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26/03/2004
-
05h55
RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo
Se está difícil vacinar o homem, vacine-se o mosquito. Tal estratégia de combate à malária tornou-se mais promissora com a descoberta de quatro genes no mosquito transmissor da doença vinculados à defesa do inseto contra a infecção pelo parasita plasmódio, de apenas uma célula.
O mecanismo de ação dos quatro genes está num artigo na revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org) de hoje e em outro na revista "Cell" do começo do mês. A pesquisa foi feita por Mike Osta, George Christophides e Fotis Kafatos, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular, de Heidelberg, Alemanha.
"Esses estudos são os primeiros a demonstrar o poder do sistema imunológico do mosquito e a nos dar opções muito reais para combater a doença no inseto antes de ela ter uma chance de ser passada a um ser humano", diz Kafatos.
Uma linha de pesquisa popular em anos recentes é a possível criação de um mosquito transgênico, incapaz de servir como vetor do parasita. Mas restam muitas dúvidas sobre a possibilidade de esses mosquitos de proveta substituírem as populações naturais.
Já a idéia dos pesquisadores do centro europeu é um pouco diferente. Eles procuram métodos para aperfeiçoar as defesas dos mosquitos contra a infecção pelo parasita --uma forma de "vacina" capaz de tornar o inseto resistente à infecção pelo plasmódio.
Poderia tanto ser alguma substância que ativasse as defesas diretamente, ou que agisse contra as proteínas que protegem o parasita. "Muitos pesquisadores enfocam os efeitos diretos do plasmódio no corpo humano, mas o mosquito é um campo de batalha igualmente importante para combater a doença", afirma Kafatos.
O complexo ciclo de vida do parasita dentro do mosquito e também no corpo humano cria vários alvos potenciais para atacá-lo. Dentro do mosquito ele migra do tubo digestivo para a glândula salivar. No ser humano, age no sangue e no fígado e, nos casos mais letais, ataca o cérebro e pode causar morte em poucos dias.
A malária é uma doença que afeta quase meio bilhão de pessoas, especialmente na África ao sul do deserto do Saara. Causa mais de 1 milhão de mortes por ano, a maioria crianças africanas com menos de cinco anos. No Brasil, há dezenas de milhares de casos, sobretudo na Amazônia.
Não existe vacina, e tanto o parasita quanto o inseto transmissor têm desenvolvido resistência aos remédios e inseticidas usados para combatê-los. Por não afetar os países mais ricos tanto como a Aids ou as doenças cardiovasculares, a pesquisa com malária não é prioridade, apesar de o efeito estufa --o aquecimento do planeta pelo acúmulo de certos gases na atmosfera-- ameaçar a volta da doença ao Primeiro Mundo.
A pesquisa usou a espécie de mosquito mais comum na África, Anopheles gambiae, que já teve o genoma (conjunto de genes) seqüenciado e divulgado em 2002.
Dois dos genes encontrados codificam proteínas --conhecidas como TEP1 e LRIM1-- capazes de matar o parasita no tubo digestivo do mosquito.
Já outras duas proteínas do mosquito --CTL4 e CTLMA2-- têm o efeito oposto. São "quinta-colunas" que protegem o parasita contra o sistema imunológico do próprio inseto. Eliminando as duas do mosquito, os parasitas morriam. Em um dos experimentos, 97% dos parasitas dentro do mosquito morreram.
Já outro teste inativando as proteínas que protegem o mosquito facilitou a reprodução do parasita. O número das formas do plasmódio chamadas oocistos chegou a aumentar 3,6 vezes.
Os resultados mostram como é possível "ligar e desligar" o sistema de defesa do inseto, o que dá a esperança de criar uma maneira de torná-lo imune ao plasmódio.
Genes podem levar a mosquito antimalária
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da Folha de S.Paulo
Se está difícil vacinar o homem, vacine-se o mosquito. Tal estratégia de combate à malária tornou-se mais promissora com a descoberta de quatro genes no mosquito transmissor da doença vinculados à defesa do inseto contra a infecção pelo parasita plasmódio, de apenas uma célula.
O mecanismo de ação dos quatro genes está num artigo na revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org) de hoje e em outro na revista "Cell" do começo do mês. A pesquisa foi feita por Mike Osta, George Christophides e Fotis Kafatos, do Laboratório Europeu de Biologia Molecular, de Heidelberg, Alemanha.
"Esses estudos são os primeiros a demonstrar o poder do sistema imunológico do mosquito e a nos dar opções muito reais para combater a doença no inseto antes de ela ter uma chance de ser passada a um ser humano", diz Kafatos.
Uma linha de pesquisa popular em anos recentes é a possível criação de um mosquito transgênico, incapaz de servir como vetor do parasita. Mas restam muitas dúvidas sobre a possibilidade de esses mosquitos de proveta substituírem as populações naturais.
Já a idéia dos pesquisadores do centro europeu é um pouco diferente. Eles procuram métodos para aperfeiçoar as defesas dos mosquitos contra a infecção pelo parasita --uma forma de "vacina" capaz de tornar o inseto resistente à infecção pelo plasmódio.
Poderia tanto ser alguma substância que ativasse as defesas diretamente, ou que agisse contra as proteínas que protegem o parasita. "Muitos pesquisadores enfocam os efeitos diretos do plasmódio no corpo humano, mas o mosquito é um campo de batalha igualmente importante para combater a doença", afirma Kafatos.
O complexo ciclo de vida do parasita dentro do mosquito e também no corpo humano cria vários alvos potenciais para atacá-lo. Dentro do mosquito ele migra do tubo digestivo para a glândula salivar. No ser humano, age no sangue e no fígado e, nos casos mais letais, ataca o cérebro e pode causar morte em poucos dias.
A malária é uma doença que afeta quase meio bilhão de pessoas, especialmente na África ao sul do deserto do Saara. Causa mais de 1 milhão de mortes por ano, a maioria crianças africanas com menos de cinco anos. No Brasil, há dezenas de milhares de casos, sobretudo na Amazônia.
Não existe vacina, e tanto o parasita quanto o inseto transmissor têm desenvolvido resistência aos remédios e inseticidas usados para combatê-los. Por não afetar os países mais ricos tanto como a Aids ou as doenças cardiovasculares, a pesquisa com malária não é prioridade, apesar de o efeito estufa --o aquecimento do planeta pelo acúmulo de certos gases na atmosfera-- ameaçar a volta da doença ao Primeiro Mundo.
A pesquisa usou a espécie de mosquito mais comum na África, Anopheles gambiae, que já teve o genoma (conjunto de genes) seqüenciado e divulgado em 2002.
Dois dos genes encontrados codificam proteínas --conhecidas como TEP1 e LRIM1-- capazes de matar o parasita no tubo digestivo do mosquito.
Já outras duas proteínas do mosquito --CTL4 e CTLMA2-- têm o efeito oposto. São "quinta-colunas" que protegem o parasita contra o sistema imunológico do próprio inseto. Eliminando as duas do mosquito, os parasitas morriam. Em um dos experimentos, 97% dos parasitas dentro do mosquito morreram.
Já outro teste inativando as proteínas que protegem o mosquito facilitou a reprodução do parasita. O número das formas do plasmódio chamadas oocistos chegou a aumentar 3,6 vezes.
Os resultados mostram como é possível "ligar e desligar" o sistema de defesa do inseto, o que dá a esperança de criar uma maneira de torná-lo imune ao plasmódio.
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