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03/10/2003 - 09h12

Lei de Murphy leva IgNobel de engenharia

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CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo, em Cambridge (EUA)

A história finalmente fez justiça a um princípio universal da engenharia: a Lei de Murphy, segundo a qual "se algo puder dar errado, dará", recebeu ontem o IgNobel, o "Nobel" da ciência inútil, concedido anualmente a pesquisas que "não poderiam ou não deveriam ser reproduzidas".

Além da Lei de Murphy, a 13ª edição do IgNobel premiou pesquisas relacionadas à capacidade cerebral dos taxistas londrinos (Medicina), às forças necessárias para arrastar ovelhas (Física) e a uma investigação sobre uma estátua de bronze na cidade japonesa de Kanazawa incapaz de atrair pombos (Química).

O laurel da Paz ficou com um indiano dado oficialmente como morto pelo governo, que tem batalhado para provar que não morreu. Até o fechamento da edição, não se sabia se o premiado, Lal Bihari, conseguiria autorização para deixar o país e comparecer à cerimônia de entrega do IgNobel, em Cambridge, EUA.

Criado pela revista de humor "AIR", abreviação em inglês de "anais da pesquisa improvável" (www.improbable.com), como uma paródia da ciência "séria" (segundo seus criadores, "séria demais para não rirmos dela"), o IgNobel virou "cult".

Glamour cômico

A cerimônia de entrega lota o imponente Teatro Sanders, da Universidade Harvard. Os premiados hoje em dia estampam as pesquisas vencedoras do Ig em seus currículos e páginas na internet. É o caso de sir Michael Berry, da Universidade de Bristol, Reino Unido, que ganhou o de Física em 2000 por usar ímãs para levitar um sapo e um lutador de sumô.

"Eu o receberia com um sorriso --dependendo da razão da minha premiação", disse à Folha Wolfgang Ketterle, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Nobel de Física de 2001. Ele é um dos Prêmios Nobel de verdade que entregaram o troféu de araque a vencedores.

Neste ano, além dele, os mestres de cerimônia foram Richard Roberts (Fisiologia ou Medicina, 1993), além de William Lipscomb (Química, 1976) e Dudley Herschbach (Química, 1986), que comparecem todo ano. Roberts, aliás, seria a "prenda" do concurso Ganhe um Encontro com um Nobel, na cerimônia de ontem.

Segundo o editor da "AIR" e fundador do IgNobel, o químico Marc Abrahams, o prêmio foi concebido para fazer as pessoas rirem, primeiro. E pensarem, depois. Mas ele ressalta que nem toda Ig-ciência é ruim. "E nem sempre é boa. E nem sempre é ciência", afirmou à Folha.

A pesquisa que levou o IgNobel de Medicina deste ano, por exemplo, foi publicada na revista "PNAS", da Academia Nacional de Ciências dos EUA, um dos principais periódicos científicos do mundo, sob o título de "Mudança Estrutural Relacionada à Navegação nos Hipocampos dos Taxistas de Londres".

O experimento comparou imagens do hipocampo (estrutura do cérebro relacionada a aprendizado e memória) de taxistas e pessoas comuns. Os cientistas descobriram que o processamento de informações relacionadas à orientação aumentava a eficiência do hipocampo dos motoristas.

Murphy explica

A Lei de Murphy, considerada por muitos uma espécie de lenda urbana, na verdade tem uma história. E, sim, ela começou com alguém chamado Murphy. Esse alguém é Edward Murphy, coronel da Força Aérea dos EUA, que enunciou seu princípio em 1949 na base aérea Edwards --de onde sairiam os primeiros astronautas do programa espacial americano.

Murphy havia sido enviado para Edwards para testar um aparelho apelidado Gee Whiz, destinado a descobrir qual era o impacto (medido em Gs, ou unidades de força da gravidade) que um piloto podia aguentar. O projeto fora criado por John Paul Stapp, médico e filho de missionários batistas que havia passado a infância no Brasil (sim, no Brasil).

Stapp não tinha um dispositivo eficiente para medir os Gs da desaceleração produzida pelo aparelho. No primeiro teste conduzido com os medidores concebidos por Murphy, os medidores falharam --eles haviam sido conectados ao contrário. O coronel resolveu botar a culpa em seus subordinados: "Se houver um jeito de fazer a coisa errada, eles fazem". A frase foi apresentada por Stapp como a Lei de Muprhy numa entrevista coletiva. E pegou.

Segundo Nick Spark, historiador da Lei de Murphy que recebeu o IgNobel representando a viúva de Stapp (o filho de Murphy, Edward, representou o coronel), os resultados do Gee Whiz acabaram mudando o design das aeronaves militares. E Stapp conseguiu convencer o governo americano a aprovar uma lei determinando que os cintos de segurança dos aviões fossem também obrigatórios nos automóveis. Ciência nem tão inútil assim.
 

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