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03/02/2004 - 08h14

Múmias de 9.000 anos carregam DNA do parasita do mal de Chagas

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Seres humanos já estavam sofrendo da doença de Chagas 9.000 anos atrás, segundo testes feitos com múmias do Peru e do Chile. O estudo foi o primeiro de grande escala (283 múmias) com o objetivo de entender o impacto da doença em populações antigas.

Os resultados indicam que a alta percentagem de pessoas infectadas com o parasita da doença --115, ou seja, 40,6%-- não variou significativamente ao longo dos anos, nem segundo sexo ou peso da vítima. A alta prevalência da doença no passado é semelhante à de algumas regiões endêmicas da América Latina hoje, que costuma variar de 20% a 60%.

A região do deserto de Atacama, no sul do Peru e norte do Chile, é extremamente árida, causando mumificação natural dos cadáveres. Isso permite a conservação de tecidos moles do corpo, que podem ter seu material genético (DNA) retirado e testado.

Estudos anteriores já haviam mostrado a presença de doença de Chagas em múmias latino-americanas. Um desses estudos foi feito por cientistas da Fiocruz (Fundação Instituto Oswaldo Cruz) e apresentado em 1999 na 51ª reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) pelo chefe do grupo, Luiz Fernando Ferreira.

O novo estudo foi feito por uma equipe internacional de 11 pesquisadores, liderada por Arthur Aufderheide, da Universidade de Minnesota, em Duluth (EUA). O trabalho sai hoje na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" (www.pnas.org).

A equipe já havia usado antes métodos de biologia molecular para descobrir o material genético do parasita nas múmias. Eles aperfeiçoaram agora a técnica de usar "sondas" de DNA para poder fazer os testes de modo simples e em grande quantidade.

A doença de Chagas é causada por um ser unicelular e se caracteriza por uma infecção inicial e por uma fase crônica, anos depois, na qual o coração pode ser afetado.

O parasita causador da doença, Trypanosoma cruzi, é transmitido por insetos como o barbeiro, que, ao sugar o sangue da vítima, também solta fezes contaminadas com o microrganismo.

Os testes foram feitos em 18 múmias da cultura mais antiga, chamada Chinchorro (de 7050 a.C. a 3000 a.C.), das quais 39% tinham DNA do T. cruzi. Na época mais recente, de 26 múmias do período Inca (1450 d.C. a 1550 d.C.), 50% tinham sinal do parasita.

Das 88 múmias de mulheres, 35 estavam infectadas (39,8%), contra 52 de 123 múmias masculinas (42,3%). A única variação significativa foi em relação a crianças pequenas, pois estavam contaminadas apenas 13 de 47 (27,7%), um percentual semelhante ao que ocorre em populações modernas.

Os cientistas especulam que um dos motivos para a prevalência da doença entre os primeiros povoadores da costa oeste da América do Sul foi o estilo de suas casas, feitas de palha, o tipo de esconderijo considerado ideal para os insetos transmissores.
 

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