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12/06/2004 - 07h07

Sonda Cassini inicia sua exploração de Saturno

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

Depois de cumprir a primeira etapa de sua missão a Saturno --sobrevoar Febe, pedregulho provavelmente desgarrado dos confins do Sistema Solar e seqüestrado pela gravidade do gigante gasoso--, a sonda Cassini se prepara para a fase mais arriscada da aventura: fazer uma travessia dos famosos anéis, enquanto dispara seus motores para se colocar em órbita ao redor do planeta.

A aproximação máxima da lua, ontem, já deu uma boa medida do que a missão, conduzida pela Nasa (agência espacial americana) em cooperação com a ESA (sua contraparte européia), deve fazer pelos estudos do sistema saturnino. "A última vez que tivemos observações de Febe foi com a Voyager, em 1981", diz Torrence Johnson, que já trabalhou nas missões Voyager e Galileo e agora cuida das fotos da Cassini.

"Desta vez, as imagens da lua misteriosa serão cerca de mil vezes melhores, uma vez que a Cassini estará mais perto." A aproximação máxima deve levar a nave a uma distância de cerca de 2.000 quilômetros da superfície.

Sendo a lua mais distante de Saturno, Febe seria o alvo natural para observação na aproximação final da sonda. Uma vez em órbita, a Cassini não terá novas oportunidades para sobrevoá-la.

À primeira vista, não é lá um astro muito impressionante: o pedregulho de forma irregular e 220 km de diâmetro mais parece um asteróide do que qualquer outra coisa. Mas é justamente isso que faz dele um alvo científico forte.

Há quem acredite que o astro na realidade seja um dos objetos originários do chamado cinturão de Kuiper (faixa além de Netuno que serve como reservatório de cometas). Ao "cair" nas regiões mais internas do sistema planetário, ele teria sido capturado pela gravidade de Saturno, tornando-se uma das 31 luas do planeta.

"Esses pequenos astros são bem interessantes porque --diferentemente dos grandes, como a Terra-- eles estiveram essencialmente inativos pela maior parte dos 4,5 bilhões de anos do Sistema Solar. Sem vulcanismos, sem placas tectônicas, sem atmosfera, sem chuva", diz Henri Throop, astrônomo do Southwest Research Institute, em Boulder, Colorado. "De certo modo, eles nos permitem voltar no tempo, para ver qual era a composição primordial do Sistema Solar."

Throop está especialmente interessado na possibilidade de que Febe seja um corpo desgarrado do cinturão de Kuiper. Afinal, ele é membro da equipe que atualmente prepara a New Horizons, sonda que irá a Plutão e depois visitará pelo menos dois objetos do distante reservatório cometário. "Será interessante comparar a aparência deles com a de Febe."

Após a passagem pela pequena lua saturnina, a Cassini ruma para uma passagem de raspão pelo planeta e, numa manobra arriscada, em 1º de julho, iniciará a frenagem para entrar em órbita, após sete longos anos de viagem.

"Esse é um momento crítico, porque, se algo der errado, a nave poderá entrar na órbita errada ou --pior-- passar direto pelo planeta", diz Throop. "A Mars Observer foi perdida durante a queima de inserção orbital, em agosto de 1993, assim como várias outras naves. Mas na maioria das vezes dá tudo certo", afirma.

Um fator de risco adicional tem a ver com o ambiente que a Cassini estará sobrevoando. Durante a queima, ela estará passando rente aos anéis do planeta --que na verdade são compostos por inúmeras partículas de diversos tamanhos-- e chegará até mesmo a atravessá-los, no maior vão conhecido entre eles. Para minimizar o perigo, a sonda será colocada numa posição em que a antena principal servirá de escudo contra o impacto de pequenos detritos.

Enquanto tudo isso estiver acontecendo, os controladores em terra estarão no escuro: como a luz leva cerca de 84 minutos para viajar de Saturno até a Terra, esse é o tempo que o pessoal no JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa) terá de esperar para saber o resultado da manobra.

Com o sucesso, a Cassini iniciará uma missão de quatro anos em torno de Saturno, explorando o planeta e os mundos ao seu redor.

A missão foi batizada em homenagem ao astrônomo ítalo-francês Jean-Dominique Cassini (1625-1712), que foi responsável, entre outras descobertas, por uma falha existente entre os anéis, conhecida hoje como "Divisão de Cassini". Ele também foi o primeiro a ver a lua Titã, um dos principais alvos do atual esforço.

"Eu acho que talvez a coisa mais empolgante seja Titã", diz Throop. "É um mundo completamente novo lá embaixo, e não temos idéia do que há na superfície. Oceanos? Lagos? Montanhas? A superfície é bloqueada quase totalmente pela atmosfera."

A Cassini está equipada com radares e câmeras capazes de driblar o véu atmosférico de Titã. Além disso, a nave tem uma companheira: a sonda européia Huygens, que deve realizar em janeiro de 2005 o primeiro pouso suave numa lua que não a da Terra. O custo total da Cassini e da Huygens ficou em US$ 3,2 bilhões.

Especial
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