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03/01/2004 - 07h00

Sonda Stardust coleta poeira de cometa

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

A primeira missão americana de retorno de amostras do espaço profundo após as viagens tripuladas do programa Apollo passou com sucesso a 230 km do cometa Wild-2 e coletou a poeira que jorra de seu núcleo às 17h44 de ontem (horário de Brasília).

Segundo a Nasa, dados transmitidos pela sonda Stardust ("poeira de estrelas" em inglês) mostram que a nave sobreviveu ao perigoso encontro com o cometa e que todos os seus instrumentos funcionam perfeitamente. A aproximação máxima com o corpo celeste aconteceu a 389 milhões de quilômetros da Terra.

A sonda agora assumirá uma rota de retorno à Terra, aonde deve chegar em 15 de janeiro de 2006. Pela primeira vez, os cientistas terão partículas do material combinado de gelo, rocha e compostos orgânicos de que os cometas são feitos. Com a ajuda das amostras, eles pretendem investigar quão rara são a vida e suas moléculas precursoras no Sistema Solar e no Universo.

Material orgânico

"Olhando para cometas, podemos pegar diretamente amostras do material orgânico que é depositado em planetas, e os materiais em cometas que vemos em nosso Sistema Solar provavelmente são muito similares aos que há em outros sistemas solares", disse à Folha Donald Brownlee, astrônomo da Universidade de Washington e investigador principal da missão da Nasa (agência espacial americana). "Está tudo amarrado a essa questão da vida no Universo --como ela é, como surge, onde podemos encontrá-la e o que podemos fazer para encontrá-la."

Nessa busca pela vida, o estudo de cometas parece ser um dos ramos mais promissores. Em meio a uma constelação inicial de naves espaciais, a Stardust se viu subitamente sozinha. Sorte? Não segundo Brownlee.

"Bem, não gostamos de pensar em termos de sorte. Fazemos tudo o que podemos para garantir que a sorte não entre no jogo, mas o fato é que as coisas acontecem e ficamos muito felizes que as coisas tenham funcionado tão bem até agora", ele diz.

"É muito triste que a Contour [outra missão da Nasa enviada a cometas, mas perdida em órbita da Terra] tenha explodido, e é muito triste que a Rosetta [da ESA, Agência Espacial Européia] tenha sido atrasada, e que a Deep Impact [da Nasa] esteja passando por algumas revisões de projeto. Estávamos felizes quando havia quatro missões cometárias na lista", pondera Brownlee.

Recuperação

Apesar dos atrasos, o astrônomo acha que ainda há tempo para recuperar essas missões. "Esperamos que a Rosetta possa ser reconfigurada e tirada do chão em um curto período de tempo, embora eles estejam falando de atrasos de anos. E esperamos que a Contour possa ser reiniciada. Era uma missão muito esperta, porque ia visitar vários cometas e ver a diversidade entre eles."

A Stardust propriamente dita foi lançada em fevereiro de 1999. Antes de cumprir seu objetivo principal, teve a chance de fazer duas coletas de poeira interestelar e ainda fez um sobrevôo do asteróide Annefrank, em 2002. O encontro serviu como um aperitivo para a chegada ao Wild-2.

"Quando chegamos ao asteróide, fizemos um ensaio completo do encontro do cometa, fazendo toda a comunicação e rotacionando a nave e tudo o mais, e tudo foi muito bem", conta Brownlee.

Relíquias espaciais

Os cometas são tidos como relíquias remanescentes da época em que o Sistema Solar e seus planetas estavam se formando. Compostos majoritariamente por gelo, se postam em órbitas altamente elípticas em torno do Sol, muitas vezes atingindo distanciamento máximo superior ao de Plutão, o último dos planetas. Em sua aproximação da estrela, o gelo começa a sublimar, formando as famosas caudas, que tornam esses objetos visíveis no céu até mesmo sem o auxílio de instrumentos ópticos.

Alguns cientistas acreditam que os cometas, por meio de impactos com os planetas nos primórdios da formação do Sistema Solar, foram responsáveis por trazer água e os compostos orgânicos necessários ao surgimento da vida.

Objetos desse tipo já foram visitados por sondas não-tripuladas anteriormente. As naves Giotto (européia) e Vega (ex-União Soviética) aproveitaram a passagem do cometa Halley, em 1986, para estudá-lo. E, mais recentemente, em 2001, a sonda Deep Space-1 (EUA) obteve as melhores imagens de um astro desse tipo, num sobrevôo do cometa Borrelly. Espera-se, entretanto, que os resultados da Stardust superem em muito os resultados obtidos nessas missões anteriores.

Uma concorrente potencial é a sonda européia Rosetta. Ela seria a primeira a orbitar um cometa e enviaria até um módulo de pouso a esse objeto. Mas dificuldades com o foguete Ariane, em janeiro de 2003, obrigaram a um novo planejamento da missão. A nave deve agora partir em fevereiro próximo, mas seu encontro com o cometa Churyumov-Gerasimenko só deve acontecer em novembro de 2014.

A caminho de Marte

Enquanto os cientistas da Stardust aguardam os resultados do sucesso, outros pesquisadores da Nasa estão cruzando os dedos pelo jipe Spirit, que deve atravessar a atmosfera de Marte em busca de um local de pouso no planeta vermelho na madrugada de hoje para amanhã. A chegada está prevista para as 2h35 de domingo.

"Vão ser seis minutos de inferno", resume Ed Weiler, administrador-associado de ciência espacial da Nasa, referindo-se ao tempo de descida do Spirit à superfície, numa velocidade inicial de quase 20 mil km/h. Uma combinação de retrofoguetes, pára-quedas e "airbags" ajudarão no pouso do jipe, apelidado de "geólogo com rodas" pelos americanos.

Uma vez passada a difícil descida, o Spirit deve conduzir uma investigação detalhada da geologia marciana na região da cratera Gusev, em busca de sinais de que o passado do planeta possa ter sido mais quente e amigável à vida, com água líquida. Depois do Spirit, será a vez de outro jipe da agência americana, o Opportunity, que chega a Marte no dia 24.

Com agências internacionais
 

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