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29/04/2007 - 10h14

Dom Odilo em São Paulo embaralha eleição na CNBB

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RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo

Dom Odilo Scherer, que toma posse hoje como arcebispo de São Paulo, é o "candidato" novo que embaralhou a eleição para a presidência da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

A entidade se reúne a partir de terça em Indaiatuba (SP), na sua 45ª Assembléia Geral, para escolher os novos mandatários de seus cargos de direção --presidente, vice e secretário-geral. A cada quatro anos, os cerca de 300 bispos brasileiros decidem pelo voto a face política do catolicismo no Brasil.

Alan Marques/Folha Imagem
Dom Odilo Scherer foi nomeado arcebispo de São Paulo no lugar de d. Claudio Hummes
Dom Odilo Scherer foi nomeado arcebispo de São Paulo no lugar de d. Claudio Hummes
Até o anúncio da escolha de d. Odilo para comandar a terceira maior arquidiocese do mundo, as cartas dessa disputa pareciam marcadas.

Bispos, desde os tidos como mais "conservadores" --que criticam o uso de instrumental sociológico para a compreensão da igreja-- até os mais "progressistas"' --ou seja, aqueles que dão ênfase à missão política e social do catolicismo--, davam como certa a escolha de d. Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Vitória da Conquista (BA), para presidir a CNBB.

Ele ainda é considerado favorito, de toda forma.

Sua "candidatura" fora lançada há mais de um ano e não havia concorrentes que se apresentassem com chance de vitória. Moderado, conciliador, era um nome de consenso. Embora não haja campanha oficial, é costume que os bispos conversem e façam acertos políticos antes das eleições.

Por decisão de Roma, bispos-auxiliares, cargo ocupado por d. Odilo até sua nomeação para a Arquidiocese de São Paulo, não podem presidir conferências episcopais. Com sua nomeação pelo Vaticano, ele entrou na disputa.

"Homem do Vaticano"

Questionados sobre as chances de d. Odilo, leigos e religiosos ligados à CNBB dizem que a pergunta certa a ser feita não é se o novo arcebispo tem força suficiente para fazê-lo, mas sim se Roma tem essa capacidade.

Segundo pessoas ligadas especialmente às alas mais "sociais" da igreja --tradicionalmente identificadas com a "opção preferencial pelos pobres"--, d. Odilo é o "homem do Vaticano" nessa disputa. O bispo gaúcho havia sido escolhido secretário-geral da entidade, em 2003, após um longo período em Roma como oficial da Congregação para os Bispos (isso entre 1994 e 2001).

Outros bispos apontam a "candidatura" como um projeto de d. Odilo, ainda que apoiada por seu antecessor d. Cláudio Hummes. A Folha procurou d. Odilo, mas ele não quis se pronunciar sobre o assunto.

Durante os anos 70 e 80 --e, com menor intensidade, na década passada--, a CNBB foi marcada por uma relativa independência em relação a Roma. As preocupações e indicações do papa eram observadas e seguidas, por óbvio, mas a conferência sempre buscou um espaço de autonomia para deliberar e agir politicamente a respeito de problemas que considerava da "realidade local".

Bispos e leigos defensores dessa linha temem que a entidade perca esse caráter, em alguma medida, sob o comando do arcebispo de São Paulo.

Como secretário-geral, d. Odilo foi o rosto e a voz da CNBB nos últimos quatro anos. Isso se deve em parte à função executiva de seu cargo mas também à sua personalidade. Se eleito presidente da conferência, há quem diga que ele possa continuar sendo a pessoa mais identificada com a entidade, dividindo espaço com o futuro secretário-geral --e diminuindo a importância da disputa por esse cargo.

As razões para o favoritismo de d. Geraldo na disputa pela presidência são de ordem pessoal e têm a ver com o estilo dos dois. O arcebispo de Vitória da Conquista é descrito como um homem prudente, com sensibilidade pastoral e que evita conflitos --no que, de resto, se assemelha bastante ao atual presidente, d. Geraldo Majella.

D. Odilo, ao contrário, tem um estilo mais duro, centralizador e conflitivo, o que lhe cria desafetos tanto entre os "progressistas" quanto entre os "conservadores". Muitos bispos temem, finalmente, pelo excesso de poder concentrado nas mãos de um único representante --que acumularia, se eleito, o comando da maior arquidiocese do país e representação política de todo o episcopado brasileiro.

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