Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
27/11/2003 - 07h51

Grupo encontra o gatilho fatal do ecstasy

Publicidade

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Pesquisadores nos EUA descobriram como a "ferveção" de alguns clubbers nas pistas de dança pode levá-los a "ferver" demais --esquentando o corpo até morrer. Uma proteína no organismo, a UCP-3, foi apontada como essencial para o desenvolvimento de febres altíssimas que podem até matar os clubbers usuários da droga ecstasy.

A droga existe desde a década de 1910. Seu princípio ativo é conhecido pela sigla MDMA (metilenodioxidometanfetamina). Era utilizada em psicoterapia e para inibir o apetite. Tomada por via oral, passou a ser muito difundida nos anos 80 e 90 pela tribo urbana dos clubbers em todo o mundo.

O ecstasy age no sistema nervoso, aumentando a concentração de serotonina e dopamina, dois neurotransmissores (substâncias responsáveis pela comunicação entre os neurônios, as células do cérebro). O usuário sente euforia, bem-estar, fica de bem com o mundo e com quem estiver em volta. É uma verdadeira pílula do amor, mas que pode matar.

Testes com roedores

A equipe liderada por Jon Sprague, da Ohio Northern University, em Ada, Ohio, EUA, testou camundongos que não tinham a proteína UCP-3. Os resultados da pesquisa estão na edição de hoje da revista científica britânica "Nature" (www.nature.com).

Segundo um relatório da ONU citado por Sprague e colegas, houve um aumento de 70% no uso dito recreativo da MDMA entre 1995 a 2000. Apesar do crescimento, os casos de morte são raros.

A maior parte das mortes está ligada a uma persistente hipertermia, febres que causam problemas no sistema músculo-esqueletal (músculos que dependem da vontade, por exemplo o bíceps do braço) e também danos aos rins.

As proteínas tipo UCP atuam na regulação da temperatura do corpo, embora com distinções, além de ainda existir dúvidas sobre o papel exato de várias delas. Os pesquisadores foram checar a UCP-3 porque ela é muito produzida nos músculos esqueletais, e porque o ecstasy aumenta a temperatura desses músculos.

Os experimentos foram feitos com camundongos que não produziam a proteína, e também com camundongos de uma linhagem normal. Todos receberam doses crescentes de ecstasy.

Os roedores selvagens mostraram um claro aumento na temperatura associado com a dose que recebiam da droga. Quanto mais droga, mais "ferveção".

O mesmo não aconteceu com os animais deficientes em UCP-3 --seu aumento de temperatura foi bem menor. E mesmo recebendo doses da droga que matariam camundongos comuns, eles sobreviveram.

Segundo os autores do estudo, a demonstração de que a proteína UCP-3 age como uma mediadora do aquecimento provocado pela droga pode servir de ponto de partida para tratamentos futuros. "Nosso objetivo é ajudar no tratamento de pacientes que ficam perigosamente hipertérmicos", afirma Sprague. Mas um agente terapêutico poderia até ser usados pelos drogados --algo como "tome a pílula, e se sentir febre, tome a outra". "Este é um cenário de fato possível. A descoberta do nosso estudo pode ajudar nessa direção", diz o pesquisador.

Problemas no coração

O ecstasy também pode causar ataques do coração em pessoas relativamente jovens, segundo um relato que está sendo publicado na edição de dezembro da revista médica "Annals of Emergency Medicine".

Trata-se da história de um homem de 27 anos que procurou o pronto-socorro depois de sentir dores no peito por cerca de três horas. Ele tinha tomado uma garrafa de uísque e tomado meia pílula da droga. Esse é apenas o segundo relato do gênero, de um "infarto do miocárdio induzido por MDMA", segundo os autores do estudo, pesquisadores da Universidade Nacional de Taiwan.

Relatos de efeitos negativos da droga acompanham o aumento do número de usuários, pela disseminação da droga e por seu uso por períodos prolongados. Apesar disso, há cientistas que defendem o uso terapêutico da MDMA, como ocorre com drogas como maconha ou morfina (e as mais perigosas heroína e cocaína).

A Universidade da Carolina do Sul, nos EUA, pretende testar o ecstasy em vítimas de estresse pós-traumático, notadamente em mulheres vítimas de estupro.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página