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10/09/2004
-
05h29
CRISTINA AMORIM
enviada especial da Folha de S.Paulo a Florianópolis
O oncologista brasileiro José Claudio Casali Rocha, 40, passou os últimos 18 meses no Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude, nos EUA, tentando desvendar como drogas que combatem o câncer agem no DNA do paciente.
A pesquisa faz parte da chamada farmacogenética, linha que visa desenhar tratamentos específicos para cada pessoa, ou para grupos de pessoas, baseados na resposta genética do indivíduo.
A equipe da qual Rocha faz parte trabalhou com casos de leucemia linfoblástica aguda, a forma mais comum de câncer na infância. A doença é causada quando há proliferação excessiva de linfócitos (um tipo de célula do sistema de defesa) no sangue.
Cerca de 20% dos pacientes não respondem positivamente ao tratamento tradicional, baseado na quimioterapia. "A resposta está no DNA", disse o pesquisador, durante o 50º Congresso Brasileiro de Genética, que termina hoje em Florianópolis. Leia a seguir a entrevista concedida à Folha.
Folha - Como a farmacogenética pode ajudar a tratar o câncer?
José Claudio Casali Rocha - Há hoje muito progresso no tratamento quimioterápico, nas técnicas cirúrgicas, nas combinações das drogas. Mas existe ainda uma fração de pacientes em que o impacto dos tratamentos e das drogas estagnou. Há tipos de câncer, como de ovário e do sistema nervoso central, em que praticamente não houve melhora de prognóstico nos últimos dez anos.
A única maneira de progredir é conhecer a biologia do tumor, e esse esforço passa pela medicina genômica. Precisamos entender o que acontece dentro da célula cancerosa, o que leva uma pessoa a responder ao tratamento e outra não. Se as respostas são individuais, tem de haver alguma coisa da célula que as determine. E a resposta está no DNA.
No que consistiu o seu trabalho nos EUA?
Rocha - Procuramos dentro do DNA alguns marcadores [seqüências que funcionam como "etiquetas" genéticas], que são peças importantes para o sucesso do tratamento. Essas peças determinam se um paciente vai ter uma resposta positiva ao tratamento ou se a doença vai voltar.
Um outro aspecto da farmacogenética é estudar como os marcadores vão degradar e eliminar as medicações, que têm um grau de toxicidade. Porque existem efeitos graves do tratamento, que se tornam uma lembrança de que a pessoa teve um câncer, mesmo depois de curada.
Folha - Os marcadores genéticos podem suplantar as pesquisas sobre a biologia do tumor na hora de determinar o melhor tratamento?
Rocha - Existem os dois aspectos. Um lado pouco visto é o ambiente em que o tumor está localizado --que é o indivíduo. Não podemos desvincular o tumor da pessoa. Aí é que entra o trabalho [da farmacogenética], mostrando que as características do indivíduo, herdadas dos pais, influenciam a resposta do tumor.
Folha - Qual seria o efeito da farmacogenética nos sistemas de saúde, uma vez que separa os pacientes por raça ou idade de acordo com seus marcadores genéticos?
Rocha - Acho que essas informações serão incorporadas naturalmente. Houve muita discussão quando a genética celular surgiu, porque foram descobertos marcadores de prognóstico [predisposição], e hoje lida-se muito bem com esses dados.
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enviada especial da Folha de S.Paulo a Florianópolis
O oncologista brasileiro José Claudio Casali Rocha, 40, passou os últimos 18 meses no Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude, nos EUA, tentando desvendar como drogas que combatem o câncer agem no DNA do paciente.
A pesquisa faz parte da chamada farmacogenética, linha que visa desenhar tratamentos específicos para cada pessoa, ou para grupos de pessoas, baseados na resposta genética do indivíduo.
A equipe da qual Rocha faz parte trabalhou com casos de leucemia linfoblástica aguda, a forma mais comum de câncer na infância. A doença é causada quando há proliferação excessiva de linfócitos (um tipo de célula do sistema de defesa) no sangue.
Cerca de 20% dos pacientes não respondem positivamente ao tratamento tradicional, baseado na quimioterapia. "A resposta está no DNA", disse o pesquisador, durante o 50º Congresso Brasileiro de Genética, que termina hoje em Florianópolis. Leia a seguir a entrevista concedida à Folha.
Folha - Como a farmacogenética pode ajudar a tratar o câncer?
José Claudio Casali Rocha - Há hoje muito progresso no tratamento quimioterápico, nas técnicas cirúrgicas, nas combinações das drogas. Mas existe ainda uma fração de pacientes em que o impacto dos tratamentos e das drogas estagnou. Há tipos de câncer, como de ovário e do sistema nervoso central, em que praticamente não houve melhora de prognóstico nos últimos dez anos.
A única maneira de progredir é conhecer a biologia do tumor, e esse esforço passa pela medicina genômica. Precisamos entender o que acontece dentro da célula cancerosa, o que leva uma pessoa a responder ao tratamento e outra não. Se as respostas são individuais, tem de haver alguma coisa da célula que as determine. E a resposta está no DNA.
No que consistiu o seu trabalho nos EUA?
Rocha - Procuramos dentro do DNA alguns marcadores [seqüências que funcionam como "etiquetas" genéticas], que são peças importantes para o sucesso do tratamento. Essas peças determinam se um paciente vai ter uma resposta positiva ao tratamento ou se a doença vai voltar.
Um outro aspecto da farmacogenética é estudar como os marcadores vão degradar e eliminar as medicações, que têm um grau de toxicidade. Porque existem efeitos graves do tratamento, que se tornam uma lembrança de que a pessoa teve um câncer, mesmo depois de curada.
Folha - Os marcadores genéticos podem suplantar as pesquisas sobre a biologia do tumor na hora de determinar o melhor tratamento?
Rocha - Existem os dois aspectos. Um lado pouco visto é o ambiente em que o tumor está localizado --que é o indivíduo. Não podemos desvincular o tumor da pessoa. Aí é que entra o trabalho [da farmacogenética], mostrando que as características do indivíduo, herdadas dos pais, influenciam a resposta do tumor.
Folha - Qual seria o efeito da farmacogenética nos sistemas de saúde, uma vez que separa os pacientes por raça ou idade de acordo com seus marcadores genéticos?
Rocha - Acho que essas informações serão incorporadas naturalmente. Houve muita discussão quando a genética celular surgiu, porque foram descobertos marcadores de prognóstico [predisposição], e hoje lida-se muito bem com esses dados.
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