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01/06/2004 - 06h09

Vênus passará na frente do Sol em sete dias

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Em exatos sete dias, um fenômeno astronômico raro marcará o início da manhã no Brasil: o planeta Vênus irá passar na frente do disco solar. É uma espécie de mini-eclipse, que ocorreu pela última vez em 1882 e só voltará a acontecer em 2012 --quando não será visível em território nacional. Depois, somente em 2117 e 2125.

Na verdade, quase os brasileiros perdem por completo a oportunidade da semana que vem. Quando o Sol apontar no horizonte, o fenômeno já estará pela metade. De todo o trânsito (palavra preferida dos cientistas ao se referir à passagem de um astro na frente de outro), apenas os momentos finais serão observáveis.

"Na Europa e no Oriente Médio será possível observar todo o fenômeno. No Brasil, só o fim", diz Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, do Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de Janeiro, que foi ao Velho Mundo para ver o fenômeno e apresentará na quinta-feira uma palestra no Observatório de Paris sobre o tema.

Editoria de Arte/Folha Imagem

Historicamente, a observação dos trânsitos de Vênus foi muito importante. Foi do astrônomo britânico Edmund Halley (1656-1742) a sugestão de usar esses fenômenos raros para calcular uma das mais fugidias e, ao mesmo tempo, mais importantes medidas do Sistema Solar: a distância que separa a Terra do Sol.

O criador do primeiro modelo heliocêntrico do mundo, Aristarco de Samos, no século 3 a.C., estimou o percurso Terra-Sol em 8 milhões de quilômetros, valor muito aquém do real.

Seu modelo cosmológico permaneceu esquecido até o Renascimento, quando o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) ressuscitou a idéia de que o Sol era o centro do sistema planetário, mas sem oferecer aperfeiçoamentos às estimativas originais de Aristarco.

Somente em 1672, o astrônomo ítalo-francês Jean-Dominique Cassini (1625-1712) conseguiu a realmente calibrar a medida, usando as leis de movimento planetário determinadas por Johannes Kepler (1571-1630) e observações do planeta Marte. O número a que ele chegou foi 140 milhões de quilômetros, com uma margem de erro de 10 milhões.

Utilizando o vizinho

Entram em campo, então, as observações dos trânsitos de Vênus. A idéia era medir a paralaxe solar, ou seja, o quanto a posição aparente do Sol variava no céu em diferentes regiões do planeta. Com isso, seria possível triangular com razoável precisão a distância procurada --e o ponto de referência para a observação seria o momento do contato aparente de Vênus com o disco solar.

As oportunidades para o cálculo seriam escassas. "Esse é um fenômeno muito raro, que só acontece duas vezes em um século", diz Mourão. "O último ocorreu em 1882, há 122 anos". Mas os esforços sem dúvida compensaram.

Em 1769, estimativas feitas com esse método chegaram a uma medição de 153 milhões de quilômetros. Em 1882, o astrônomo brasileiro Luís Crus (1848-1908) foi um dos que coordenaram esforços para medir a paralaxe. A distância Terra-Sol foi estimada então em 149,4 milhões de quilômetros.

Hoje, com métodos modernos de medição, a União Astronômica Internacional adota o valor de 149.597.870 km, com margem de erro de 2 km. Esse é o valor da chamada unidade astronômica (UA), a medida mais usada para descrever distâncias dentro de um sistema planetário. (Para escalas mais amplas, como distâncias interestelares, os astrônomos adotam os anos-luz --que valem 9,5 trilhões de quilômetros-- e os parsecs --3,26 anos-luz-- para evitar números muito grandes.)

Valor acadêmico

Com a escala do Sistema Solar calibrada, o trânsito de Vênus perdeu muito de sua importância científica --mas não toda. A observação de trânsitos está ganhando muita força com a caça a planetas localizados ao redor de outras estrelas, que não o Sol.

Embora não seja a técnica mais comum para detectar esses astros, a estratégia do trânsito já gerou algumas descobertas e deve ganhar importância nos próximos anos, com o lançamento de um satélite europeu (Corot) e um americano (Kepler) que esperam fazer milhares de detecções desse tipo.

Ao observar o trânsito de Vênus, os cientistas planejam obter mais informações acerca do que podem esperar das observações extra-solares, a fim de obter o máximo possível de cada uma delas.
 

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