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15/07/2004 - 06h27

Desigualdade afeta produção científica

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Que o mundo é desigual, muitos sabem. Noruegueses vivem bem mais e melhor que moçambicanos, como costuma revelar o Índice de Desenvolvimento Humano, divulgado ontem pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

No entanto, um novo estudo sobre a ciência no planeta mostra que a situação tende a piorar cada vez mais, pois os países ricos --os "noruegueses"-- investem muito mais e melhor em ciência e inovação tecnológica do que os mais pobres --os "moçambicanos".

O artigo está publicado na revista científica britânica "Nature" (www.nature.com) de hoje, de autoria de David King, o principal assessor científico do governo do Reino Unido.

Editoria de Arte/Folha Imagem

O estudo mostra que apenas 31 países --incluindo o Brasil-- estão representados no 1% dos mais importantes artigos científicos, aqueles que foram os mais citados por outros cientistas.

Há várias maneiras de medir a produção científica dos países e seu impacto geral na ciência, nenhuma das quais é perfeita. Um artigo pode ser muito citado por outros cientistas por estar totalmente errado, por exemplo. Mas, em geral, e em grandes conjuntos de dados, quanto mais citado, mais impacto tem uma pesquisa.

King fez comparações entre a produção de artigos desses 31 países mais significativos na ciência mundial. O grupo dos 31 responde por 98% dos artigos mais citados de todos --1% da produção total de artigos. Os outros 162 países do planeta contribuíram com os 2% restantes.

Distância

"As nações com mais citações estão se distanciando do resto do mundo", diz King. É o caso dos oito países mais ricos do mundo, o grupo conhecido como G8 --com a exceção da Rússia, cujo investimento em ciência caiu desde o fim da União Soviética.

Mas não são só os países mais ricos que se beneficiam da ciência e de sua versão aplicada à indústria e agricultura, caso óbvio dos EUA, do Japão e da Alemanha. Países pequenos, mas com alto grau de desenvolvimento humano e de renda per capita, também alavancam o seu desenvolvimento com inovação tecnológica.

Comparando-se a riqueza econômica e o avanço em ciência, percebe-se que países como Israel, Suécia e Suíça estão tão adiantados quanto gigantes como os Estados Unidos.

Mas os EUA permanecem à frente da Europa em vários fatores. Mesmo que o conjunto dos países do Velho Continente possa ter um número maior ou equivalente de artigos científicos publicados, os artigos dos pesquisadores americanos têm maior impacto em termos de citações.

O estudo feito por King mostrou que vários países melhoraram muito sua classificação. Por exemplo, entre 1993 e 1997, o Brasil produziu 0,84% dos artigos científicos indexados no mundo --isto é, registrados no banco de dados. De 1997 a 2001 foi 1,21%.

Os artigos de pesquisadores dos EUA até diminuíram em número --de 37,46% a 34,86% nos dois períodos acima. Mas continuam sendo de longe bem mais citados que o resto --62,76% entre o grupo de 31 países, de 1997 a 2001.

Um detalhe curioso revelado pelas tabulações de King foi o avanço recente na pesquisa britânica --mas com origens que os cientistas do mundo todo deplorariam. Os cortes de verba ao financiamento da pesquisa nos anos 80 e 90 serviram para "cortar a gordura" da ciência britânica.

Darwinismo

Sobraram os grupos de pesquisa mais competentes, que aumentaram a participação do Reino Unido entre os artigos mais citados. Citando talvez o mais famoso dos cientistas britânicos de todos os tempos, Charles Darwin, "pai" da teoria da evolução, foi o caso da "sobrevivência dos mais aptos".

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