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21/01/2005 - 09h46

Vulcões causaram pior extinção que já afetou a Terra, diz estudo

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REINALDO JOSÉ LOPES
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Milhões de anos de atividade vulcânica, arrematados com um último grande espasmo geológico, podem estar por trás da maior extinção que já afetou a Terra. Essa é a conclusão de duas equipes internacionais de pesquisadores, que examinaram os traços que a catástrofe deixou em rochas e fósseis de vários locais do mundo.

A hecatombe em questão é a grande extinção do Permiano, que acabou com 90% das formas de vida marinhas e 70% das terrestres no fim do período geológico de mesmo nome, há cerca de 250 milhões de anos.

Como no caso do desaparecimento dos dinossauros, houve quem propusesse o impacto de um grande meteorito para explicar a extinção, mas as novas evidências, publicadas hoje na revista "Science", apontam algo muito mais gradual --e nem por isso menos terrível.

Os dados vêm de duas pesquisas, uma coordenada por Peter Ward, da Universidade de Washington, em Seattle (EUA), e a outra por Kliti Grice, da Universidade Curtin de Tecnologia em Perth, Austrália.

Da África à Austrália

Ward e seus colegas se enfurnaram numa das regiões mais áridas da África do Sul, a bacia do Karoo, em busca de fósseis de animais que documentassem quem pereceu e quem agüentou a catástrofe. Já o grupo de Grice estudou a composição química de rochas na costa australiana e chinesa, para inferir o que acontecia no mar e na atmosfera nessa época.

Os cientistas australianos examinaram rochas que, na época do desastre, estariam na chamada zona fótica do oceano --a faixa onde bate a luz do Sol e as formas de vida vegetal, em tese, podem crescer.

É bom frisar o "em tese" porque Grice e seus colegas descobriram que, quando a extinção aconteceu, a zona fótica tinha tão pouco oxigênio quanto o fundo do rio Tietê --ou o de uma lagoa entupida de matéria orgânica.

Nessas condições nada hospitaleiras, parece que só não sufocaram bactérias que usam compostos de enxofre e não dependem de oxigênio. A coisa ficou tão feia que as formas do elemento carbono que normalmente são as preferidas pelos seres vivos passaram a ser absorvidas pelos minerais --sinal de que quase ninguém mais estava vivo para usá-las na construção de seu organismo.

Todos esses acontecimentos são coerentes com o aparecimento na atmosfera de grandes quantidades de enxofre (elemento liberado aos montes por vulcões) e com um período prolongado de aquecimento global, também movido a vulcanismo, segundo os cientistas.

Com o calor, quantidades colossais de metano, uma substância que turbina o efeito estufa, subiram das profundezas do oceano para o ar --e o microondas global passou a funcionar a todo vapor.

"Os animais e as plantas, tanto no mar quanto na Terra, morreram ao mesmo tempo, e aparentemente pelo mesmo motivo: calor demais e oxigênio de menos", afirmou Ward num comunicado oficial.

Além de algumas análises sobre as características químicas das rochas sul-africanas, Ward e sua equipe avaliaram detalhadamente o que aconteceu com os bichos terrestres --e chegaram à conclusão de que o sumiço foi lento e gradual, ao menos na maior parte do tempo.

Entra e sai

Em sete anos de trabalho, a equipe coletou 126 crânios de vertebrados que viveram pouco antes, durante e logo depois da hecatombe. Muitos deles pertenciam ao grupo dos dicinodontes, répteis herbívoros aparentados aos mamíferos que sofreram muito com a extinção, mas ainda sobreviveram até o período geológico posterior, o Triássico.

Acontece que as espécies vão desaparecendo durante todo o último terço das camadas de rocha correspondentes ao Permiano. São quatro extinções ao longo de cerca de 10 milhões de anos, até um último espasmo mortal, com seis baixas, nas proximidades da fronteira com o Triássico. Ao mesmo tempo, muitas espécies estavam surgindo enquanto o desastre se prolongava. Algumas sobreviveram às mais antigas.

No fim das contas, diz Ward, o oxigênio da atmosfera se tornou tão rarefeito quanto o de uma montanha de 4.200 m. Com todas essas evidências, "concluímos que, se um impacto [de asteróide] aconteceu, ele teve apenas um papel menor na extinção", escrevem os cientistas.

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