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24/10/2000 - 13h02

Konder lembra prisão e fala do lado humano de Herzog

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LEONARDO FUHRMANN
da Folha Online

O secretário municipal de Cultura de São Paulo, Rodolfo Konder, disse que a prisão e morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependência do Doi Codi foi parte de uma reação de militares de "linha-dura" ao processo de abertura política proposto pelo general Ernesto Geisel, que dirigia o país na época.

"O núcleo do 2º Exército para manter seus privilégios foi para cima do Partidão (PCB) com os mesmos métodos que usava contra as organizações de esquerda que usavam a violência. Nós, no entanto, não pregávamos nem usávamos tais métodos. Éramos mais moderados", disse.

Konder fazia parte do mesmo grupo que Herzog e eles estiveram preso juntos nas dependência do prédio da rua Tutóia, no Paraíso, zona sudoeste da cidade, com outros jornalistas.

Segundo Konder, o jornalista Paulo Markun, que também fazia parte do grupo, avisou Herzog durante uma recepção no Consulado da Inglaterra sobre o risco de prisão dos integrantes do PCB. "Estava no exterior e eles não tiveram como me avisar, na manhã seguinte cheguei e fui preso", lembra o secretário.

No dia seguinte a sua prisão, Konder viu Herzog chegando preso. "Ele havia negociado para se entregar depois do trabalho e chegou lá por sua própria conta. Estávamos todos encapuzados e o reconheci pelos pés."

Ele lembra de ouvir o colega ser torturado. "Ouvíamos os gritos de dor e o som de um rádio que tentava abafar aquele barulho. Ele foi torturado no térreo do prédio. Eu havia sido levado ao 1º andar quando fui torturado"

Durante o depoimento de Herzog, Konder chegou a ser chamado na sala para que ajudasse a identificar outro membro do PCB. "Demos o nome de um que já estava preso. Antes de sair, ainda coloquei a mão no ombro dele, como uma maneira de dar-lhe coragem."

Minutos depois, Konder conta que foram todos levados para o 1º andar do prédio, sob o pretexto de reconhecer uma foto. "Eles inventaram essa história para poder retirar o corpo de Herzog sem que percebêssemos o que estava acontecendo."

No dia seguinte, os demais presos foram avisados da morte de Herzog. "Os militares nos disseram que ele era da KGB (serviço secreto soviético) e se suicidou na cela. Falaram que a KGB estava no próprio governo e que eles iam acabar com todos os espiões. Foi quando percebi a divergência entre Geisel e o general Ednardo D'Ávila, que seria afastado depois da morte do operário Manuel Fiel Filho."

Konder disse que Herzog foi morto depois de ter rasgado uma confissão que teria assinado. "Ele era muito ético e não iria entregar ninguém. Eles devem ter se irritado e batido nele com mais violência que o habitual. O laudo confirma que ele morreu ao bater a cabeça na beira da janela."

Criativo e generoso

Herzog e Konder se conheceram na revista Visão, na época dirigida por Antônio Marcos Pimenta Neves. O jornalista assassinado era editor de cultura e o atual secretário da Cultura, editor de internacional.

"Tínhamos afinidades políticas e conversávamos muito. Quando ele deixou a revista para dirigir o jornalismo da TV Cultura, mantivemos o contato. O mais irônico é que ele foi acusado de ser agente da KGB e era anti-soviético. Pregávamos um socialismo democrático como o do Partido Comunista Italiano."

Ele destaca a perda humana de Herzog. "Vlado era um sujeito criativo, generoso e bondoso, sem qualquer compromisso com o sectarismo. Era culto, adorava cinema e gostava muito de falar de seus sonhos."

Outra característica de Herzog citada por Konder é a qualidade profissional. "Ele era um perfeccionista e exigia a máxima qualidade nos textos e nas matérias."

"Herzog era querido de todos na redação. Era generoso e de boa índole. Sempre que saía voltava com chocolate para as secretárias e outras gentilezas. Não tinha o menor apego por dinheiro e fazia questão de pagar a conta sempre que saiamos", declara Konder.

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