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02/08/2005 - 09h23

USP e indústria firmam acordo para fazer tecido "indesbotável"

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

Se depender de um grupo de pesquisadores da USP de São Carlos (interior de São Paulo) e de uma das principais empresas têxteis do país, não é impossível que as camisas de viscose do futuro carreguem uma etiqueta com os dizeres "Produto à base de nanotecnologia" --e não desbotem nem com reza brava.

Essa é uma das possibilidades levantadas por uma parceria firmada no mês passado entre o Instituto de Física de São Carlos e a Santista Têxtil, cuja intenção é aplicar estratégias nanotecnológicas (que manipulam objetos na escala dos nanômetros, ou seja, dos milionésimos de milímetro) à fabricação de tecidos. "A parceria tem um caráter bastante exploratório", afirma o físico Osvaldo Novais de Oliveira Júnior, da USP.

"Queremos ver quais são as oportunidades para a nanotecnologia na área têxtil", explica o pesquisador. "Algumas empresas já trabalham com tecidos nanoestruturados, mas praticamente não existem produtos que chegaram a ser comercializados. Ainda fica muito caro transferir a tecnologia", diz Manoel Areias Neto, gerente corporativo de inovação da Santista.

"A idéia é fazer com que o preço baixe para o nosso consumidor final." A empresa, em princípio, entrará com um investimento de R$ 52,5 mil para bolsas de pesquisadores, num projeto que também receberá financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Grudado

Segundo Oliveira Júnior, um dos motivos do interesse da empresa foi a aplicação de uma técnica desenvolvida por ele e seus colegas à fixação de corantes nas fibras de viscose. "Nós já a utilizávamos na formação de filmes [películas] ultrafinos para sensores ou dispositivos luminescentes."

A coisa, na verdade, é bastante simples: as fibras são mergulhadas numa solução que contém as moléculas de corante com cargas elétricas positivas e negativas. Com a ajuda da eletricidade, camadas alternadas positivas e negativas, todas muito finas (com espessura que pode ser inferior a um nanômetro), vão sendo depositadas sobre a fibra. "Dessa forma, você consegue um contato íntimo entre o corante e o tecido", explica o físico. Espera-se que essa interação diminua muito a perda do corante original.

Outras idéias envolvem a manipulação das fibras para que elas sejam mais ou menos hidrofílicas --ou seja, interajam mais ou menos com a água, o que poderia produzir, por exemplo, roupas mais fáceis de secar. Oliveira Júnior vê também a possibilidade de criar tecidos que liberem substâncias antibacterianas ou fungicidas. "Você não teria de se preocupar muito se uma criança usando uma roupa como essa fosse brincar num lugar sujo", brinca.

Nesse caso, a chave é a liberação controlada e gradual das moléculas desejadas. Para isso, poderiam ser usados os lipossomos, substâncias da família das gorduras que integram a membrana das células vivas e são semipermeáveis --deixam passar algumas moléculas, enquanto retêm outras. "Nós já conseguimos utilizar lipossomos para esse fim em filmes sólidos", afirma o físico da USP.

O primeiro passo do projeto será revisar as abordagens do tipo que já estão sendo testadas, bem como patentes, para evitar conflitos de propriedade intelectual. Caso novos materiais sejam patenteados pela parceria, os royalties serão divididos entre a USP e a Santista. "Vamos colocar nosso laboratório em Tatuí [também no interior paulista] à disposição da universidade, e um engenheiro químico trabalhará o tempo todo com eles", diz Areias Neto.

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