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12/11/2003
-
06h07
REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo
Com a ajuda de apenas 22 "letras" químicas de DNA, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP conseguiram reduzir a quantidade de vasos sanguíneos que alimentavam um tipo de tumor de pele. A estratégia conseguiu matar de fome parte do câncer e pode se tornar, no futuro, uma arma contra a doença.
"O experimento não foi pensado para induzir uma morte generalizada no tecido tumoral, mas mesmo assim o resultado foi bem consistente. Por isso é que achamos o resultado promissor", afirma o médico Roger Chammas, 38, do Laboratório de Oncologia Experimental. Ainda há, no entanto, vários passos a percorrer em animais (como os camundongos com os quais foi feito esse primeiro teste) antes que o sistema possa ser usado em pessoas.
Os roedores foram tratados de um tumor enxertado de melanoma (uma forma de câncer de pele). O princípio explorado por Chammas, Martin Metzger e Estela Novak, com a ajuda de outros pesquisadores da USP e da Fundação Pró-Sangue de São Paulo, é um velho conhecido de todos os exércitos: nenhum inimigo resiste à falta de suprimentos.
Diferentemente de uma cidade sitiada, os tumores conseguem seu alimento --nutrientes de todos os tipos e oxigênio para sua respiração celular-- a partir dos vasos sanguíneos que os abastecem. Se o sangue não chegar até o foco de câncer, supõem os cientistas, ele inevitavelmente se rende.
Sósias genéticos
O problema, no entanto, é parar o fluxo de sangue em direção ao tumor. A equipe escolheu um engenhoso caminho genético.
Quando o tumor cresce, uma série de trechos de DNA são acionados para manter as linhas de suprimentos da célula funcionando, estimulando a criação de artérias novas e desobstruídas. Atrapalhar o funcionamento de um deles poderia pôr a rede abaixo.
Para conseguir isso, o truque foi inundar o tumor com sósias genéticos --a tal sequência de 22 "letras" de DNA. Essa pequena fita corresponde, na verdade, a um fator de transcrição, ou seja, um trecho de DNA que, ativado, faz um ou mais genes começarem a funcionar, como um interruptor.
Os sósias injetados nos tumores de 25 camundongos tinham a missão de substituir o fator Sp1, essencial para a criação e manutenção dos vasos sanguíneos.
A coisa funciona no melhor estilo "O Homem da Máscara de Ferro", filme no qual um sósia do rei da França (na verdade, seu irmão gêmeo) começa a dar ordens muito diferentes das que o verdadeiro monarca daria. As 22 "letras" de DNA passam a competir com o verdadeiro Sp1, e as proteínas do tumor que normalmente se ligariam a ele e o ativariam acabam, muitas vezes, caindo na esparrela. Assim, em vez de se ligar ao fator de transcrição verdadeiro, elas acabam inutilizadas, grudadas nas várias cópias do sósia.
Quando o tecido dos melanomas nos camundongos foi analisado, os pesquisadores verificaram que a estratégia reduziu a quantidade de vasos sanguíneos abastecendo os tumores para um terço do que haveria sem a presença do DNA-sósia. A área do tumor que acabou morta foi menor, cerca de 6% dele.
Mesmo assim, Chammas se mostra otimista: "Com a injeção, você está diluindo o efeito por todo o tumor. Podemos projetar estratégias que direcionem o DNA para cada célula tumoral", afirma o pesquisador da USP.
O trabalho está na edição deste mês da revista científica "Gene Therapy" (www.nature.com/gt) e foi financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
DNA-sósia corta suprimento de tumores
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da Folha de S.Paulo
Com a ajuda de apenas 22 "letras" químicas de DNA, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP conseguiram reduzir a quantidade de vasos sanguíneos que alimentavam um tipo de tumor de pele. A estratégia conseguiu matar de fome parte do câncer e pode se tornar, no futuro, uma arma contra a doença.
"O experimento não foi pensado para induzir uma morte generalizada no tecido tumoral, mas mesmo assim o resultado foi bem consistente. Por isso é que achamos o resultado promissor", afirma o médico Roger Chammas, 38, do Laboratório de Oncologia Experimental. Ainda há, no entanto, vários passos a percorrer em animais (como os camundongos com os quais foi feito esse primeiro teste) antes que o sistema possa ser usado em pessoas.
Os roedores foram tratados de um tumor enxertado de melanoma (uma forma de câncer de pele). O princípio explorado por Chammas, Martin Metzger e Estela Novak, com a ajuda de outros pesquisadores da USP e da Fundação Pró-Sangue de São Paulo, é um velho conhecido de todos os exércitos: nenhum inimigo resiste à falta de suprimentos.
Diferentemente de uma cidade sitiada, os tumores conseguem seu alimento --nutrientes de todos os tipos e oxigênio para sua respiração celular-- a partir dos vasos sanguíneos que os abastecem. Se o sangue não chegar até o foco de câncer, supõem os cientistas, ele inevitavelmente se rende.
Sósias genéticos
O problema, no entanto, é parar o fluxo de sangue em direção ao tumor. A equipe escolheu um engenhoso caminho genético.
Quando o tumor cresce, uma série de trechos de DNA são acionados para manter as linhas de suprimentos da célula funcionando, estimulando a criação de artérias novas e desobstruídas. Atrapalhar o funcionamento de um deles poderia pôr a rede abaixo.
Para conseguir isso, o truque foi inundar o tumor com sósias genéticos --a tal sequência de 22 "letras" de DNA. Essa pequena fita corresponde, na verdade, a um fator de transcrição, ou seja, um trecho de DNA que, ativado, faz um ou mais genes começarem a funcionar, como um interruptor.
Os sósias injetados nos tumores de 25 camundongos tinham a missão de substituir o fator Sp1, essencial para a criação e manutenção dos vasos sanguíneos.
A coisa funciona no melhor estilo "O Homem da Máscara de Ferro", filme no qual um sósia do rei da França (na verdade, seu irmão gêmeo) começa a dar ordens muito diferentes das que o verdadeiro monarca daria. As 22 "letras" de DNA passam a competir com o verdadeiro Sp1, e as proteínas do tumor que normalmente se ligariam a ele e o ativariam acabam, muitas vezes, caindo na esparrela. Assim, em vez de se ligar ao fator de transcrição verdadeiro, elas acabam inutilizadas, grudadas nas várias cópias do sósia.
Quando o tecido dos melanomas nos camundongos foi analisado, os pesquisadores verificaram que a estratégia reduziu a quantidade de vasos sanguíneos abastecendo os tumores para um terço do que haveria sem a presença do DNA-sósia. A área do tumor que acabou morta foi menor, cerca de 6% dele.
Mesmo assim, Chammas se mostra otimista: "Com a injeção, você está diluindo o efeito por todo o tumor. Podemos projetar estratégias que direcionem o DNA para cada célula tumoral", afirma o pesquisador da USP.
O trabalho está na edição deste mês da revista científica "Gene Therapy" (www.nature.com/gt) e foi financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
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