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21/08/2004 - 07h11

Testes agitam corrida privada ao espaço

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SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

"Sábado estava um dia perfeito para voar", descreveu John Carmack, engenheiro-chefe da Armadillo Aerospace, ao justificar as preparações para o lançamento de seu foguete, sob o céu azulado do Texas. Pelos planos modestos da equipe, o veículo deveria ter subido uns 200 metros. E subiu.

Mas algo deu errado. A nave desceu dando piruetas, caiu de lado e se espatifou no chão, menos de 20 segundos após a decolagem. Moral da história: "US$ 35 mil de foguete agora são um monte de destroços de primeira qualidade do Armadillo", ponderou Carmack, no site do grupo (www.armadilloaerospace.com), onde é possível ver o vídeo do esforço.

Essa é uma das histórias menos glamourosas, mais emblemáticas e cada vez mais recorrentes da corrida pelo Prêmio X Ansari --uma bolada de US$ 10 milhões a ser oferecida ao primeiro grupo privado que conseguir lançar uma nave espacial com capacidade para três pessoas a cem quilômetros de altitude, duas vezes, num prazo de duas semanas.

A competição, criada pela Fundação Prêmio X, de St. Louis, EUA, conta com participantes dos quatro cantos do mundo. A idéia é estimular o desenvolvimento de naves de baixo custo, principalmente para aplicações em turismo espacial.

Carmack é engenheiro e co-fundador da empresa id Software, criadora da série de jogos de computador "Doom". Com o dinheiro ganho com os games, ele lidera uma das 26 equipes na disputa.

O teste de seu veículo, uma versão não-tripulada da nave com que pretendia disputar o Prêmio X, ocorreu há três semanas, quando outros times também começaram a mostrar serviço.

Aquecendo os motores

A coisa esquentou depois que a Scaled Composites, empresa de aeronaves leves da Califórnia, anunciou sua intenção de tentar vencer a competição entre os dias 29 de setembro e 4 de outubro.

Não se trata de blefe. Liderados pelo legendário engenheiro aeroespacial Burt Rutan, homem que criou o primeiro avião a circular o mundo sem reabastecimento, e financiados pelo milionário Paul Allen, co-fundador da Microsoft, os técnicos da Scaled já promoveram um vôo bem-sucedido ao espaço com sua nave, um planador-foguete chamado SpaceShipOne, em 21 de junho.

Pretendem repetir o feito no fim de setembro e ganhar os US$ 10 milhões --metade do valor investido na criação da nave. O anúncio foi feito no final de julho, cumprindo a exigência de que todas as tentativas sejam comunicadas com 60 dias de antecedência.

Uma semana depois, o grupo canadense Da Vinci Project, liderado pelo engenheiro Brian Feeney, anunciou que também faria uma tentativa de capturar o prêmio, com o primeiro vôo em 2 de outubro. O financiamento veio do GoldenPalace.com, o maior cassino virtual do mundo. É, de fato, uma aposta ousada. Feeney ainda não promoveu um vôo sequer.

"Podemos fazer alguns testes de descida da cápsula, mas não vamos anunciar esses eventos", afirmou o canadense, durante o anúncio da data para seu vôo.

Retardatários

A essa altura, somente se esses dois grupos falharem, algum dos outros 24 terá a chance de vencer. Mas as equipes não desistem. Carmack já prometeu que reconstruirá sua nave, numa versão aperfeiçoada, e voltará a voar.

Outros grupos também continuam trabalhando a todo vapor. No dia seguinte à destruição do protótipo do Armadillo, o grupo americano Space Transport Corporation, de Washington, lançou uma versão em escala reduzida de seu foguete Rubicon-1. O veículo explodiu no ar, após atingir parcos 60 metros de altitude.

Os resultados negativos são esperados --e bem-vindos. Pelo menos é o que defende o engenheiro e médico americano Peter Diamandis, o criador do Prêmio X. "Tentar algo novo e revolucionário envolve riscos significativos, a maioria das novas estratégias não funciona", ele diz.

Por isso, prossegue, os programas espaciais governamentais são tão caros: não se pode arriscar. A prioridade é não perder vidas e causar comoções nacionais.

Na corrida pelo Prêmio X, apesar dos riscos, até agora, ninguém morreu. E nem tudo é fracasso. No sábado passado, a equipe Canadian Arrow, rival canadense do Da Vinci Project, realizou com sucesso o teste de descida com pára-quedas de sua cápsula. O foguete é baseado no consagrado modelo V-2, desenvolvido pelo alemão Wernher von Braun durante a Segunda Guerra Mundial.

Um dia antes, as boas novas vieram da América do Sul. O grupo liderado pelo engenheiro argentino Pablo de Leon reportou sucesso no teste da torre de ejeção de seu foguete, o Gauchito, num modelo em meia escala. "É um importante marco", diz Leon.

Ele não tem mais esperanças de vencer o Prêmio X, mas diz que ainda assim irá concluir o projeto. E, como único concorrente da América Latina, espera representar mais que a Argentina. "Se conseguirmos, representaremos todos os países latino-americanos também --a criatividade de nosso povo e a habilidade de trabalhar com pequenos orçamentos e fazer grandes coisas", orgulha-se.

Segunda fase

Enquanto isso, a empresa britânica Starchaser Industries, liderada pelo fogueteiro Steve Bennett, está abrindo escritórios no Novo México, nos EUA. Bennett, que detém o recorde pelo maior foguete particular já construído na Europa, disse que pretende iniciar operações de lançamento em solo americano a partir de 2006. Por quê? É lá, segundo seus organizadores, que acontecerá a segunda etapa na revolução espacial impulsionada pelo Prêmio X.

Os promotores da competição já fecharam um acordo com o governo daquele Estado americano para lá reunir as equipes participantes anualmente e promover a chamada Copa Prêmio X. Será uma espécie de "Fórmula-1 espacial", em que os times disputarão, ao longo de uma ou duas semanas, prêmios específicos por número de lançamentos, número de pessoas transportadas, altitude atingida, e assim por diante.

Diamandis acredita que cerca de um terço das equipes que disputam o Prêmio X será capaz de iniciar operações tripuladas em dois ou três anos. E o custo de um pequeno vôo até o espaço será bem menor. Hoje, um turista que queira voar numa nave russa Soyuz precisa desembolsar cerca de US$ 20 milhões. Um vôo na SpaceShipOne, de Burt Rutan, não custaria mais que US$ 100 mil.

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