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11/09/2006 - 09h55

Jorge Viana esquece passado e se alia a políticos que o PT antes combatia

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FÁBIO ZANINI
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Rio Branco

Oito anos após ter despontado na política com a promessa de tirar o Acre das páginas policiais, o grupo ligado ao governador Jorge Viana (PT) recorreu às mesmas personagens que antes combatia para se manter no poder.

Forte candidato para o ministério em um eventual segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Viana conquistou o apoio do ex-governador Orleir Cameli (1995-1998), o mesmo que era caracterizado por ele como responsável pelo "desmonte" do Estado.

Cameli entrou no barco petista junto com seu primo Cesar Messias (PP), ex-prefeito de Cruzeiro do Sul (segunda cidade do Estado), indicado vice na chapa do PT ao governo.

Do lado do PP, um dos pais da aliança é o ex-deputado Ronivon Santiago, presença constante nos grandes escândalos dos últimos anos --compra de votos, valerioduto e sanguessugas.

Mas ele não pôde ver o resultado final de seu trabalho. Foi preso pela Polícia Federal poucas horas antes da apresentação da coligação, em 4 de maio.

Figura ainda na frente petista o PL de Aureliano Pascoal, ex-secretário de Segurança Pública de Cameli e primo de Hildebrando Pascoal, símbolo do "faroeste" que o PT combatia. Hildebrando, preso desde 1999 por mandar matar um adversário com uma motosserra, comandava a PM do Estado.

Há oito anos, o PT dizia que o Acre era palco de uma luta do bem contra o mal, este simbolizado por Cameli e Ronivon. Como dizia Jorge Viana à época: "São grupelhos que se organizaram e atuam como bandos. Tudo coordenado por um governador [Cameli] que não tem currículo, mas folha corrida".

A "folha corrida" de Cameli incluía, além dos muitos CPFs, acusações de desvio de recursos, a apreensão de um Boeing de sua família com contrabando e a intermediação da compra de deputados para aprovar a reeleição no Congresso.

O bem, no maniqueísmo vigente, era representado pelos "meninos do PT" --Jorge, o senador Tião Viana e a ministra Marina Silva (Meio Ambiente). Hoje quarentões e grisalhos, assumem o pragmatismo.

"Um governo que é aprovado por 70% não pode ficar chutando pessoas que queiram apoiar nosso projeto.[...] Qualquer apoio estamos aceitando com gosto", diz Viana, 46. Mas não haverá concessão, nem há compromisso com a partilha do governo, promete. "Nosso projeto não mudou um milímetro".

Os petistas agora tentam caracterizar Ronivon como uma figura secundária. "O PP não está preso a ele. O Ronivon não negociou acordo nenhum", afirma o governador.

Na verdade, o ex-deputado continua apitando no partido. Seu irmão Carlinhos Santiago preside o diretório estadual do PP. Segundo ele, Ronivon --que, depois da prisão, tem se mantido nas sombras e não atendeu à Folha-- teve "participação ativa" na aliança.

Cameli, embora formalmente afastado do PP e há oito anos sem mandato, mantém-se influente na política acreana. Sua base é o vale do Juruá, de 120 mil habitantes, na fronteira com o Peru, que sempre foi reduto anti-petista.

"O Cameli é uma liderança inquestionável, adorado na sua região. Existe uma diferença muito grande entre o que sai nos jornais e o que a população sente", diz Binho Marques, candidato do PT ao governo.

A aproximação de PT e PP veio aos poucos. Desde o início do ano, Cameli passou a receber uma romaria de petistas e antigos aliados. Vendiam a ele as vantagens da união. "A aliança abriu a perspectiva da volta dele à política", diz o deputado José Bestene (PP).

Em 26 de maio, após o ex-governador ter sido devidamente "amaciado" por meses, a cúpula do PT desembarcou em Cruzeiro do Sul para o lance final.

Do aeroporto, uma comitiva liderada por Binho e Tião foi ao escritório dele, no centro da cidade, buscar a bênção do "Barão do Juruá", como é conhecido. Os petistas pediram a Cameli que relevasse as rusgas em nome da união do Acre.

O "Barão" ensaiou suspense: queria antes garantias de que seu sobrinho e herdeiro político, Gladson Cameli (PP), seria um dos puxadores de voto da coligação para deputado federal. Trato feito, o anúncio do apoio do ex-governador veio no início de julho. Ele diz que apóia o PT por ter "a melhor proposta" para o Acre.

O PT calcula que o ganho por ter fincado bandeira no Juruá compensa o desgaste. É um risco, pois o principal oposicionista, Márcio Bittar (PPS), não se cansa de apontar "incoerência". "Estamos recebendo o apoio de pessoas que nunca gostaram de nosso projeto, mas reconhecem que o Acre mudou", diz Jorge Viana.

Os erros dos ex-adversários não sumiram, afirma o governador. "Quem destruiu o Acre tem que acertar as contas com a Justiça. Mas, se querem votar no PT, vamos impedir?".

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