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17/09/2006 - 09h14

Em campanha rica e reservada, Palocci banca dobradinhas

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MALU DELGADO
da Folha de S.Paulo

A fama de ex-ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva e seu temperamento afável tem rendido a Antonio Palocci receptividade eleitoral no Estado de São Paulo em dois segmentos: nas classes populares, pela baixa inflação do período, e em importantes setores empresariais.

Mas é o trânsito de Palocci na cúpula da economia que lhe garante uma das maiores arrecadações declaradas à Justiça Eleitoral (R$ 667,5 mil até o início de setembro) e fôlego para fazer uma campanha com poderes inigualáveis às de outros petistas no Estado.

Afastado do governo Lula por seu suposto envolvimento na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, Palocci deve se eleger deputado federal (isso, no PT, é fato consumado) e voltar à Câmara com foro privilegiado. Ele foi indiciado pela Polícia Federal.

Eleito, será importante aliado de Lula num segundo mandato para manter certa ortodoxia na política econômica. Não por acaso a eleição de Palocci incomoda setores do PT.

A Folha passou uma semana tentando acompanhar atividades de Palocci e fazendo contatos com dirigentes petistas, candidatos, aliados e inimigos do ex-ministro. A agenda da campanha é oculta. Descobre-se por onde Palocci passou algum tempo depois. Os correligionários estimam, sob reserva, que Palocci faça dobradas (campanha em conjunto) com cerca de 100 candidatos a deputado estadual. Normalmente, banca todos os custos.

Um candidato disse à Folha que o custo de uma campanha expressiva beira R$ 1 milhão.

Disponibiliza pessoal para trabalhar nas campanhas, kombis, peruas, materiais. Tem contratos de telemarketing, comitês espalhados em regiões diferentes do Estado, e "profissionais especializados" atuando na campanha --prefeitos e vereadores. Na capital, o seu comitê fica num bairro nobre, Jardim Paulistano. A estimativa de mercado para o aluguel do imóvel é R$ 20 mil.

Palocci não sai pelas ruas. Faz reuniões reservadas, conversa com empresários, prefeitos e grupos de militantes. Ele, que tradicionalmente tinha seu reduto eleitoral em Ribeirão Preto, expandiu os horizontes. Faz campanha no ABC Paulista, Sorocaba, Campinas, Alto Tietê, na capital e na Grande São Paulo. "Tem material dele no interior todo", revela um petista impressionado.

Grupo de Marta

Na capital e Grande SP, conta com o apoio de políticos ligados à ex-prefeita Marta Suplicy. Sob a condição de ter a identidade preservada, um candidato a deputado estadual revelou como foi sondado pelos aliados de Palocci. Um dos interlocutores é Branislav Kontic, ex-secretário de Marta e ex-secretário de Desenvolvimento Urbano de Guarulhos. Ele ofereceu ao candidato uma dobrada arcando com todos os custos: contratação de pessoas, impressão de material e toda a propaganda visual. Kontic foi procurado pela Folha, mas não localizado.

Uma parceria que chama a atenção com Palocci na capital é a do deputado Adriano Diogo, ex-secretário de Marta. Procurado, a assessoria dele disse que ele faz dobrada com vários candidatos e que Palocci arca com metade dos custos.

Além da nova atuação na capital, Palocci dedica atenção especial ao ABC. Há semanas, segundo relatos de candidatos, esteve em Diadema. Participou de uma reunião na Papaiz. Circulou em outras duas empresas. Uma delas é a Paranoá. Numa fábrica de autopeças, um empresário defendeu Palocci.

Na última quinta-feira, a Folha presenciou panfletagem da campanha de Palocci na porta da Mercedes Benz, em São Bernardo do Campo. Uma kombi chegou ao local. Os panfletos pediam votos em Palocci e Mário Reali, para deputado estadual. O coordenador da campanha no ABC, Carlos Augusto César, o Cafu, disse à Folha que Palocci tem sete dobradas na região. Diretor do Sindicato dos Químicos do ABC, Cafu diz que não recebe salário da campanha. Atua como militante.

Contraste

O deputado federal Luciano Zica (PT-SP), candidato à reeleição, é um dos poucos que falam abertamente sobre o contraste financeiro das campanhas no PT. Zica disse que não fez crítica à campanha de Antonio Palocci, mas apenas uma constatação. E garante que torce para que o colega seja eleito. "Há candidatos com uma super estrutura e outros com dificuldades de fazer campanha." Zica é bem votado em Campinas, reduto onde Palocci tenta avançar.

Agenda pessoal

O ex-ministro Antonio Palocci foi procurado pela Folha por intermédio de sua assessoria de imprensa. Foi enviado um questionário ao ex-ministro com perguntas sobre a rotina de campanha, as denúncias de colegas sobre abuso do poder econômico e sobre o indiciamento dele pela Polícia Federal. A Folha solicitou ainda a agenda do ex-ministro, para acompanhar sua campanha.

Segundo a assessoria, Palocci tinha uma "agenda muito concentrada, no interior de São Paulo", na semana passada. Em relação à decisão de não divulgar a agenda, informou que esse é o perfil do ex-ministro.

Sobre as dobradas, a assessoria informou que "Antonio Palocci tem de 8 a 10 dobradas mais fortes, como a com Beto Cangussu (Ribeirão Preto), João Paulo Rillo (São José do Rio Preto) e Edna Martins (Araraquara)". No interior, Palocci faz dobradas com 15 a 20 candidatos.

A assessoria explica que Palocci concilia a campanha com uma agenda pessoal, de palestras a economistas. Sobre doadores, a assessoria disse que as informações estão disponibilizadas no Tribunal Regional Eleitoral.

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