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12/10/2003
-
08h00
ARMANDO PEREIRA FILHO
Editor-assistente de Veículos e Construção da Folha de S.Paulo
Especialistas em recursos hídricos com diferentes formações são unânimes: antes de buscar mais água em outros lugares, São Paulo deveria gastar melhor a que já tem. Só que, para isso, as campanhas de educação pela mídia não são suficientes.
Mudar o comportamento das pessoas e fazê-las consumir menos água exige o mesmo esforço que convencê-las a alterar hábitos sexuais para prevenir a Aids.
A analogia é feita pela psicóloga social Nancy Cardia, 55, estudiosa de conflitos de cooperação e de campanhas sobre água.
"Na literatura sobre o assunto, tem-se usado essa comparação. A redução do desperdício é tão difícil quanto a prevenção de Aids. Ambas dependem de mudança de comportamento e de manutenção dessa mudança ao longo do tempo. É complicado."
Para Ricardo Toledo Silva, 52, professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) e autor de documentos do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água, "havia uma idéia generalizada de que bandeiras ambientais teriam o poder de motivar atitudes altruísticas da população. No entanto, a realidade não é bem essa. Passado o efeito emocional de algumas campanhas em situações agudas, o comportamento volta a ser predatório".
A solução seria misturar campanhas com estímulos concretos que induzam a uma redução sem depender só dos hábitos dos consumidores. Isso se consegue com a instalação de equipamentos de uso diário, como vasos sanitários e chuveiros, mais econômicos.
Jaildo Santos Pereira, 35, doutor em gestão de recursos hídricos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirma que é preciso mudar o foco.
"Vem de muito tempo a lógica de gestão da oferta. Se a disponibilidade não é mais suficiente, construímos outro reservatório e vamos buscar água cada vez mais longe. Isso não é sustentável. É preciso incorporar a gestão da demanda, que visa usar de forma mais eficiente a água."
Um indutor poderoso seria uma legislação que obrigasse prédios novos a ter equipamentos econômicos. "Deveria ser exigido de todos os grandes empreendimentos um uso ótimo da água", diz Cardia.
"Em outros países, como EUA, Canadá e Inglaterra, há uma legislação pesada no sentido de usar equipamentos econômicos", completa Silva. Para troca de equipamentos em prédios velhos, poderia haver incentivos. Cardia propõe redução de ICMS.
Segundo o pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Douglas Barreto, 44, especialista em instalações prediais e economia de água, trocar a bacia sanitária e pôr um redutor de vazão no chuveiro reduz o consumo em 15% a 20%.
Também é importante detectar vazamentos dentro da própria casa. Conforme a experiência de Barreto, isso proporciona até 20% de economia.
Usar mais de uma vez a mesma água é outra possibilidade de economizar.
Pedro Mancuso, 62, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e especialista em reúso de água, defende a alternativa. Uma indústria pode usar água não-potável para resfriar equipamentos, por exemplo.
"Economizar é difícil como prevenir Aids"
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Editor-assistente de Veículos e Construção da Folha de S.Paulo
Especialistas em recursos hídricos com diferentes formações são unânimes: antes de buscar mais água em outros lugares, São Paulo deveria gastar melhor a que já tem. Só que, para isso, as campanhas de educação pela mídia não são suficientes.
Mudar o comportamento das pessoas e fazê-las consumir menos água exige o mesmo esforço que convencê-las a alterar hábitos sexuais para prevenir a Aids.
A analogia é feita pela psicóloga social Nancy Cardia, 55, estudiosa de conflitos de cooperação e de campanhas sobre água.
"Na literatura sobre o assunto, tem-se usado essa comparação. A redução do desperdício é tão difícil quanto a prevenção de Aids. Ambas dependem de mudança de comportamento e de manutenção dessa mudança ao longo do tempo. É complicado."
Para Ricardo Toledo Silva, 52, professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) e autor de documentos do Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água, "havia uma idéia generalizada de que bandeiras ambientais teriam o poder de motivar atitudes altruísticas da população. No entanto, a realidade não é bem essa. Passado o efeito emocional de algumas campanhas em situações agudas, o comportamento volta a ser predatório".
A solução seria misturar campanhas com estímulos concretos que induzam a uma redução sem depender só dos hábitos dos consumidores. Isso se consegue com a instalação de equipamentos de uso diário, como vasos sanitários e chuveiros, mais econômicos.
Jaildo Santos Pereira, 35, doutor em gestão de recursos hídricos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirma que é preciso mudar o foco.
"Vem de muito tempo a lógica de gestão da oferta. Se a disponibilidade não é mais suficiente, construímos outro reservatório e vamos buscar água cada vez mais longe. Isso não é sustentável. É preciso incorporar a gestão da demanda, que visa usar de forma mais eficiente a água."
Um indutor poderoso seria uma legislação que obrigasse prédios novos a ter equipamentos econômicos. "Deveria ser exigido de todos os grandes empreendimentos um uso ótimo da água", diz Cardia.
"Em outros países, como EUA, Canadá e Inglaterra, há uma legislação pesada no sentido de usar equipamentos econômicos", completa Silva. Para troca de equipamentos em prédios velhos, poderia haver incentivos. Cardia propõe redução de ICMS.
Segundo o pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Douglas Barreto, 44, especialista em instalações prediais e economia de água, trocar a bacia sanitária e pôr um redutor de vazão no chuveiro reduz o consumo em 15% a 20%.
Também é importante detectar vazamentos dentro da própria casa. Conforme a experiência de Barreto, isso proporciona até 20% de economia.
Usar mais de uma vez a mesma água é outra possibilidade de economizar.
Pedro Mancuso, 62, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e especialista em reúso de água, defende a alternativa. Uma indústria pode usar água não-potável para resfriar equipamentos, por exemplo.
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