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18/04/2004 - 13h49

"Não é necessário matar uma vida para fazer outra", diz pesquisadora

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LEONARDO MEDEIROS
da Folha Online

A extração de células-tronco de embriões para uso terapêutico geralmente enfrenta protestos de grupos religiosos. Desta vez, uma pesquisadora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) traz argumentos científicos para engrossar o coro daqueles que são contrários a estes estudos.

"Nós afirmamos isso porque já temos um modelo experimental. Não é necessário matar uma vida para fazer outra", diz Lilian Piñero Eça, 48, professora de biomedicina e pesquisadora de células-tronco adultas obtidas da medula óssea.

Seu trabalho envolve descobrir os caminhos pelos quais essas células passam para se transformar nos diferentes tecidos do corpo. Esse conhecimento é fundamental para o desenvolvimento de novas terapias de reposição de tecidos lesados.

Em entrevista à Folha Online, Eça fala sobre seu livro "Biologia Molecular - Guia Prático e Didático" e sobre sua posição contrária à pesquisa com embriões.

Folha - No livro, a senhora defende uma questão polêmica, que é a possibilidade da realização das terapias com células-tronco adultas sem a necessidade da utilização de células embrionárias. Esta posição não é precipitada?

Lilian Piñero Eça - Eu quero deixar claro que não estou sozinha. Eu faço parte de um grupo sério de pesquisa. Nós afirmamos isso porque já temos um modelo experimental. Não é necessário matar uma vida para fazer outra. O que se alega é que as células dos embriões crescem mais rápido. Mas a gente já tem substâncias que, quando colocadas nas placas de células-tronco adultas, demonstraram bons resultados.

Folha - As células-tronco adultas não têm dificuldade de se especializar em qualquer tecido?

Eça - Quando você usa a célula-tronco do embrião, o DNA é diferente. Então o paciente corre o risco de sofrer rejeição. Por isso nossa pesquisa é com células-tronco do próprio paciente, extraídas da medula óssea da região da bacia.

Folha - Então vocês acreditam que uma célula-tronco adulta pode se tornar uma célula de qualquer tecido do corpo?

Eça - Sobre isso não há mais dúvidas. Eu estudo sinalização celular por meio de cálcio. Uma célula-tronco bruta da medula vai receber sinais para se transformar, por exemplo, em uma célula do coração. Nós só precisamos estudar os caminhos que ela segue para chegar a isso. O que nós estamos fazendo agora é estudar, para cada caso, como é a sinalização por meio do cálcio.

Folha - Quais eram seus objetivos ao escrever o livro?

Eça - Era levar o tema ao público de uma maneira simples. As pessoas não sabem do rápido crescimento que teve essa área. Então, quando eu começo a falar sobre as aplicações, mesmo em sala de aula, parece que a gente faz as coisas de uma forma milagrosa e não por ciência. A gente sente que as pessoas pensam que nós somos de outro mundo. Então, meu objetivo era que todo o público tivesse acesso a essas informações porque, assim, poderia nos ajuda a aplicar isso [as terapias celulares] mais rápido no país.

Folha - Mas por enquanto muita coisa é promessa...

Eça - Há muitas terapias sendo aplicadas. No livro há todo o histórico da pesquisa e dos tratamentos com células-tronco. Há, por exemplo, o caso de um paciente do Rio de Janeiro com insuficiência cardíaca. Ele estava na UTI [Unidade de Terapia Intensiva] esperando a morte. Hoje, ele está jogando bola com o neto.

Folha - A senhora não tem medo de polemizar em um momento em que a pesquisa ainda pode abrir tantas portas?

Eça - Nós não somos religiosos, nós somos cientistas. Estamos seguros de que não é necessário mexer com embriões, nem aumentar o mercado negro da venda de embriões. A polêmica é necessária porque só com polêmica se chega a uma ciência correta.

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