Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
09/03/2005 - 10h31

Tomografia nega assassinato de Tutancâmon

Publicidade

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

O mistério de 3.300 anos em torno da morte do mais famoso dos faraós foi resolvido, anunciaram ontem arqueólogos egípcios. Com a ajuda de uma tomografia computadorizada, eles dizem ter determinado que o célebre Tutancâmon, cuja tumba foi achada em 1922, não foi assassinado.

Associated Press
"Acredito que esses resultados encerrarão o caso de Tutancâmon, e que o rei não precisará ser examinado de novo. Agora, devemos deixá-lo descansar", afirmou o egiptólogo Zahi Hawass, secretário-geral do Conselho Supremo de Antigüidades do Egito.

Na verdade, há um certo exagero na segurança de Hawass, já que a causa exata da morte do chamado rei-menino (não devia passar dos 19 anos quando foi mumificado) não foi elucidada --não há, por exemplo, como descartar totalmente envenenamento. Parte do comitê que conduziu a análise do corpo considera que uma fratura no fêmur esquerdo (o osso da coxa) teria acontecido pouco antes que ele morresse, gerando uma infecção fatal.

Outros membros do grupo, no entanto, sugerem que o osso foi quebrado pela equipe do arqueólogo britânico Howard Carter, que descobriu o túmulo nos anos 1920.

"Desde os anos 1960, quando foram feitas as primeiras radiografias do corpo, havia essa hipótese do assassinato, mas ela só ganhou força nos últimos anos", conta o egiptólogo Antonio Brancaglion Júnior, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Um dos motivos da popularidade da idéia, explica ele, é seu apelo cinematográfico. Alguns detalhes da biografia de Tutancâmon, morto por volta do ano 1350 a.C., acabaram criando essa aura. Para começar, ele era parente próximo --muito provavelmente filho-- do polêmico faraó Aquenaton. Esse rei tentou implantar a adoração de um só deus, Aton, num Egito que adorava dezenas, despertando a ira dos sacerdotes.

Além disso, a mulher de Tutancâmon, Anquesenâmon, acabou se casando com o vizir (espécie de primeiro-ministro) do menino-rei, Aye. No fim das contas, o sujeito se tornou faraó, criando os rumores de um golpe baixo. "Você tem todos os ingredientes de um romance", diz Brancaglion. "E as radiografias tinham mostrado uma mancha na base do crânio, que poderia ter surgido de um coágulo, assim como um osso solto, considerado por alguns o resultado de uma pancada."

Para completar a confusão, os carros de guerra achados na KV62 (nome técnico da tumba de Tutancâmon) poderiam indicar que o jovem rei adorava caçar a alta velocidade --e teria levado um tombo sério, talvez fatal.

Post-mortem

A análise de tomografia computadorizada confirmou a presença de dois fragmentos soltos de crânio, mas a equipe foi unânime em afirmar que "não é possível que eles venham de um ferimento antes da morte, porque teriam ficado presos no material embalsamador." Aliás, o complicado processo usado pelos egípcios para preparar seus reis para o outro mundo talvez seja a chave para entender a fratura.

Uma das etapas da mumificação consistia exatamente em enfiar pinças pelo nariz do morto e, com elas, extrair o seu cérebro. "Nas nossas múmias [do Museu Nacional], é comum você ver fraturas do osso que separa o nariz da cavidade craniana, e às vezes fica algum fragmento", diz Brancaglion. Essa é uma das hipóteses da equipe egípcia; a outra é que a equipe de Carter teria causado mais esse problema no corpo.

Não seria nada de mais, considerando-se o estado, digamos, rudimentar da arqueologia na época. "Ninguém dava bola para a múmia", afirma o egiptólogo brasileiro. "Todos estavam muito mais interessados nas jóias, e ela acabou sendo muito maltratada." O pesquisador, contudo, diz estranhar o desacordo dentro da própria equipe do Cairo a respeito da suposta infecção na perna. "Se houve um processo de cicatrização e infecção, os patologistas achariam sinais muito claros."

Seja como for, a análise mostrou que Tutancâmon teve uma infância saudável, com alimentação adequada e sem doenças infecciosas, a julgar pela condição dos seus ossos. O crânio do soberano, bastante alongado, não corresponderia uma deformidade, de acordo com os pesquisadores, e a coluna vertebral torta também teria surgido durante o embalsamento.

Além da causa exata da morte, mais um mistério deve permanecer no ar: o parentesco do rei com outros membros da nobreza egípcia. Isso porque os arqueólogos do Egito, e em especial Hawass, são completamente avessos a análises de DNA, consideradas invasivas por eles.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o faraó Tutancâmon
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página