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27/01/2005
-
10h43
SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo
Eles foram criados no princípio dos tempos. Ainda estão por aí, vagando pelo Universo, atravessando corpos como se eles não existissem e somente em raras ocasiões interagindo com a matéria normal. Quem você vai chamar? Com certeza, não os Caça-Fantasmas. Mas tente Ben Moore, do Instituto de Física Teórica da Universidade de Zurique, Suíça.
Usando um poderoso supercomputador para simular nada menos que a evolução do Universo quase desde o Big Bang (começando uns 20 milhões de anos depois da explosão que teria dado origem ao cosmos), ele chegou à conclusão de que os primeiros objetos formados foram nuvens com o tamanho do Sistema Solar e a massa da Terra, feitos de partículas que ninguém consegue ver.
Esses chamados "halos" ainda existem por aí e varrem o planeta (e tudo que há nele, inclusive nós) a cada poucos milhares de anos. E há um bocado deles lá fora. Só nos arredores da Via Láctea, a galáxia na qual o Sistema Solar está, haveria cerca de 1 milhão de bilhões de objetos como esses, se os cálculos de Moore estiverem corretos. É 10 mil vezes mais do que o número de estrelas na mesma região.
"Eles são mais como nuvens de partículas, mais concentradas na região do centro", disse o cientista à Folha. Seu estudo, publicado na edição de hoje da revista científica britânica "Nature", ajuda a explicar onde está toda a matéria do Universo.
Minoria
O mistério intriga os cientistas há décadas. Ao somarem todas as estrelas e galáxias que podem ver, eles descobriram que essa matéria "comum" não responde nem por 5% de toda a massa que deveria haver para explicar alguns efeitos gravitacionais observados, como, por exemplo, o ritmo de rotação de galáxias (que é mais rápido do que deveria ser se as estrelas e o gás fossem tudo o que há por lá).
À massa faltante os cientistas deram o auspicioso nome de "matéria escura", e ninguém até hoje sabe o que ela é de fato. Os grupo de Ben Moore aposta que ela é composta por partículas chamadas de neutralinos, os primos ricos dos neutrinos.
"Bem, neutrinos e neutralinos são bem parecidos, ambos têm massa e ambos interagem bem fracamente com os átomos normais. Portanto, os dois passam direto por nosso corpo em enormes quantidades a cada segundo", diz Moore. "A principal diferença é a sua massa --a do neutralino é bem maior."
Um problema para a hipótese defendida por Moore, que hoje é a principal candidata a explicar a matéria escura, é o fato de que, diferente dos neutrinos, nunca ninguém conseguiu ver um neutralino. E a própria idéia vem da teoria de que existe uma "supersimetria" entre partículas, algo que também não foi confirmado.
Mas não o será por muito tempo, segundo Moore. "O Grande Colisor de Hádrons [LHC, na sigla em inglês], no Cern [principal laboratório de física de partículas na Europa], irá detectar evidências da supersimetria e dos neutralinos, se eles estiverem lá!"
Segundo ele, a tal supersimetria, embora não-comprovada, é uma idéia consolidada. "Não é tão controversa --grande parte da motivação para gastar os bilhões de dólares que o LHC vai custar é demonstrar a existência da supersimetria. Os cientistas em geral não gastam esse monte de dinheiro sem uma razão muito boa."
Segundo o grupo, também será possível detectar uma nuvem de neutralinos no espaço, caso ela exista mesmo --ela emitiria raios gama, o tipo de radiação eletromagnética mais energético do Universo, num padrão bem distinto, reconhecível.
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Eles foram criados no princípio dos tempos. Ainda estão por aí, vagando pelo Universo, atravessando corpos como se eles não existissem e somente em raras ocasiões interagindo com a matéria normal. Quem você vai chamar? Com certeza, não os Caça-Fantasmas. Mas tente Ben Moore, do Instituto de Física Teórica da Universidade de Zurique, Suíça.
Usando um poderoso supercomputador para simular nada menos que a evolução do Universo quase desde o Big Bang (começando uns 20 milhões de anos depois da explosão que teria dado origem ao cosmos), ele chegou à conclusão de que os primeiros objetos formados foram nuvens com o tamanho do Sistema Solar e a massa da Terra, feitos de partículas que ninguém consegue ver.
Esses chamados "halos" ainda existem por aí e varrem o planeta (e tudo que há nele, inclusive nós) a cada poucos milhares de anos. E há um bocado deles lá fora. Só nos arredores da Via Láctea, a galáxia na qual o Sistema Solar está, haveria cerca de 1 milhão de bilhões de objetos como esses, se os cálculos de Moore estiverem corretos. É 10 mil vezes mais do que o número de estrelas na mesma região.
"Eles são mais como nuvens de partículas, mais concentradas na região do centro", disse o cientista à Folha. Seu estudo, publicado na edição de hoje da revista científica britânica "Nature", ajuda a explicar onde está toda a matéria do Universo.
Minoria
O mistério intriga os cientistas há décadas. Ao somarem todas as estrelas e galáxias que podem ver, eles descobriram que essa matéria "comum" não responde nem por 5% de toda a massa que deveria haver para explicar alguns efeitos gravitacionais observados, como, por exemplo, o ritmo de rotação de galáxias (que é mais rápido do que deveria ser se as estrelas e o gás fossem tudo o que há por lá).
À massa faltante os cientistas deram o auspicioso nome de "matéria escura", e ninguém até hoje sabe o que ela é de fato. Os grupo de Ben Moore aposta que ela é composta por partículas chamadas de neutralinos, os primos ricos dos neutrinos.
"Bem, neutrinos e neutralinos são bem parecidos, ambos têm massa e ambos interagem bem fracamente com os átomos normais. Portanto, os dois passam direto por nosso corpo em enormes quantidades a cada segundo", diz Moore. "A principal diferença é a sua massa --a do neutralino é bem maior."
Um problema para a hipótese defendida por Moore, que hoje é a principal candidata a explicar a matéria escura, é o fato de que, diferente dos neutrinos, nunca ninguém conseguiu ver um neutralino. E a própria idéia vem da teoria de que existe uma "supersimetria" entre partículas, algo que também não foi confirmado.
Mas não o será por muito tempo, segundo Moore. "O Grande Colisor de Hádrons [LHC, na sigla em inglês], no Cern [principal laboratório de física de partículas na Europa], irá detectar evidências da supersimetria e dos neutralinos, se eles estiverem lá!"
Segundo ele, a tal supersimetria, embora não-comprovada, é uma idéia consolidada. "Não é tão controversa --grande parte da motivação para gastar os bilhões de dólares que o LHC vai custar é demonstrar a existência da supersimetria. Os cientistas em geral não gastam esse monte de dinheiro sem uma razão muito boa."
Segundo o grupo, também será possível detectar uma nuvem de neutralinos no espaço, caso ela exista mesmo --ela emitiria raios gama, o tipo de radiação eletromagnética mais energético do Universo, num padrão bem distinto, reconhecível.
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