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13/11/2003 - 06h43

Gelo lunar é "fogo de palha", afirma estudo

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A esperança de encontrar depósitos de água congelada nos pólos lunares se esvaneceu em meio à poeira, hoje, por conta de uma pesquisa de cientistas nos EUA. Tomando observações radiotelescópicas de várias crateras localizadas nas redondezas polares da Lua a partir da grande antena de Arecibo, localizada em Porto Rico, eles não conseguiram detectar os claros sinais que seriam observados caso houvesse uma placa espessa de gelo em seu interior.

Esses mesmos sinais são claramente perceptíveis, por exemplo, no planeta Mercúrio --outro lugar aparentemente inóspito para a presença de água, mas que a preserva em reservatórios bastante protegidos.

O segredo está em crateras posicionadas de forma estratégica, de modo que a luz solar é incapaz de atingir o fundo. Lá, a temperaturas baixíssimas, é possível o gelo permanecer preservado mesmo no planeta mais próximo do Sol.

Caminhões-pipa cósmicos

A idéia era a de que os mesmos cometas que pudessem ter formado as crateras poderiam ter depositado a água em seu interior, uma vez que esses corpos consistem basicamente em gelo sujo. Pelo visto, isso aconteceu em Mercúrio. Se a mesma coisa tiver ocorrido na Lua, não restaram sinais identificáveis. "Não sabemos ainda explicar as diferenças entre as condições de Mercúrio e da Lua --ambos poderiam armazenar gelo em suas crateras polares", disse por telefone Donald Campbell, da Universidade Cornell, um dos autores do estudo, publicado hoje na revista científica britânica "Nature" (www.nature.com).

"Uma hipótese é que a mesma coisa tenha ocorrido nos dois lugares, mas que o pólo lunar tenha mudado de posição ao longo do tempo. Hoje não bate luz nessas crateras, mas há um par de bilhões de anos pode não ter sido desse jeito." Sem atmosfera, a Lua não pode manter água em estado líquido. Ou ela se mantém solidificada a baixíssimas temperaturas, ou é evaporada direto para o espaço. Não há meio-termo.

"Uma outra possibilidade é que Mercúrio tenha obtido seu gelo num impacto só, de um grande cometa. Aí ele teria tido uma sorte que a Lua não teve", afirma o pesquisador dos EUA.

De um jeito ou de outro, os cientistas parecem bem seguros de seus resultados. "Não conseguimos olhar a cratera Shackleton, que fica bem no pólo Sul, mas conseguimos ver o fundo de várias crateras perto dali, e nenhuma apresenta sinais de uma placa de gelo espessa em seu interior. Pode ser que haja gelo, mas na forma de grãos."

As novas conclusões contrariam resultados obtidos pelas sondas Clementine (do Departamento de Defesa dos EUA), em 1994, e Lunar Prospector (da Nasa), em 1998, de que havia sinais de gelo --inconclusivos-- no interior de algumas crateras lunares. A hipótese já vinha desde os anos 1960.

A sonda européia Smart-1, a caminho da Lua neste momento, pode ser o tira-teima. De uma órbita baixa, ela está equipada para achar sinais de gelo no solo lunar. Além dela, há duas sondas japonesas, uma chinesa e uma indiana programadas para orbitar a Lua até o final da década.

Impacto para ocupação

Alguns pesquisadores viam a descoberta de água na Lua como um facilitador para o estabelecimento de uma base lunar tripulada. No filme "2001: Uma Odisséia no Espaço", a estação lunar é localizada em Clavius, uma bacia de crateras localizada bem perto do pólo Sul do satélite natural.

Para Campbell, entretanto, o gelo lunar nunca teria impacto na construção de uma base. "Mesmo que ele estivesse lá, é um lugar muito frio para se viver, e não há luz para dar energia a naves com painéis solares. As regiões mais frias devem atingir até --170C. Acho que nenhum astronauta ia querer viver lá", disse.

Mesmo assim, talvez valha a pena enviar uma nave até uma dessas crateras, mesmo que seja não-tripulada, a fim de estudar o regolito (solo) lunar na região e verificar "in situ" se há ou não gelo presente, mesmo que granulado. "Seria o jeito mais óbvio de tirar a dúvida", segundo Campbell.

Embora a Nasa (agência espacial americana) não tenha hoje nenhum projeto para fazer isso, andou sondando propostas para uma missão de retorno de amostras em crateras do pólo Sul lunar.

Até hoje, todas as missões tripuladas (feitas pelas naves Apollo americanas) e de retorno de amostras (pelas sondas soviéticas Luna) foram realizadas no hemisfério da Lua que está sempre voltado para a Terra, em latitudes próximas da faixa equatorial.

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