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24/07/2004 - 07h07

Hospital trata câncer com luz e corantes

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SALVADOR NOGUEIRA
enviado especial da Folha de S.Paulo a Cuiabá

A julgar pelo nome, parece tratamento médico de ficção científica, ou pior, mandinga de charlatões: terapia fotodinâmica. Mas um estudo conduzido no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, sugere que talvez essa nova forma de tratar certos tumores possa conduzir a resultados positivos.

Embora a técnica de tratamento do câncer não seja propriamente inédita, são poucos no mundo os esforços devidamente reportados de verificar sua eficácia. O estudo paulista, realizado com 20 pacientes, obteve resultados promissores, segundo o médico Orlando Parise Júnior, coordenador da pesquisa. "Eu sou um entusiasta da PDT [sigla em inglês para "terapia fotodinâmica"], mas ainda não dá para dizer, com tudo que foi publicado, que ela seja uma estratégia melhor do que outras para combater a doença."

O médico apresentou o trabalho na 56ª Reunião Anual da SBPC, que acabou ontem em Cuiabá (MT). A sigla designa a instituição que agora leva o nome de Associação Brasileira para o Progresso da Ciência. A troca, feita durante a assembléia-geral dos membros, ocorreu por razões legais --"sociedade", pelo Novo Código Civil, só pode designar instituições com fins lucrativos.

A idéia por trás da terapia fotodinâmica é combinar três elementos para induzir seletivamente as células à morte. Em primeiro lugar, usa-se um corante fotorreativo, ou seja, que reage à presença de luz, e faz-se com que ele seja absorvido pelas células.

Quando isso ocorre, o tecido é exposto à luz. No processo, surge o tal terceiro elemento --uma molécula de oxigênio altamente reativa, conhecida como "oxigênio singlete". Uma vez produzida, ela tem um tempo de vida extremamente curto, da ordem de milésimos de milésimos de segundo. Curto, mas suficiente para reagir com partes das células, sobretudo mitocôndrias, organelas responsáveis pela produção de energia.

Destruição

O estrago causado pela ação do dito singlete é radical. Ele oxida partes da célula e faz com que ela se desenvolva de dois possíveis modos: necrose --pura e simplesmente a destruição e morte do tecido-- ou apoptose --o suicídio celular, normalmente cometido por células que interrompem seu funcionamento normal.

Teoricamente, esse efeito ocorreria com todas as células que tivessem absorvido o corante. Mas aí é que vem o pulo do gato: sabe-se que, em geral, as células sadias se livram muito mais rápido da substância do que as cancerosas. "Essa é a janela para você atuar", diz Parise Júnior. Atacando com luz no momento certo --quando só células do tumor estão com a substância--, é possível atingir apenas tecidos desejados.

Há dificuldades, entretanto. Em primeiro lugar, a literatura médica ainda é pobre para definir quão eficaz é o tratamento. Em segundo, nem sempre é possível fazer a mágica no tumor --é preciso fazer a luz chegar até ele, o que impede o acesso a tecidos mais profundos do organismo.

Os casos mais indicados para uso da técnica acabam sendo os cânceres de pele, cabeça e pescoço, onde os danos muitas vezes são mais superficiais.

Como fonte de luz, os médicos usam um laser vermelho --cor do espectro visível que consegue penetrar mais profundamente os tecidos. O equipamento usado pela equipe do Sírio-Libanês foi importado para a aplicação. "Poderíamos ter chamado o Ipen, o pessoal da USP e ter desenvolvido tudo aqui, mas isso ia levar muitos anos", diz. "Há muitos pacientes que não podem se dar ao luxo de esperar o tempo que leva para fazer um doutorado."

No caso dos testes feitos no Sírio-Libanês, 17 dos pacientes se recuperaram bem da doença, ou a mantiveram sob controle.

Por ora, a PDT não vai substituir nenhuma das técnicas consagradas atualmente para o combate a tumores, como cirurgias de extração, radioterapia e quimioterapia. Na melhor das hipóteses, ela será usada como método paliativo e/ou de controle da doença, provavelmente em conjunto com outros esforços paralelos no combate ao tumor.

Mas Parise Júnior vê com otimismo as possibilidades do tratamento. "É uma nova forma de tratamento e até diagnóstico do câncer. As aplicações médicas ainda estão engatinhando."

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