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13/05/2007 - 08h46

Igrejas do papa e da América Latina se opõem em encontro

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RAFAEL CARIELLO
da Folha de S.Paulo

Quando Bento 16 fizer hoje, em Aparecida (SP), o discurso de abertura da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, os bispos da região passarão a travar uma disputa política entre um modelo de igreja mais próximo do pensamento do papa e outro, de tradição latino-americana.

O que está em jogo é se a Igreja Católica da região continuará dando centralidade a temas políticos e sociais --intervindo no debate público em defesa principalmente de minorias-- ou se penderá a ênfase dos discursos para a luta por valores mais centrados na conduta ética de cada indivíduo, em temas como aborto, família e limites morais para a pesquisa científica.

A resposta virá de um documento final, a ser apresentado ao papa e depois ao mundo, elaborado em comissões e votações pelos bispos delegados de todas as conferências episcopais da região. A conferência de Aparecida vai até o dia 31 e reúne 266 pessoas --a maioria bispos, além de padres e leigos.

A "pauta" do papa e aliados foi claramente estabelecida no discurso de Bento 16 à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil anteontem. Ele disse que problemas sociais e políticos devem se subordinar à vocação primordial da igreja: o anúncio da verdade da fé em Cristo. "Esta é a finalidade, e não outra, a finalidade da igreja, a salvação das almas, uma a uma."

Nesse mesmo discurso, criticou mais uma vez o aborto, a "ferida do divórcio" e as uniões livres. Após três dias de visita, era impossível que alguém ainda não tivesse entendido suas prioridades "apostólicas".

"Nesse discurso, ele colocou a agenda do que para ele é essencial. Com certeza será a agenda do que virá a ser discutido em Aparecida", afirma d. Filippo Santoro, bispo de Petrópolis. "O ponto-chave do discurso foi definir bem qual é a missão do bispo: o essencial é pregar a verdade da fé. Se o papa insiste nisso, quer dizer que nem sempre foi assim."

Pobres

O problema é que boa parte da igreja da América Latina acredita que "pregar a verdade da fé" é fazer uma "opção preferencial pelos pobres". "Só a igreja pode dar resposta à grande exclusão de nossas sociedades. Ou ela se alia aos pobres, ou eles não terão aliados", diz Carlos Signorelli, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil e indicado pela CNBB a participar da quinta conferência, sem direito a voto.

Ele diz que a opção preferencial pelos pobres, a ênfase no trabalho dos leigos e o método típico da Teologia da Libertação ("ver, julgar e agir", ou seja, partir da realidade para tirar conclusões) estão contemplados no documento-síntese elaborado para o trabalho dos bispos em Aparecida, mas não com a força do compromisso que muitos desejariam.

Segundo Signorelli, "desde Puebla", onde ocorreu a terceira conferência episcopal, em 1978, "há uma disputa de modelo de igreja na América Latina". Um dos lados aposta no compromisso com os mais pobres; outro critica o uso de métodos sociológicos para a compreensão da igreja e aposta na evangelização da classe média.

O confronto de idéias, nas próximas semanas, não ocorrerá apenas nas salas fechadas em que os bispos se reunirão. É nisso que a ala comprometida com a ação social aposta.

"Nas outras conferências, até os momentos de celebração eram exclusivos dos integrantes", diz o padre José Oscar Beozzo. "Nessa, as missas diárias serão na basílica, e o povo pode participar." E pressionar.

Beozzo participou, ao lado de líderes de setores da igreja como as pastorais Operária, Carcerária e de Moradia, da montagem de um "fórum de participação", que terá uma tenda em Aparecida. Eles planejam atos, como uma romaria na madrugada do dia 19 para o 20, entre Roseiras e Aparecida (distância de 10 km). A idéia é que haja maior "interação" entre o "povo" e os bispos, explica o padre.

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