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26/10/2000
-
03h46
ELIANE CANTANHÊDE, da Folha de S.Paulo
Metade da frota da Força Aérea Brasileira está impedida de voar por falta de peças, equipamentos e manutenção em geral, segundo o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista.
"É como se, das nossas 750 aeronaves, 350 estivessem indisponíveis por falta de suprimento", disse ele, durante almoço com oficiais-generais e jornalistas, no prédio da Aeronáutica. Oficialmente, a FAB tem 754 aviões.
O brigadeiro citou de cabeça as verbas pedidas e não liberadas para a Força, dizendo que o mais preocupante é a defasagem de recursos para "suprimento", que significa justamente peças e equipamentos de reposição.
Como comparação, disse que os países desenvolvidos têm mais de 80% de peças e equipamentos "em prateleira", ou seja, em estoque, prontos para serem usados. Esse percentual é de 65% a 70% nos países equivalentes ao Brasil e de apenas 50% no próprio Brasil. "É o sinal vermelho", disse.
Fez também uma outra comparação, esta com a iniciativa privada: "Se uma companhia aérea precisa de uma peça de reposição, ou tem na prateleira ou manda buscar em questão de dias, até de horas, de qualquer lugar do mundo. Se nós precisamos, temos que fazer licitação e podemos esperar até dois anos".
Segundo o brigadeiro, só R$ 100 milhões foram liberados dos R$ 220 milhões orçados para suprimento da FAB este ano e R$ 60 milhões dos R$ 130 milhões do Sivam (o sistema de proteção da Amazônia), além dos R$ 162 milhões liberados por medida provisória para o sistema de proteção ao vôo.
A cota de liberação anual do plano de recuperação da FAB (total de US$ 2,9 bilhões em sete anos) previa originalmente R$ 763 milhões para 2001. Só foram incluídos, entretanto, R$ 400 milhões no Orçamento e mais R$ 263 milhões como crédito suplementar.
O comandante afirmou que o corte de R$ 100 milhões vai significar o atraso de um ano no projeto de substituição dos velhos Buffalo (aviões canadenses de transporte) e dos Mirage (caças franceses) por novas frotas.
Apesar dos cortes e da falta de verbas, o comandante falou reiteradamente que "entende perfeitamente" a situação econômica e a dificuldade do governo para fechar as contas, tentando sempre defender o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O presidente, o ministro Malan (Pedro Malan, da Fazenda) e o ministro Quintão (Geraldo Quintão, da Defesa) têm muita sensibilidade para o problema", disse o comandante.
Salários
Segundo Carlos Baptista, os militares estão "muito animados e esperançosos" diante da perspectiva de aumento dos seus soldos, ainda não garantido oficialmente.
Ele usou a mesma expressão -"sensibilidade"- e os mesmos personagens -FHC, Malan e Quintão- para dizer que o governo "tem todo o interesse" de resolver o problema dos soldos, um dos problemas que mais afligem as
Forças Armadas hoje.
O comandante reconheceu que o Congresso tem de fato muito pouco tempo, até o início do recesso de dezembro, para mexer no Orçamento de 2001 e incluir o reajuste dos militares.
Acrescentou, porém, que, "quando quer, o Congresso aprova tudo muito rapidamente".
Ele disse que "não há tensão" na FAB em função de soldos e explicou sua afirmativa com a psicologia militar: "Desde muito cedo, sentamos nos bancos das escolas aprendendo valores como união e disciplina. E sabemos como eles são importantes para a paz social".
Os reajustes reivindicados são de cerca de 30% em média, variando de acordo com patentes e funções, por exemplo.
Na opinião do brigadeiro, os maiores aumentos deveriam ser do oficialato, das mais altas patentes.
Ele explicou: "O Brasil é um dos países com menor diferença entre os pisos e os maiores salários nas Forças Armadas". Segundo ele, o maior salário é apenas sete vezes maior que o menor.
O comandante disse que o projeto da Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) engloba a Infraero (a empresa que cuida dos aeroportos) e deverá englobar também o DAC (Departamento de Aviação Civil). Ambos são da Aeronáutica, mas o brigadeiro acha que "a Anac é o próprio DAC".
Depois do almoço, ele comentou que a implantação do Sivam é coordenada pela Aeronáutica, mas o projeto deverá passar a setores civis em "dez, quinze anos".
Clique aqui para ler mais sobre política na Folha Online.
Metade dos aviões da FAB não voa por falta de peças
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Metade da frota da Força Aérea Brasileira está impedida de voar por falta de peças, equipamentos e manutenção em geral, segundo o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista.
"É como se, das nossas 750 aeronaves, 350 estivessem indisponíveis por falta de suprimento", disse ele, durante almoço com oficiais-generais e jornalistas, no prédio da Aeronáutica. Oficialmente, a FAB tem 754 aviões.
O brigadeiro citou de cabeça as verbas pedidas e não liberadas para a Força, dizendo que o mais preocupante é a defasagem de recursos para "suprimento", que significa justamente peças e equipamentos de reposição.
Como comparação, disse que os países desenvolvidos têm mais de 80% de peças e equipamentos "em prateleira", ou seja, em estoque, prontos para serem usados. Esse percentual é de 65% a 70% nos países equivalentes ao Brasil e de apenas 50% no próprio Brasil. "É o sinal vermelho", disse.
Fez também uma outra comparação, esta com a iniciativa privada: "Se uma companhia aérea precisa de uma peça de reposição, ou tem na prateleira ou manda buscar em questão de dias, até de horas, de qualquer lugar do mundo. Se nós precisamos, temos que fazer licitação e podemos esperar até dois anos".
Segundo o brigadeiro, só R$ 100 milhões foram liberados dos R$ 220 milhões orçados para suprimento da FAB este ano e R$ 60 milhões dos R$ 130 milhões do Sivam (o sistema de proteção da Amazônia), além dos R$ 162 milhões liberados por medida provisória para o sistema de proteção ao vôo.
A cota de liberação anual do plano de recuperação da FAB (total de US$ 2,9 bilhões em sete anos) previa originalmente R$ 763 milhões para 2001. Só foram incluídos, entretanto, R$ 400 milhões no Orçamento e mais R$ 263 milhões como crédito suplementar.
O comandante afirmou que o corte de R$ 100 milhões vai significar o atraso de um ano no projeto de substituição dos velhos Buffalo (aviões canadenses de transporte) e dos Mirage (caças franceses) por novas frotas.
Apesar dos cortes e da falta de verbas, o comandante falou reiteradamente que "entende perfeitamente" a situação econômica e a dificuldade do governo para fechar as contas, tentando sempre defender o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"O presidente, o ministro Malan (Pedro Malan, da Fazenda) e o ministro Quintão (Geraldo Quintão, da Defesa) têm muita sensibilidade para o problema", disse o comandante.
Salários
Segundo Carlos Baptista, os militares estão "muito animados e esperançosos" diante da perspectiva de aumento dos seus soldos, ainda não garantido oficialmente.
Ele usou a mesma expressão -"sensibilidade"- e os mesmos personagens -FHC, Malan e Quintão- para dizer que o governo "tem todo o interesse" de resolver o problema dos soldos, um dos problemas que mais afligem as
Forças Armadas hoje.
O comandante reconheceu que o Congresso tem de fato muito pouco tempo, até o início do recesso de dezembro, para mexer no Orçamento de 2001 e incluir o reajuste dos militares.
Acrescentou, porém, que, "quando quer, o Congresso aprova tudo muito rapidamente".
Ele disse que "não há tensão" na FAB em função de soldos e explicou sua afirmativa com a psicologia militar: "Desde muito cedo, sentamos nos bancos das escolas aprendendo valores como união e disciplina. E sabemos como eles são importantes para a paz social".
Os reajustes reivindicados são de cerca de 30% em média, variando de acordo com patentes e funções, por exemplo.
Na opinião do brigadeiro, os maiores aumentos deveriam ser do oficialato, das mais altas patentes.
Ele explicou: "O Brasil é um dos países com menor diferença entre os pisos e os maiores salários nas Forças Armadas". Segundo ele, o maior salário é apenas sete vezes maior que o menor.
O comandante disse que o projeto da Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) engloba a Infraero (a empresa que cuida dos aeroportos) e deverá englobar também o DAC (Departamento de Aviação Civil). Ambos são da Aeronáutica, mas o brigadeiro acha que "a Anac é o próprio DAC".
Depois do almoço, ele comentou que a implantação do Sivam é coordenada pela Aeronáutica, mas o projeto deverá passar a setores civis em "dez, quinze anos".
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