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26/08/2004 - 03h54

Estudo desvenda plano de fuga do câncer pelo corpo

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LAURA NELSON
free-lance para a Folha de S.Paulo

Dois estudos publicados na edição de hoje do periódico científico britânico "Nature" (www.nature.com) identificam, em animais, novos alvos potenciais para drogas contra o câncer.

A primeira pesquisa desvenda como células cancerígenas viajam pelo organismo, processo conhecido como metástase, que dissemina a doença pelo corpo.

Normalmente, as células do corpo morrem ao deixar seu tecido de origem, em um processo chamado "anoikis" (em grego, palavra que significa "falta de lar"). No entanto, as versões cancerígenas possuem uma proteína que as mantém vivas enquanto se espalham pelo corpo.

No experimento, o grupo formado por cientistas dos institutos nacionais do câncer da Holanda e dos Estados Unidos inseriu moléculas de DNA em células intestinais retiradas de ratos. Cada molécula era responsável pela produção de uma proteína diferente. Os pesquisadores descobriram que uma proteína em especial, chamada TrkB, impediu o suicídio automático das células tumorais.

"Sabemos que alguns pacientes possuem a proteína TrkB ", explicou à Folha, de Amsterdã, o líder do estudo, Daniel Peeper. De acordo com ele, uma droga que pudesse inibir a proteína poderia representar uma terapia para o câncer. O grupo acredita que, a partir de agora, outros cientistas buscarão a TrkB em diversos tipos de câncer, em um processo que permitirá aumentar o conhecimento sobre a proteína e aproximará os pacientes de um medicamento eficaz.

O oncologista Michael Seckl, do Imperial College em Londres (Reino Unido), afirma que o modelo é importante, ainda que por enquanto tenha sido testado em animais, não em pessoas. "O que falta é descobrir se o estudo é pertinente a tratamento do câncer em humanos", diz.

Inflamação evitada

O segundo estudo publicado na "Nature" liga a ocorrência de doenças inflamatórias agudas ao desenvolvimento de tumores, e identifica um mecanismo capaz de interromper o processo. Há algum tempo se suspeita que inflamações podiam levar ao câncer, mas o mecanismo molecular não era totalmente compreendido.

Um grupo israelense estudou camundongos geneticamente modificados, que desenvolviam inicialmente hepatite e depois câncer. Os pesquisadores perceberam que, enquanto a doença progride, a inflamação ativa uma proteína específica nas células do fígado. Quando a ação da proteína foi "nocauteada", os roedores não desenvolveram tumores.

Os cientistas agiram na iniciação do tumor, e não na proliferação das células cancerígenas. "O processo tumoral foi evitado com o bloqueio do processo inflamatório", explica Agnaldo Anelli, diretor do departamento de oncologia clínica do Hospital do Câncer, em São Paulo.

Evolução médica

Conhecido o processo molecular, pode-se saber onde agir tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Essa é uma evolução em relação a como os medicamentos eram testados. "Há cinco anos, as drogas eram usadas sem que se soubesse onde agiam", diz Anelli.

Após o modelo experimental, os pesquisadores devem partir para testes em humanos, mais complexos, antes que uma droga possa ser criada para conter o processo inflamatório.

"Esse modelo", afirma o oncologista, "pode ser experimentado, por exemplo, em uma população que tenha desenvolvido anteriormente hepatite C e, por conseqüência, seja mais propensa a apresentar carcinomas (tumores malignos) no fígado".

Colaborou Cristina Amorim, free-lance para a Folha

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