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08/04/2005 - 11h14

Três macacos brasileiros estão na lista dos primatas mais ameaçados

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Três macacos brasileiros, todos típicos da mata atlântica, integram a lista dos 25 primatas mais ameaçados do planeta, divulgada ontem. Esse ranking sombrio, feito pela União Mundial para a Natureza, pela Sociedade Internacional de Primatologia e pela ONG Conservação Internacional, também sugere que nada menos que 25% desses bichos, os parentes mais próximos do homem, correm algum risco de extinção.

Madagáscar e Vietnã são as nações com o maior número de espécies em estado crítico (cada país tem quatro), mas o Brasil vem logo atrás, junto com a Indonésia. Como não é de surpreender, os bichos em perigo se concentram nos chamados "hotspots" da biodiversidade --os lugares da Terra que combinam alta variedade de espécies com habitats que encolhem cada vez mais.

Todos os macacos brasileiros ameaçados habitam regiões altamente fragmentadas da mata atlântica. O macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus xanthosternos) já foi comum nas florestas da Bahia e do norte de Minas Gerais, mas hoje sua maior população, na Reserva Biológica de Una (BA), não passa de 185.

Para piorar, os habitantes das regiões onde vive o consideram uma iguaria, razão pela qual a caça é uma das principais ameaças à sobrevivência da espécie.

O muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) está espalhado por Minas, Espírito Santo e Rio de Janeiro, além de já ter existido na Bahia. No total, são conhecidos entre 700 e 1.000 membros da espécie, cujo bando mais numeroso está em Caratinga (MG).

Já o mico-leão-da-cara-preta (Leontopithecus caissara) está espremido entre São Paulo e Paraná, com uma população total de 400 indivíduos. Desses, 180 vivem no Parque Nacional do Superagüi (PR), na ilha de mesmo nome. São todos bichos que sofrem com um problema comum aos demais primatas ameaçados: habitat de menos --e sob pressão, ainda por cima.

"Formiguinha"

É o que afirma o biólogo Luiz Paulo Pinto, diretor da Conservação Internacional para a mata atlântica. "Não é uma pressão da magnitude do que a gente vê no cerrado, por causa da soja, mas é um processo histórico de redução do habitat. Ele continua como um trabalho de formiguinha, lento mas contínuo, e difícil de detectar", disse o pesquisador à Folha.

Um dos grandes problemas desse processo na mata atlântica é o isolamento de populações dos bichos em fragmentos florestais que não chegam nem perto da magnitude original. Nesses casos, a espécie começa a sofrer uma espécie de erosão lenta e contínua de seu habitat, mesmo sem destruição ativa.

É que os fragmentos, por estarem cercados de áreas não-nativas, recebem uma proporção muito maior de espécies invasoras, que competem com as originais, além de parâmetros diferentes de luminosidade e umidade.

Tudo isso muda a "cara" do fragmento, em especial a sua composição de espécies vegetais, o que pode levar um animal à inanição por causa da perda de suas fontes de alimento.

Outro problema grave é que torna-se quase impossível viajar de um fragmento a outro se houver, por exemplo, uma lavoura no meio. Assim, as populações ficam geneticamente isoladas, o que pode ser a receita para seu progressivo desaparecimento: seu DNA fica menos variado, e os bichos, mais suscetíveis a doenças de todo tipo.

O desaparecimento das espécies de primatas pode afetar justamente as plantas das quais eles se alimentam, afirma Luiz Paulo Pinto: "Estudos feitos na mata atlântica do Nordeste acima do rio São Francisco, de onde desapareceram animais grandes e comedores de frutas, como os jacus e os macacos, mostram uma perda da capacidade de reprodução das espécies arbóreas". É que, no ato de comer as frutas, os bichos carregam as sementes consigo e as dispersam com suas fezes.

Em comunicado oficial, Russell Mittermeier, presidente da Conservação Internacional e especialista em primatas, chamou a atenção para o estado crítico dos lêmures de Madagáscar.

Trata-se de um dos subgrupos mais primitivos dessa ordem de animais, essencial para entender os primeiros passos da evolução humana. "Mais da metade dos lêmures exclusivos da região está sob ameaça de extinção. Precisamos de medidas imediatas", afirmou.

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