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26/11/2000 - 09h39

Equipe identifica dinossauro em São Paulo

da Folha de S. Paulo

O parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, parece ser o último lugar do mundo onde poderia repousar uma novidade paleontológica. Mas é exatamente ali que está a mais nova espécie de dinossauro descrita no Brasil.

O animal é um titanossauro, saurópode -herbívoro pescoçudo- de 15 metros de comprimento, que viveu há cerca de 80 milhões de anos, no Período Cretáceo (o último da era dos dinossauros, de 144 milhões a 65 milhões de anos atrás).

Seu nome será revelado no ano que vem, na dissertação de mestrado do geólogo Rodrigo Santucci, do Departamento de Geociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Rio Claro.

Santucci pertence a um grupo de pesquisadores que, discretamente, vem acabando com os segredos do Cretáceo brasileiro.

Eles estão rastreando os dinossauros do chamado Grupo Bauru, um conjunto de terrenos sedimentares do Cretáceo Superior (de 98 milhões a 65 milhões de anos atrás) da região do oeste paulista, Triângulo Mineiro e partes de Mato Grosso do Sul.

O titanossauro é uma de suas descobertas mais recentes. Outras são a identificação de quatro grupos nativos de deinonicossauros (grupo ao qual pertenciam os velocirraptores) e a constatação de que os velocirraptores já habitaram o interior de São Paulo.

Velha novidade
"Esse titanossauro, na verdade, é um velho novo dinossauro", disse Santucci à Folha. O que sobrou do animal -seis vértebras da cauda- foi encontrado em 1959, durante a abertura de uma ferrovia em Flórida Paulista (605 km a noroeste de São Paulo).

Na época ninguém deu muita importância. Os fósseis foram depositados no museu de geologia do parque. Ficaram por ali até que Santucci, durante um estudo, comparou aquele material a restos de outros titanossauros já descritos no Brasil e na Argentina.

"Ele é diferente de tudo o que há nos dois países", afirmou. "As saliências das vértebras e as articulações têm um formato distinto."

A descoberta é mais uma confirmação de que a América do Sul no Cretáceo era uma "Austrália": os animais que se desenvolveram aqui não tinham par no resto do planeta. Há 100 milhões de anos, a América do Sul começou a se separar da África, ficando isolada.

"Durante muito tempo o nosso continente, além de geograficamente isolado, teve também condições ambientais distintas, que levaram a linhagens evolutivas diferentes", disse o paleontólogo Reinaldo José Bertini, que coordena o grupo da Unesp.

Essas "linhagens diferentes", um eufemismo científico para "bichos esquisitos", vêm sendo encontradas na Argentina, onde as condições de preservação dos fósseis são bem melhores (leia texto ao lado). E começam a ser demonstradas no Brasil.

Um exemplo disso são quatro grupos endêmicos de deinonicossauros, identificados por Bertini e seus colaboradores. Os deinonicossauros ("lagartos de garras terríveis", em grego) eram um grupo de carnívoros ao qual pertenciam velocirraptores -os malvados do filme "Parque dos Dinossauros".

Desde o começo do século dentes desses animais vêm sendo encontrados no Estado de São Paulo. Mas não havia nenhum outro osso que pudesse ajudar a classificar as feras em grupos.

Um estudo de microscopia eletrônica feito por Bertini e pela paleontóloga Aldirene Costa Franco, em 1997, permitiu identificar animais da família dos velocirraptores. "Só se conhecia a existência desses animais na América do Norte", disse o paleontólogo.

Os dentes dos deinonicossauros têm bordas serrilhadas, como uma faca de cortar pão. Cada família tem um arranjo diferente de serrilha, que só pode ser visto com um microscópio eletrônico.

Graças a essa peculiaridade anatômica, Franco e Bertini conseguiram associar os dentes a três famílias "do norte" (velocirraptorídeos, troodontídeos e dromeossaurídeos) e mais quatro famílias "caipiras", nativas do Brasil.

"Por enquanto os novos grupos são indeterminados", disse Bertini. "Precisamos encontrar esqueletos mais completos para poder descrever as espécies."

Se a América do Sul esteve isolada no Cretáceo, como bichos do norte vieram parar aqui?

A hipótese de Bertini e Franco, formulada num trabalho a ser publicado em 2001, é que esse isolamento tenha sido quebrado por volta de 84 milhões de anos atrás.

Ponte na América Central
Nessa época, uma espécie de ponte terrestre teria surgido na América Central (que estava, então, debaixo d'água), permitindo que animais do sul passassem para o norte e vice-versa.

Os deinonicossauros, que surgiram provavelmente na Ásia no comecinho do Cretáceo e migraram para a América do Norte, aproveitaram a brecha e chegaram à América do Sul. "Aqui eles evoluíram rápido, porque as condições ambientais eram diferentes das asiáticas e das norte-americanas", afirmou Bertini.

Segundo o cientista, só grupos com grande capacidade adaptativa, como os deinonicossauros, conseguiram prosperar por aqui. Um desses grupos foi o dos hadrossauros, dinossauros de bico-de-pato. "Eles só foram encontrados na Argentina", disse Bertini.

No que depender do brasileiro, é só por enquanto.


 

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