabilidade da empresa Planam, de pagamentos entre R$ 5.000 e R$ 50 mil feitos desde 2001 a 13 deputados federais, além de ex-deputados e outros políticos. A empresa é apontada como a cabeça do esquema de desvio de recursos do Orçamento da União para aquisição de ambulâncias superfaturadas.

Até agora, os nomes de parlamentares supostamente envolvidos no esquema haviam surgido com base em escutas e investigação da PF, a chamada "Operação Sanguessuga", que listou 63 suspeitos, e no depoimento da funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, apontada como braço da quadrilha no Executivo, que citou 81 envolvidos.

A lista de ontem tem como base perícia feita nos 41 computadores da Planam e foi debatida durante depoimento do delegado Tardelli Boaventura, responsável pela investigação na PF, à comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara.

Contabilidade

De acordo com pessoas que tiveram acesso à lista --o depoimento de Tardelli foi fechado, já que a sindicância da Câmara corre em sigilo--, há vários nomes de parlamentares em uma coluna do livro-caixa da empresa denominada "contas a pagar".

Entre eles estariam o do ex-presidente do PTB e ex-deputado José Carlos Martinez, morto em acidente aéreo em 2003, o do ex-senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), e os dos deputados Nilton Capixaba (PTB-RO), 2º Secretário da Câmara, Pedro Henry (MT), ex-líder da bancada do PP, Paulo Baltazar (RJ), ex-líder do PSB, Iris Simões (PTB-PR) e Teté Bezerra (PMDB-MT).

"Realmente os dados são extremamente importantes e nos criaram uma profunda angústia, mas devem ser analisados com muita cautela, com muito cuidado, para que possamos proferir um relatório justo, correto, dando uma resposta à altura à sociedade brasileira", afirmou o relator da sindicância, deputado Robson Tuma (PFL-SP). O deputado não quis confirmar os nomes da nova lista.

A comissão de sindicância da Câmara investiga atualmente 16 deputados federais sob suspeita de envolvimento no esquema. O escândalo dos "sanguessugas" veio à tona depois que a PF realizou dezenas de prisões de empresários e assessores parlamentares acusados de envolvimento na fraude.

Em linhas gerais, a suspeita é que a Planam, em conluio com parlamentares, assessores destes e prefeitos, venderia ambulâncias superfaturadas a prefeituras, que usariam, para isso, recursos alocados no Orçamento da União por meio de emendas feitas por deputados e senadores.

Entre os 16 investigados pela Corregedoria não estão Capixaba, Henry, Simões nem Teté. O primeiro, que teve um assessor preso na operação da PF, teve o seu caso suspenso para aguardar investigação administrativa feita pela Câmara contra o assessor.

O segundo teve o seu caso arquivado pela Mesa da Câmara por falta de indícios contra ele. O terceiro e o quarto não eram citados nas três listas anteriores.

Nos registros da Planam há ainda uma lista com o acompanhamento das emendas apresentadas por deputados e senadores ao Orçamento para compra de ambulâncias.

Nas planilhas da Planam, os dados registrados eram minuciosos. Incluíam o município ao qual se destinava a emenda, o valor aprovado, o nome do deputado responsável pela apresentação e até a senha secreta de acompanhamento do projeto, que é fornecida ao município pelo Ministério da Saúde.

Segundo os relatos, a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) tinha o desenrolar burocrático de suas emendas acompanhadas passo a passo pela Planam.

Há uma enorme pressão na Câmara contra o vazamento à imprensa de nomes de deputados suspeitos de integrar o esquema, até porque contra alguns não há nada consistente.

Um dos que subiram à tribuna ontem para se dizer indignado foi o vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL), apontado pela funcionária do Ministério da Saúde como integrante do esquema. "Nada devo, nada temo", disse Nonô, afirmando que irá processar os responsáveis pelo "enxovalhamento" do seu nome.

Hoje, a comissão de sindicância da Câmara ouve em Brasília, na superintendência da PF, os empresários da Planam e os assessores parlamentares presos.

Outro lado

O ex-senador Carlos Bezerra (PMDB-MT) disse estar "admirado" com a menção de seu nome e o da mulher, a deputada federal Teté Bezerra (PMDB-MT), no livro-caixa da Planam.

"Nunca tivemos, eu ou minha mulher, nenhuma ligação com essa Planam", declarou. Ele disse que conhece a servidora Maria da Penha Lino "somente de vista". "Vou me inteirar do que realmente consta dessa lista para estudar medidas cabíveis", disse.

O deputado Íris Simões (PTB-PR) não quis comentar o assunto. Segundo sua assessoria, ele só falará após receber informação oficial.

A Folha não conseguiu localizar ontem o deputado Paulo Baltazar (PSB-RJ). Em "carta aberta ao povo", ele diz que é favorável ao aprofundamento da investigação e que não se envolveu "em nada que não seja transparente e lícito na execução das emendas ao Orçamento da União". Segundo o deputado, as emendas apresentadas são executadas com "critérios de cada prefeitura ou entidade beneficiada".

A Folha não conseguiu falar com os deputados Nilton Capixaba (PTB-RO) e Pedro Henry (PP-MT), e com a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT). Em relação a Henry, a Folha deixou recado na caixa postal de seu telefone celular, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.

Em relação a Capixaba, há dias a Folha tenta contato com o deputado, mas ninguém atende as ligações. Capixaba ainda não se pronunciou publicamente sobre a operação da PF.

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