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05/03/2004 - 08h05

Caninos revelam novo ancestral humano

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Alguns poucos dentes reveladores bastaram para que paleoantropólogos nos EUA criassem uma nova espécie de ancestral humano, bastante próximo do nebuloso momento em que hominídeos (a família dos seres humanos) e macacos se separaram.

Antes que alguém chame os pesquisadores de apressados, é bom dizer que o Ardipithecus kadabba, como foi apelidado o novo homem-macaco, não é exatamente um desconhecido. Restos descobertos em 2001 haviam levado o mesmo time de cientistas a classificar a criatura de 5,8 milhões de anos como mera subespécie do Ardipithecus ramidus.

Agora, no entanto, a coisa mudou de figura: "Com esses dentes, nós conseguimos um bocado de informações que não tínhamos antes. Eles são mais primitivos em forma do que os do A. ramidus, mais parecidos com os dos grandes macacos, o que justifica classificar o A. kadabba como espécie separada", disse à Folha o paleoantropólogo etíope Yohannes Haile-Selassie, do Museu de História Natural de Cleveland, no Estado norte-americano de Ohio.

Haile-Selassie voltou à Etiópia, ao lado de Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e de Gen Suwa, da Universidade de Tóquio, para desenterrar mais seis dentes do hominídeo na região do Médio Awash, uma das mais ricas do mundo em fósseis pré-humanos.

O elemento mais importante do estudo, que sai na edição de hoje da revista "Science" (www.sciencemag.org), são os caninos da criatura. Com todo o respeito, nos humanos modernos e na maioria dos primitivos esses dentes são ridículos, de tão pequenos e sem ponta. O mesmo não acontece nos parentes mais próximos da humanidade, os chimpanzés e gorilas, que têm verdadeiras adagas na boca.

Acontece que os dentes encontrados no sítio de Asa Koma, embora não tão ameaçadores quanto o de um chimpanzé, são bem pontiagudos: "Eles são triangulares, como o que vemos nos grandes macacos", diz Haile-Selassie.

Isso sugere que a criatura estava mesmo muito próxima da cisão hominídeos-grandes macacos, e talvez usasse seus dentes como até hoje fazem os chimpanzés --nas brigas entre machos. "Ao mesmo tempo, pode ser que esses dentes sejam apenas uma sobra evolutiva, e não funcionais", acautela-se Haile-Selassie.

Se as conclusões do trio estiverem certas, as origens da humanidade foram bem menos complicadas do que muita gente andou apostando ultimamente. Ao comparar o A. kadabba com seus parentes ligeiramente mais velhos, o Orrorin tugenensis (Quênia, 6 milhões de anos) e o Sahelanthropus tchadensis (Chade, entre 6 milhões e 7 milhões de anos), Haile-Selassie e seus colegas não encontraram diferenças significativas. "As evidências que temos sugerem que pode ter existido apenas um gênero de hominídeo nessa época", afirma o etíope.

Mas não tão rápido, alerta o paleontólogo David Begun, da Universidade de Toronto (Canadá), que comentou o estudo para a "Science". "A maneira como você interpreta esses achados depende da sua filosofia de trabalho", diz.

"A evolução de outros grupos mostra que não há uma progressão em forma de escada de uma espécie para outra, mas uma espécie de "arbusto" --várias linhagens surgem e se extinguem e só uma segue adiante", afirma. "O único jeito de descobrir se isso ocorreu nos hominídeos é seguir o mantra dos paleontólogos: precisamos de mais fósseis!"
 

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