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21/02/2005
-
10h21
CLAUDIO ANGELO
da Folha de S.Paulo, em Washington
A paranóia americana pós-11 de Setembro chegou a tal ponto que os terroristas, se tentarem contrabandear armas nucleares para o país, terão agora de enfrentar um vigia onipresente, vindo do espaço. Um dos laboratórios de armas atômicas dos EUA acaba de desenvolver um sistema que usa partículas vindas de raios cósmicos para detectar urânio ilegal.
A base teórica do sistema foi apresentada anteontem, durante a reunião anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que termina hoje em Washington. Seus proponentes, físicos do Laboratório Nacional de Los Alamos, afirmam que ele pode chegar ao mercado em três meses, se houver financiamento.
Para flagrar o contrabando de material atômico, o sistema utiliza partículas chamadas múons, presentes nos raios cósmicos que bombardeiam a Terra o tempo todo. O múon é uma versão obesa do elétron, ou seja, ele tem carga e só interage eletricamente com o resto da matéria. Enquanto você lê este texto, cada centímetro quadrado do seu corpo é atravessado por um múon a cada minuto.
O grupo liderado pelos físicos Chris Morris e Rick Chartrand se aproveitou da abundância dessas partículas para elaborar um método de detecção capaz de encontrar urânio enriquecido e plutônio misturados em uma carga qualquer -- esferas de ferro, por exemplo. O sistema funcionaria da mesma forma que uma máquina de raios X de aeroporto, na qual a diferença de intensidade com que as ondas penetram um material denuncia seu formato.
As distinções importantes, no caso, são o custo -- raios X precisam ser produzidos por algum aparelho, enquanto os raios cósmicos simplesmente estão aí -- e o detalhe nada desprezível de que múons detectam o que raios X não "enxergam": materiais escondidos debaixo de grossas camadas de elementos químicos pesados, como chumbo e ouro.
Carga pesada
Morris e Chartrand partiram do princípio de que um terrorista, se quisesse contrabandear material para uma bomba atômica -- digamos, uma carga de cinco quilos de urânio enriquecido --, iria embrulhá-lo de modo a passar despercebido por detectores comuns de radioatividade. Os cientistas sabem que, para produzir um pacote desses, seria necessário, no mínimo, 30 kg de chumbo.
Os físicos também sabem que os múons possuem uma característica especial: eles decaem, perdem energia e sofrem desvios ínfimos de rota ao interagir com qualquer forma de matéria. "O material nuclear vai causar desvios muito maiores", diz Chartrand.
A chamada radiografia de raios cósmicos se aproveita disso. Um sistema computacional desenvolvido por Chartrand mede o espalhamento dos múons ao atingir uma amostra de urânio escondida num contêiner com ferro.
O detector é composto de placas formadas por tubos de vidro cheios de gás com um fio metálico no meio, que ficam em cima e embaixo da amostra, como uma caixa. Ao atingir o fio, o múon faz os elétrons se moverem e é flagrado.
"Nós medimos a posição do raio que chega e do raio que sai, e vemos em que ponto da amostra os dois se encontram", contou o pesquisador. Testes feitos por ele e sua equipe até agora conseguiram detectar 97% dos contêineres com material nuclear após 60 segundos de exposição.
"A nossa análise ainda é rudimentar, e quanto mais tempo de exposição, maior é a resolução da radiografia", diz. Segundo Morris, um aparelho de detecção para examinar caminhões em postos de controle em fronteiras poderia ser construído por US$ 1 milhão.
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da Folha de S.Paulo, em Washington
A paranóia americana pós-11 de Setembro chegou a tal ponto que os terroristas, se tentarem contrabandear armas nucleares para o país, terão agora de enfrentar um vigia onipresente, vindo do espaço. Um dos laboratórios de armas atômicas dos EUA acaba de desenvolver um sistema que usa partículas vindas de raios cósmicos para detectar urânio ilegal.
A base teórica do sistema foi apresentada anteontem, durante a reunião anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que termina hoje em Washington. Seus proponentes, físicos do Laboratório Nacional de Los Alamos, afirmam que ele pode chegar ao mercado em três meses, se houver financiamento.
Para flagrar o contrabando de material atômico, o sistema utiliza partículas chamadas múons, presentes nos raios cósmicos que bombardeiam a Terra o tempo todo. O múon é uma versão obesa do elétron, ou seja, ele tem carga e só interage eletricamente com o resto da matéria. Enquanto você lê este texto, cada centímetro quadrado do seu corpo é atravessado por um múon a cada minuto.
O grupo liderado pelos físicos Chris Morris e Rick Chartrand se aproveitou da abundância dessas partículas para elaborar um método de detecção capaz de encontrar urânio enriquecido e plutônio misturados em uma carga qualquer -- esferas de ferro, por exemplo. O sistema funcionaria da mesma forma que uma máquina de raios X de aeroporto, na qual a diferença de intensidade com que as ondas penetram um material denuncia seu formato.
As distinções importantes, no caso, são o custo -- raios X precisam ser produzidos por algum aparelho, enquanto os raios cósmicos simplesmente estão aí -- e o detalhe nada desprezível de que múons detectam o que raios X não "enxergam": materiais escondidos debaixo de grossas camadas de elementos químicos pesados, como chumbo e ouro.
Carga pesada
Morris e Chartrand partiram do princípio de que um terrorista, se quisesse contrabandear material para uma bomba atômica -- digamos, uma carga de cinco quilos de urânio enriquecido --, iria embrulhá-lo de modo a passar despercebido por detectores comuns de radioatividade. Os cientistas sabem que, para produzir um pacote desses, seria necessário, no mínimo, 30 kg de chumbo.
Os físicos também sabem que os múons possuem uma característica especial: eles decaem, perdem energia e sofrem desvios ínfimos de rota ao interagir com qualquer forma de matéria. "O material nuclear vai causar desvios muito maiores", diz Chartrand.
A chamada radiografia de raios cósmicos se aproveita disso. Um sistema computacional desenvolvido por Chartrand mede o espalhamento dos múons ao atingir uma amostra de urânio escondida num contêiner com ferro.
O detector é composto de placas formadas por tubos de vidro cheios de gás com um fio metálico no meio, que ficam em cima e embaixo da amostra, como uma caixa. Ao atingir o fio, o múon faz os elétrons se moverem e é flagrado.
"Nós medimos a posição do raio que chega e do raio que sai, e vemos em que ponto da amostra os dois se encontram", contou o pesquisador. Testes feitos por ele e sua equipe até agora conseguiram detectar 97% dos contêineres com material nuclear após 60 segundos de exposição.
"A nossa análise ainda é rudimentar, e quanto mais tempo de exposição, maior é a resolução da radiografia", diz. Segundo Morris, um aparelho de detecção para examinar caminhões em postos de controle em fronteiras poderia ser construído por US$ 1 milhão.
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