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14/02/2005 - 10h33

Mudanças no genoma humano podem explicar doenças

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Já era humilhante saber que os seres humanos têm mais ou menos a mesma quantidade de genes que um camundongo. Agora, cientistas no Reino Unido descobriram que até na capacidade de controlar seus genes os roedores ganham do Homo sapiens. Comparadas ao genoma desses bichos, as áreas que comandam o funcionamento do DNA humano estão caindo aos pedaços.

Peter Keightley, da Universidade de Edinburgo, e seus colegas Martin Lercher, da Universidade de Bath, e Adam Eyre-Walker, da Universidade de Sussex, flagraram nada menos que 140 mil mutações nessas regiões de controle do genoma de humanos e chimpanzés (Pan troglodytes), seus parentes mais próximos. Já os camundongos (Mus musculus) e seus primos ratos (Rattus rattus) têm essas regiões cerca de cem vezes mais conservadas.

"Estamos acostumados a nos ver como o pináculo da evolução, mas ver que roedores controlam seus genes de forma muito mais precisa nos traz de volta à sobriedade", afirma Lechner. O estudo está na edição deste mês da revista científica "PLoS Biology".

Para os pesquisadores, o tamanho pequeno das populações de humanos e chimpanzés durante quase toda a sua evolução é o principal culpado pela esclerose genômica. E as alterações que a compõem poderiam ajudar a entender muitas das doenças que afetam as pessoas hoje.

O trabalho da equipe britânica não analisou os genes propriamente ditos. Houve uma época em que os cientistas acreditavam que os genes reinassem sozinhos no DNA de um ser vivo: transcritos na forma de mRNA, ou RNA mensageiro, eles orientariam passo a passo a produção de proteínas graças a seu código de quatro "letras" bioquímicas, governando todos os processos da célula.

O fato é que o genoma é um sistema muito mais complicado. Para começar, os próprios genes estão recheados de "letras" químicas que não vão servir de base para proteínas. São os chamados íntrons, cortados do "texto" genômico ainda na forma de mRNA. O que sobra são os éxons, cuja tradução em aminoácidos (as unidades básicas das proteínas) dá origem à substância final.

Acontece que os íntrons têm papel importante na produção dos genes, assim como as seqüências que não codificam proteínas, mas estão relativamente próximas das que codificam. Uma molécula que se ligue a essas seqüências de DNA, por exemplo, poderia bloquear a transcrição de um gene.

Keightley e seus colegas concentraram sua análise justamente nessas áreas. Na análise, entraram cerca de mil genes bem conhecidos de humanos e chimpanzés, assim como uma amostra comparável dos roedores. A idéia era ver o quanto essas seqüências reguladoras eram conservadas, ou seja, haviam se transformado pouco ao longo da evolução. Se a região mudou pouco ou nada, quer dizer que deve ser essencial para a sobrevivência daquela criatura.

O resultado mostrou que, em muitos casos, a taxa de mutações dos roedores foi um centésimo da dos humanos. E mais: por meios estatísticos, eles estimaram que as tais 140 mil mutações são "levemente deletérias" --ou seja, nocivas, mas não demais.

Segundo os pesquisadores, é muito provável que os microdefeitos genômicos tenha se acumulado porque, na maior parte da história evolutiva humana, havia poucos indivíduos em idade de se reproduzir --algo em torno de 10 mil ou 20 mil. Com tão pouca gente disponível, a seleção natural não podia se dar ao luxo de eliminar os "genes podres".

Já os roedores, com populações muito maiores, sofreram uma competição genética muito mais aguçada, até que apenas os mais "perfeitos" sobreviveram. Segundo Keightley, as doenças humanas mais comuns e complexas com componente genético poderiam derivar daí.

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