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22/06/2005 - 16h24

Revista francesa reforça tese da falsidade do Santo Sudário

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RICHARD IHGHAM
da France Presse, em Paris

A revista científica francesa "Science et Vie" ("Ciência e Vida") informou nesta terça-feira que realizou experiências que provam que o Santo Sudário, considerado por alguns cristãos a relíquia mais sagrada do Catolicismo, é falso. "Uma técnica medieval nos ajudou a produzir um sudário", afirmou a revista na edição que sairá em julho.

O sudário é apontado por seus defensores como o tecido que envolveu o corpo de Jesus Cristo, após ter sido retirado da cruz.

Nele é possível ver a imagem de um homem ensangüentado com orifícios nas mãos, bem como ferimentos no corpo e na cabeça, resultantes aparentemente de crucificação, de esfaqueamento com lança e de coroa de espinhos descritos pela Bíblia na Paixão de Cristo.

Em 1988, cientistas submeteram o delicado tecido de linho ao exame de datação por carbono 14 e concluíram que o material foi produzido entre 1260 e 1390. Seu estudo impeliu o então arcebispo de Turim, onde está o sudário, a admitir que a peça era falsa. Mas o debate foi reativado em janeiro deste ano.

Com base em um método já usado por céticos para atacar as alegações de autenticidade sobre o sudário, a revista "Science et Vie" pediu a um artista que fizesse um baixo-relevo --uma escultura que se destaca do fundo ao redor-- da face de Cristo.

Em seguida, um cientista colocou um pedaço de linho umedecido sobre o baixo-relevo e o deixou secar, de forma que o tecido fino moldasse a face esculpida.

Usando fibras de algodão, ele cuidadosamente esfregou óxido férrico misturado com gelatina sobre o tecido para produzir marcas semelhantes ao sangue. Quando o tecido foi virado do avesso, as marcas do outro lado revelaram a famosa imagem do Cristo crucificado.

A gelatina, um produto de origem animal rico em colágeno, era usada com freqüência por pintores da Idade Média como fixador de pigmentos sobre tecidos ou madeira.

A imagem impressa revelou-se resistente a lavagens, a temperaturas de até 250 graus Celcius e à exposição a uma série de fortes produtos químicos, como o bissulfito que, sem a ajuda da gelatina, normalmente teria decomposto o óxido férrico no complexo óxido ferroso.

Segundo a publicação, as experiências respondem a várias questões apresentadas pelos defensores do sudário, segundo os quais as marcas não poderiam ter sido pintadas sobre o tecido.

De um lado, alegam os defensores, negativos fotográficos e scanners mostraram que a imagem só poderia ter sido produzida por um objeto tridimensional, em vista da largura do rosto, e das maçãs e nariz pronunciados. Além disso, afirmam, não foram encontrados sinais de pincéis. E, argumentam, nenhum pigmento poderia ter sobrevivido a séculos de exposição ao calor, à luz e à fumaça.

Para Jacques di Costanzo, do Hospital Universitário de Marselha (sul da França), que realizou as experiências, o falsificador medieval também deve ter usado um baixo-relevo, uma escultura ou cadáver para imprimir a imagem em 3-D.

Ele usou um tecido ao invés de um pincel para fazer as marcas e usou gelatina para manter as imagens com marcas semelhantes a sangue permanentemente fixas e brilhantes no fervilhante mercado de relíquias religiosas.

Para provar sua hipótese, di Costanzo usou óxido férrico, mas nenhuma gelatina, para fazer outras impressões, mas todas as marcas desapareceram quando o tecido foi lavado ou exposto a testes com produtos químicos.

Ele também impregnou o baixo-relevo com um complexo amoníaco criado para representar o suor humano e também creme de babosa, uma planta que era usada por judeus para auxiliar no embalsamamento na época de Cristo.
Ele colocou o tecido sobre o baixo-relevo por 36 horas --tempo aproximado que Cristo teria ficado sepultado antes de ressuscitar--, mas durante este tempo nenhuma marca ficou impressa nele.

"Obviamente é mais fácil fazer um falso sudário que um verdadeiro", escreve a revista "Science et Vie".

A primeira evidência documentada do sudário remonta a 1357, quando a peça apareceu em uma igreja de Lirey, perto da cidade francesa de Troyes. Em 1390, o papa Clemente 7º declarou que não se tratava do sudário verdadeiro, mas poderia ser usado como representação deste, desde que os fiéis soubessem que não era genuíno.

Em janeiro deste ano, o químico americano Raymond Rogers disse que as amostras de rádio-carbono do estudo feito em 1988 foram tiradas de uma peça que havia sido confeccionada por freiras que repararam o sudário depois de ter sido danificado em um incêndio, em 1532.

Rogers disse que sua análise de outras amostras, baseada nos níveis de um produto químico chamado vanilina que resulta da decomposição do linho e outras plantas, revelou que o sudário poderia ter '"de 1.300 a 3.000 anos".

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