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02/09/2005 - 09h27

Goianos querem obter linhagens de células embrionárias em um ano

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da Folha de S.Paulo

O primeiro projeto de pesquisa do país com a intenção de criar suas próprias linhagens de células-tronco embrionárias humanas tem um objetivo modesto, mas importante: entender como tais entidades se mantém essencialmente "imortais", dividindo-se sem parar no tubo de ensaio.

A proposta, capitaneada pela química Lidia Andreu Guillo, do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Goiás, foi a única contemplada por um edital do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) divulgado nesta semana a envolver a obtenção de células-tronco embrionárias humanas nacionais.

"Queremos compreender isso trabalhando exclusivamente in vitro, no começo só com células-tronco embrionárias de coelhos. Depois de um ano, deveremos começar a trabalhar com células humanas", afirma Guillo.

O edital do CNPq corresponde à primeira liberação de verbas para esse tipo de pesquisa no Brasil após a aprovação da Lei de Biossegurança, em março deste ano. A nova legislação permitiu que embriões humanos que seriam descartados por clínicas de fertilização assistida fossem usados como fonte de células-tronco.

A pressão da comunidade científica para que a liberação desse tipo de estudo acontecesse se justifica pela imensa versatilidade fisiológica das células-tronco embrionárias (ou ESTs, na sigla inglesa). Está comprovado que elas são capazes de assumir a função de qualquer tecido do organismo humano, dos nervos aos músculos.

Outras células-tronco, vindas de tecidos adultos, também parecem ter certa maleabilidade, mas em grau menor. No entanto, para obter as ESTs, é preciso destruir os embriões humanos de poucos dias de vida e cerca de 200 células que as abrigam, o que gera violentas objeções éticas a seu uso por parte de alguns grupos.

Surpresa

Após a divulgação do edital, especialistas da área no Brasil se disseram surpresos com o fato de que, aparentemente, os projetos aprovados não continham propostas para criar linhagens de ESTs no Brasil. A pesquisa de Guillo contraria essa impressão.

Guillo explica que a idéia do projeto, que será desenvolvida em parceria com pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás e com especialistas em reprodução humana, é entender os fatores que regulam a proliferação das células-tronco.

"Precisamos garantir que haja sempre um número suficiente de células. Só assim é viável estudá-las", ressalta. "Sabemos que é difícil manusear os embriões e descongelá-los. A viabilidade [o número de linhagens estáveis de células que podem ser derivadas dos embriões] vai ser pequena."

Um dos fatores-chave para garantir que as células-tronco continuem se multiplicando indefinidamente pode ser a troca de sinais químicos entre elas. Para garantir que esse processo transcorra, a idéia é inserir nelas minúsculas partículas magnéticas, com tamanho da ordem de nanômetros (ou seja, milionésimos de milímetro).

"Com a ajuda de um campo magnético, poderemos agrupá-las e facilitar esse envio de sinais entre elas", afirma a pesquisadora. A primeira fase, apenas com células-tronco de coelhos, está programada para durar um ano. "Mas, se tivermos sorte, depois de seis ou sete meses poderemos começar a descongelar os primeiros embriões humanos", afirma Guillo. Uma clínica de fertilização in vitro de Goiânia deverá fornecer os blastocistos (como são chamados os embriões na fase em que as ESTs estão presentes).

Por enquanto, o grupo não tem planos definidos para o que seria o passo seguinte: descobrir como controlar a transformação das células-tronco em membros "definidos" dos tecidos, como neurônios ou células cardíacas. "Há grupos mais avançados que nós nessa área", diz Guillo.

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