25/07/2006 - 02h32

Veja os principais trechos da sabatina do senador Eduardo Suplicy

da Folha de S.Paulo

Veja os principais trechos da sabatina do senador Eduardo Suplicy na Folha de S.Paulo:

Mensalão: Lula sabia?
Qual o grau de extensão que ele sabia é justamente isso que eu gostaria e ele pudesse nos transmitir, e da forma mais aberta e transparente. Nada como dizer a verdade como ela é. Eu não conheço a extensão do conhecimento do presidente de todos os fatos. Tenho a convicção que sobre a extensão dos fatos ele certamente também ficou surpreendido, não imaginava que fosse uma coisa dessa natureza. Mas em que medida ele sabia nada melhor que ele próprio vir ao Congresso e ter um diálogo aberto, dizendo as coisas. O governador de Goiás mencionou que um dia revelou ao presidente um episódio que poderia ser próximo do que veio a se chamar mensalão. Em que medida ele tomou conhecimento de fato, que diálogo teve com seus ministros sobre esse episódio? Eu acho que seria bom para o presidente chegar e dizer as coisas como elas são.

Caso Gamecorp-Telemar
Eu acho que neste caso nós precisamos saber inteiramente tudo. Seria bom o presidente Lula um dia ter a disposição de explicar inteiramente tudo o que aconteceu [ao Congresso]. O esclarecimento olho no olho, da parte do presidente, com todo o respeito para cada um dos parlamentare que levantam dúvidas, seria benéfico.

CPI dos Correios
Em maio de 2005 tomei pela primeira vez uma decisão diferente da recomendada pelo diretório nacional e pela minha bancada de senadores, quando recomendaram que não assinássemos o requerimento CPI Correios. Houve uma sessão prolongada de debates naquela tarde. Eu tinha percebido que o fato de nós seis [senadores do PT] não assinarmos contribuiria para que houvesse maior desistência, e talvez não ocorresse a CPI. Naquela tarde eu disse que, pelo bem de Lula, do PT e da nação brasileira, eu iria assinar. E assinei. Sei que contribuiu para que muitos dos que consideravam retirar as assinaturas não o fizessem mais. Com isso, ocorreu a CPI. Em junho, a Folha entrevistou o Roberto Jefferson. No dia seguinte, os 13 senadores do PT, dada a repercussão da entrevista, resolvemos assinar um documento apoiando a realização da CPI. Este foi um momento muito importante da minha vida política. Foi extremamente difícil. Eu tenho a convicção de ter contribuído para que muito do que acabou se revelando tivesse vindo à tona ao assinar o requerimento da CPI.

Avaliação do governo
Eu tenho a convicção de que muitas coisas foram feitas e Lula tem extraordinários méritos em conseguir, por exemplo, arrumar a economia para podermos esperar um crescimento sustentável da economia combinando com melhoria da distribuição da renda e erradicação da pobreza absoluta.

Heloísa Helena
Tenho pela senadora Heloísa Helena muito carinho, respeito e amizade. Temos tido uma interação muito forte. Eu fui dos que argumentou para ela não ser expulsa. Tive ali [em 2003] divergências difíceis, inclusive com o ministro José Dirceu. Eu preferiria tê-la ainda dentro do partido, fazendo as críticas, mas disse a ela muitas vezes que seria bom que ela utilizasse de termos que não fossem ofensivos porque isso dificulta a relação entre nós.

Segundo turno
Eu não descarto a possibilidade, dada a movimentação que temos observado e as tendências, que possa até acontecer o segundo turno entre o presidente Lula e a senadora Heloísa Helena. Eu voto no presidente Lula. E estou na campanha para que o presidente seja reeleito. Se ocorrer segundo turno --e vou me empenhar pela vitória no primeiro--, o mais provável é entre Lula e Geraldo Alckmin. Com toda certeza votarei em Lula. Se ocorrer segundo turno entre o presidente Lula e Heloísa Helena, votarei no presidente Lula. Se for um segundo turno entre Geraldo Alckmin e Heloísa Helena, ai eu revelo que meu voto será em Heloísa.

Ficar ou sair do PT
Eu pensei se seria o caso de sair do Partido dos Trabalhadores. Fui convidado a ir para o Psol. Disse a eles que ingressei no PT pelas coisas que acredito e continuo a acreditar. A minha vontade e determinação é de permanecer no PT sim, e contribuir para que o meu partido corrija os graves problemas que infelizmente aconteceram. Se eu estou dentro de uma família e por ventura alguém comete um erro, eu não vou necessariamente sair da família. Eu me sinto um peixe dentro das águas do Partido dos Trabalhadores. Me sinto muito confortável dentro do PT.

José Dirceu
Quando houve o caso Valdomiro Diniz, achei que José Dirceu deveria comparecer [ao Congresso] para desanuviar o estado de tensão daquele período. A bancada do PT me dizia: "Eduardo, você está louco em defender isso? Vão cair em cima dele [Dirceu]". E eu dizia que seria bom, porque sempre defendemos isso. Ele tem e terá o direito de responder, de esclarecer sobre a sua responsabilidade em cada um dos episódios. O direito legítimo de defesa precisa ser assegurado. Como está inserido na denúncia do Procurador Geral da República, caberá ao ex-deputado apresentar a sua defesa. Eu acho que ainda não foi conclusiva a explicação relativa a cada um dos episódios. O esclarecimento cabal, no meu entender, ainda não houve.

Presidência em 2010
Eu não sei o que vai ocorrer em 2010. Se eu estiver bem de saúde, se estiver tendo bom desempenho no Senado, dependendo das circunstância, eu posso até considerar essa possibilidade. Mas é muito cedo hoje. Dentro do PT há um número muito grande de companheiros que têm méritos para se colocarem à disposição do partido. É uma questão inteiramente aberta e que será resolvida de forma democrática.

Bolsa-Família
O Bolsa-Família pode ser visto como um passo na direção da renda básica de cidadania. Se trata de um programa administrado pelo Executivo, mas em convênio e cooperação com os 5.561 prefeitos municipais, de todos os partidos. A grande qualidade da renda básica de cidadania é nós estarmos vendo o direito de todos partilharmos da riqueza da nação, como direito universal, e um direito que não é do presidente, do senador, do deputado ou do vereador. É da nação. Foi aprovada por todo o Congresso.

Segurança Pública
Acho importantíssimo que possa haver oportunidades para os presos trabalharem e se preparem para o dia em que receberem a liberdade. E que venhamos a desenvolver mais a oportunidade da aplicação de penas alternativas. Votei favorável ao endurecimento do Regime Disciplinar, mas sinceramente tenho as minhas dúvidas que isso vá adiantar tanto mais. Avalio que é muito mais importante o nosso empenho em fazer do Brasil uma nação justa, com ampliação das oportunidades de educação e de serviços públicos de saúde, a realização da reforma agrária mais depressa do que o que tem sido feita, expansão de oportunidades de microcrédito e apoio às cooperativas de produção.

Força Nacional de Segurança
Acho que todos nós aqui somos responsáveis e precisamos ter espírito de cooperação. O governador Cláudio Lembo acha que não vai adiantar muito. Eu acho que não é bem assim. Na verdade, a Força Nacional é constituída de pessoas bem treinadas, vindas de todas as unidades da federação. Não tem qualquer caráter de intervenção. Na medida em que o problema não está ainda inteiramente resolvido, eu não veria maior problema.

Sanguessugas
Deve-se considerar sempre o direito de se defender. Mas, se houver investigações e for provado que feriram o decoro parlamentar, acho que o TSE deve decidir, sim, que não exerçam um segundo mandato.

Reforma política
Se eu pudesse fazer uma recomendação ao presidente seria que ele diga com clareza a cada parlamentar: "Cada deputado e senador deve votar de acordo com interesses maiores, o interesse público e não pela liberação de verbas, para emendas ou indicação a cargos". Ele poderia usar seu respaldo junto ao povo para persuadir os parlamentares a cumprir essa interação com o chefe do Executivo, deveria realizar esse esforço. Falta ainda esse tipo de procedimento. O presidente Lula tem dito que aprendeu muito nesse primeiro mandato. No Senado, houve alguns problemas, mas foi possível dialogar com os senadores, de todos os partidos, e abordar questões sobre reforma tributária e da Previdência. Lula conseguirá mais apoio da opinião pública se tiver essa postura, mesmo que perca algumas votações. E é preferível perder. Mas deve responsabilizar os parlamentares sobre [o cumprimento de suas] metas. Nunca vi, por exemplo, o Pedro Simon votar nada que não fosse do interesse nacional. Ele é crítico ao governo, mas Lula tem a ganhar ouvindo mais pessoas assim no Congresso.

Emendas parlamentares
Quero aqui esclarecer que eu tenho feito emendas de natureza geral, como por exemplo para reforçar os programas de renda mínima e bolsa-escola.