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14/02/2004 - 06h24

Genoma dos cães pode se tornar o melhor amigo da saúde do homem

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REINALDO JOSÉ LOPES
enviado especial da Folha de S.Paulo a Seattle (EUA)

O melhor amigo do homem está perto de se revelar também o melhor amigo do genoma humano --já que a convivência milenar entre homens e cães parece ter sido capaz de tornar o DNA canino mais parecido com o humano do que o de parentes mais próximos, como os roedores.

A promessa para os próximos anos é que o genoma dos cachorros ajude a elucidar diversas doenças que só afetam a eles e a seus donos, afirmaram ontem pesquisadores na 170ª Reunião Anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em Seattle (EUA).

As vantagens vão ser tanto científicas quanto bioéticas, já que, ao contrário de outros animais de laboratório, a necessidade de alterar artificialmente a saúde canina para estudar as doenças seria mínima: "Os cães ficam doentes sozinhos, exatamente como os humanos. Por isso, é perfeitamente possível estudar moléstias genéticas neles fora do laboratório, usando radiografias, amostras de sangue e seus registros veterinários", disse Gordon Lark, biólogo da Universidade de Utah (EUA).

Do ponto de vista evolutivo, a semelhança entre cachorros e pessoas é um mistério, reconhece Lark. "Se você me perguntar por quê, vou ter de dizer que não sei. No entanto, e isso ainda é especulativo, acho que vamos descobrir que o genoma canino é muito mais parecido com o humano do que o do camundongo."

Os cães e todos os outros carnívoros se separaram da linhagem que deu origem ao homem bem antes do que os roedores, que são os parentes mais próximos de primatas como macacos, chimpanzés e Homo sapiens.

"Quando se trata de arquitetura genética, homens e cães são muito mais parecidos, talvez pela semelhança de pressões seletivas acontecendo ao longo de milhares de anos juntos", diz o biólogo.

A prova dos noves deve vir com o seqüenciamento (soletração) completo das "letras" químicas de DNA que compõem o material genético do cão, projeto já aprovado pelos NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA).

Um rascunho menos refinado do genoma canino foi apresentado no ano passado pelo grupo do cientista-empresário Craig Venter, figura de destaque no seqüenciamento privado do genoma humano.

Estudos recentes já estão desvendando a relação entre material genético e problemas de saúde, como em algumas formas de cegueira noturna (estudada em bóxers) e narcolepsia (condição em que os sinais vitais aparentemente cessam, num desmaio intenso).

"É uma doença extremamente difícil de ser estudada em modelos animais, mas alguns dobermans a têm", diz Deborah Lynch, do Instituto de Estudos Caninos.

Os cachorros também parecem ter outra semelhança genética notável com os humanos que os criam: uma variação substancial de aparência física de indivíduo para indivíduo e, ao mesmo tempo, uma grande similaridade genética em linhas gerais.

Nos cães, esse processo alcançou um nível extremo, diz Lark: "Eles são hoje a espécie de mamífero mais diversificada em forma do planeta". Os cientistas ilustraram essa variabilidade levando para o palco do auditório do Hotel Seattle Grand Hyatt um cão "irish wolfhound" (maior que um fila, esbelto e peludo), um bóxer e um par de pequineses.

No entanto, diz a geneticista Norine Noonan, do Charleston College (EUA), isso significa que o grosso da variação genética que responde por essas mudanças vem dos chamados SNPs (a sigla inglesa de polimorfismos de nucleotídeo único; pronuncia-se "snips"), trocas de uma única "letra" no DNA.

Se os cientistas conseguirem elucidar como essas trocas determinam as características individuais e a susceptibilidade a doenças nos cães, um grande passo será dado para entender tais mecanismos em humanos.
 

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