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29/03/2004
-
07h03
MARCELO LEITE
da Folha de S.Paulo
A fêmea de meia tonelada nas areias de Playa Grande, noroeste da Costa Rica, trabalha com calma. Indiferente ao transmissor de US$ 7.500 nas costas, gasta mais de duas horas para preparar o buraco em que deposita 65 ovos e, depois, para fechá-lo e camuflá-lo. Alisa e alisa a areia num raio de 2 metros --é a sua natureza. Não se dá conta de que está sendo observada por satélite, além da dezena de turistas em fila indiana.
Ela é uma das 27 tartarugas-de-couro alistadas involuntariamente no projeto de pesquisa de George Shillinger, 36. O biólogo da Universidade Stanford (EUA), onde prepara sua tese de doutorado, conseguiu apoio da organização não-governamental Conservation International (CI) para incluir esses répteis da espécie Dermochelys coriacea na última moda oceanográfica, uma espécie de mochila de alta tecnologia que as transforma num ciborgue (organismo cibernético) dos mares.
Originalmente, o aparelho afixado por correias que duram dois anos foi criado para mamíferos, como elefantes marinhos. Sensores registram e transmitem para satélites dados como profundidade, temperatura da água, salinidade e até velocidade do animal --em tempo real. Colhem em poucos minutos informações que demandariam dezenas de cruzeiros oceanográficos, se os cientistas contassem somente com métodos tradicionais.
O trabalho de Shillinger é uma espécie de ramal de um projeto bem maior, o Topp (Tagging of Pacific Pelagics, algo como "etiquetas para espécies oceânicas do Pacífico"). Participam dele vários animais, de tubarões e marlins a pingüins e albatrozes, e sete países (EUA, Austrália, Canadá, México, Japão, França e Reino Unido). O orçamento para cinco anos é de US$ 10 milhões.
A sucursal costarriquenha de Shillinger tem objetivos similares: coletar informações dinâmicas sobre as populações e as águas de grandes regiões oceânicas, de modo a entender melhor sua distribuição, migrações e comportamento, definir suas áreas de alimentação e reprodução e estabelecer prioridades de conservação.
Boa parte dessas espécies se encontra ameaçada. Só as tartarugas-de-couro do Pacífico já perderam 97% da população original. Nos 3,7 km de Playa Grande desovam hoje cerca de 160 fêmeas, mas já foram milhares, há 20 anos.
Nesse caso, a massa de dados colhida pelos 27 répteis vai ajudar a definir de modo inovador uma área de preservação que Costa Rica, Panamá, Equador e Colômbia decidiram criar. É o Corredor Marinho Pacífico Oriental Tropical, cuja implantação custará US$ 3,1 milhões à Fundação das Nações Unidas e à CI.
A idéia é proteger --impedindo ou limitando atividades como a pesca-- a área que será provavelmente usada pelos animais a cada ano, um território variável como o próprio mar.
Ou seria um maritório?
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Projeto mobiliza "ciborgue" oceanográfico
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A fêmea de meia tonelada nas areias de Playa Grande, noroeste da Costa Rica, trabalha com calma. Indiferente ao transmissor de US$ 7.500 nas costas, gasta mais de duas horas para preparar o buraco em que deposita 65 ovos e, depois, para fechá-lo e camuflá-lo. Alisa e alisa a areia num raio de 2 metros --é a sua natureza. Não se dá conta de que está sendo observada por satélite, além da dezena de turistas em fila indiana.
Ela é uma das 27 tartarugas-de-couro alistadas involuntariamente no projeto de pesquisa de George Shillinger, 36. O biólogo da Universidade Stanford (EUA), onde prepara sua tese de doutorado, conseguiu apoio da organização não-governamental Conservation International (CI) para incluir esses répteis da espécie Dermochelys coriacea na última moda oceanográfica, uma espécie de mochila de alta tecnologia que as transforma num ciborgue (organismo cibernético) dos mares.
Originalmente, o aparelho afixado por correias que duram dois anos foi criado para mamíferos, como elefantes marinhos. Sensores registram e transmitem para satélites dados como profundidade, temperatura da água, salinidade e até velocidade do animal --em tempo real. Colhem em poucos minutos informações que demandariam dezenas de cruzeiros oceanográficos, se os cientistas contassem somente com métodos tradicionais.
O trabalho de Shillinger é uma espécie de ramal de um projeto bem maior, o Topp (Tagging of Pacific Pelagics, algo como "etiquetas para espécies oceânicas do Pacífico"). Participam dele vários animais, de tubarões e marlins a pingüins e albatrozes, e sete países (EUA, Austrália, Canadá, México, Japão, França e Reino Unido). O orçamento para cinco anos é de US$ 10 milhões.
A sucursal costarriquenha de Shillinger tem objetivos similares: coletar informações dinâmicas sobre as populações e as águas de grandes regiões oceânicas, de modo a entender melhor sua distribuição, migrações e comportamento, definir suas áreas de alimentação e reprodução e estabelecer prioridades de conservação.
Boa parte dessas espécies se encontra ameaçada. Só as tartarugas-de-couro do Pacífico já perderam 97% da população original. Nos 3,7 km de Playa Grande desovam hoje cerca de 160 fêmeas, mas já foram milhares, há 20 anos.
Nesse caso, a massa de dados colhida pelos 27 répteis vai ajudar a definir de modo inovador uma área de preservação que Costa Rica, Panamá, Equador e Colômbia decidiram criar. É o Corredor Marinho Pacífico Oriental Tropical, cuja implantação custará US$ 3,1 milhões à Fundação das Nações Unidas e à CI.
A idéia é proteger --impedindo ou limitando atividades como a pesca-- a área que será provavelmente usada pelos animais a cada ano, um território variável como o próprio mar.
Ou seria um maritório?
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