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17/11/2003 - 06h43

Vida social intensa dos babuínos favorece a sobrevivência da prole

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Mães que catam mutuamente seus piolhos enfrentam menor mortalidade entre os filhotes. A intensa vida social dos babuínos, um macaco africano, está por trás também de outra descoberta: eles são capazes de se identificar de modo complexo, usando tanto o status como as relações familiares nas interações sociais.

Os dois estudos com babuínos foram publicados na última edição da revista científica "Science" (www.sciencemag.org) e dão pistas sobre os processos por trás da origem da sociabilidade humana e da evolução da linguagem.

"Nós dividimos com nossos primos macacos uma forma particularmente intensa de vida social que, pelo que podemos dizer até agora, não é encontrada em nenhum outro grupo de animais", afirma Robin Dunbar, da Universidade de Liverpool, Reino Unido, comentando os dois estudos.

A pergunta básica que os cientistas se fazem é: qual a vantagem dessa sociabilidade em termos adaptativos, para sobreviver e deixar descendentes? Ou seja, por que motivo macacos passam tanto tempo limpando o pêlo uns dos outros, em vez de buscar comida ou cuidar dos filhotes?

Não havia comprovação alguma de que a sociabilidade era algo positivo, evolutivamente, até o trabalho de três pesquisadoras de instituições americanas: Joan Silk, da Universidade da Califórnia, Susan Alberts, da Universidade Duke, e Jeanne Altmann, da Universidade de Princeton.

Elas fizeram uso dos dados acumulados em um estudo de longa duração com bandos de babuínos na bacia de Amboseli, localizada aos pés do monte Kilimanjaro, no Quênia. Alguns dos bandos são monitorados desde 1971.

Os dados acumulados envolvem número de gestações, nascimentos e mortes de filhotes, além de observações do comportamento em amostras de dez minutos cada. Um total de 108 fêmeas foram estudadas. As pesquisadores criaram um índice de sociabilidade das fêmeas baseado tanto na proximidade dela com outras como na catação mútua de parasitas e cuidados com o pêlo.

As fêmeas com maior grau de sociabilidade tinham mais filhotes que sobreviviam até um ano de idade (equivalente a cinco anos no ser humano). Os resultados foram independentes do status de cada fêmea no grupo.

As cientistas não sabem qual o mecanismo por trás da menor mortalidade de filhotes das fêmeas mais sociáveis, mas suspeitam que seja algo semelhante ao que já se observou em seres humanos, como a redução do estresse. O carinho poderia estimular a produção de endorfinas, substâncias opiáceas naturais.

Já o estudo de Robert Seyfarth, da Universidade da Pensilvânia, e mais três colegas, mostrou como as fêmeas de babuíno possuem um complexo sistema de avaliação do status e do parentesco.

O estudo foi feito com babuínos de outro estudo de longo prazo, um bando de 80 animais no delta do rio Okavango, em Botsuana, acompanhado há 12 anos.

Os cientistas mapearam a hierarquia entre as fêmeas. As dominantes indicam seu status com grunhidos, e aquelas abaixo na hierarquia respondem com gritos. Eles gravaram grunhidos e gritos e tocaram as gravações para 19 fêmeas, às vezes subvertendo a hierarquia --grunhidos da subordinada e gritos da dominante.

Conforme se esperava, as gravações subversivas causaram surpresa entre as fêmeas. Elas olhavam mais intensamente e por mais tempo na direção do alto-falante escondido. A subversão que mais surpreendia era aquela que envolvia fêmeas de grupos familiares distintos, e não aquelas da mesma família.

De acordo com Seyfarth e colegas, essa capacidade dos babuínos de classificar os outros simultaneamente com dois critérios --dominância e parentesco-- constitui o tipo de fenômeno que força o grupo social a desenvolver aptidões cognitivas, sendo uma espécie de precursor de elementos humanos, como a linguagem.
 

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