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07/05/2004 - 06h11

Equipe localiza o "disco rígido" do cérebro

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

O computador mais complexo jamais visto --o cérebro, para os íntimos-- acaba de ficar um pouco menos enigmático. Dois grupos independentes de cientistas conseguiram identificar a localização de seu "disco rígido" e que "softwares" ele usa para processar dados em sua memória.

Os experimentos que permitiram os avanços foram feitos em roedores. Embora o fenômeno da consciência faça com que o cérebro humano pareça ser muito mais sofisticado, sabe-se que, ao menos em matéria de processamento, os cérebros desses pequenos animais compartilham os mesmos princípios de operação.

No caso do disco rígido, trata-se da área do cérebro responsável pelo armazenamento das memórias de longo prazo, aquelas que permanecem disponíveis mesmo após algumas horas desde o fato.

Um grupo liderado por Alcino Silva, pesquisador português da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos EUA, concebeu camundongos geneticamente modificados que não eram bons em lembrar os velhos tempos --mesmo quando essa lembrança consistia na incômoda sensação de levar choques elétricos.

Comparando o comportamento do cérebro de roedores normais com o de alterados, descobriram que o córtex cingulado anterior (região da camada superior do cérebro) só era ativado nos primeiros, mas não nos segundos.

"Os cientistas sabem há tempos que o hipocampo processa memórias recentes, mas não sabíamos onde o cérebro guardava nossas memórias mais antigas", afirma Silva. "Ficamos fascinados ao ver o cingulado anterior acender quando testamos camundongos normais para memória distante, mas não quando os testamos para memória recente. Em contraste, o cingulado anterior dos camundongos mutantes nunca acendeu."

Silva espera que a mesma coisa valha para humanos. "Fico sempre impressionado sobre quão extensa e completa é a conservação evolutiva", afirma. "A evolução é frugal: por que inventar a mesma coisa duas vezes?"

O pesquisador português e seus colegas notaram que o processo estava ligado à ativação de um determinado gene no cingulado anterior, chamado zif268. E foi aí que entrou o outro estudo, feito por Jonathan Lee, na Universidade de Cambridge (Reino Unido).

Também usando roedores modificados, Lee mostrou que o zif268 pode estar ligado a um processo até agora considerado hipotético da memória de longo prazo, chamado de reconsolidação.

A idéia é que, toda vez que alguém se lembra de alguma coisa do passado distante (o termo favorito dos especialistas é "evocação"), o ato faz com que essa memória seja de algum modo reforçada, ou reconsolidada.

Ao analisar o cérebro dos animais, constataram que o zif268 parece ser o "software" que é "rodado" durante o processo de reforçar a antiga memória. Em contrapartida, quando uma nova memória está sendo introduzida no sistema (consolidação), o programa rodado é o BDNF, e o zip268 não é necessário.

"É a primeira boa evidência, não-controversa, de que a reconsolidação existe", afirma Iván Izquierdo, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que foi convidado pela "Science" (www.sciencemag.org) para comentar os dois estudos, na mesma edição da revista em que eles foram publicados.

Trata-se do primeiro movimento para tentar entender melhor esse elusivo processamento das memórias no cérebro. O que é motivo para animação, mas também para cautela, segundo Izquierdo. "É o primeiro passo. Se é importante mesmo, ou não, teremos de ver no passo seguinte."
 

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