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03/12/2000
-
12h25
da Folha de S.Paulo, em Londres
No século 17, respeitáveis cirurgiões em Amsterdã dissecavam corpos humanos em anfiteatros próprios e atraíam platéia ávida. Pagava-se apenas o ingresso para garantir lugar naquelas investigações públicas. As lições de anatomia, transformadas em espetáculo, despertavam também a curiosidade dos principais artistas da época. Como Rembrandt van Rijn (1606-1669), que recompôs em óleo algumas dessas cenas de perturbadora revelação científica.
Seis retratos dos membros da corporação de cirurgiões de Amsterdã em plena ação -repartindo corpos que, em sua maioria, eram de criminosos executados- ocupam a sala de abertura da exposição "Corpos Espetaculares: A Arte e a Ciência do Corpo Humano, de Leonardo aos Dias Atuais", em cartaz até janeiro de 2001 na Hayward Gallery, em Londres.
"Lição de Anatomia"
Está lá o quadro "Lição de Anatomia do Dr. Deijman", pintado por Rembrandt em 1656. O cérebro que um médico holandês abre ao meio se apresenta agora às centenas de pessoas que visitam todos os dias a galeria, atraídas por essa exposição sobre a estreita relação entre arte e ciência nos últimos cinco séculos.
A mostra reúne mais de 300 obras de beleza nada usual. Nelas, a complexa máquina humana, com todas as veias e órgãos à vista, se revela a partir do olhar de mestres como Leonardo da Vinci, Courbet e Degas e de artistas contemporâneos como Christine Borland e Bill Viola.
Ao lado de pinturas, desenhos e vídeos, há livros e instrumentos antigos de medicina, além de modelos de cera em tamanho natural, emprestados de 80 museus e coleções particulares de 15 países.
Dois tamanhos
Depois da sala com os médicos holandeses, a exposição apresenta obras dos séculos 18 e 19, quando a representação humana em três dimensões se generalizou.
Os moldes eram feitos em materiais como cera, bronze, alabastro, gesso e mármore, com dois tamanhos-padrão: dimensão natural ou pequenos o suficiente para serem manuseados nas aulas de anatomia. Artistas como o francês Pinson, os italianos Zumbo e Susini e o britânico Towne foram os principais modelistas desse período. A maioria tinha carreira paralela na medicina.
Da Renascença aos dias atuais, os desenhos do corpo humano também aparecem com destaque na exposição. Estudos anatômicos de Leonardo da Vinci a Michelangelo se encontram ao lado de obras dos médicos Jan Wandelaar e Bernard Siegfried Albinus.
As últimas salas da exposição se concentram no estudo da face e da cabeça como peças-chave para compreender o caráter e o temperamento. Nos séculos 18 e 19, essas investigações ganharam a condição de disciplinas médicas, como fisiognomia e frenologia, depois abandonadas.
Entre os destaques, estão a pintura do homem desesperado de Gustave Courbet e as fotografias de Gerhard Lang, produzidas já nos anos 90, da população de sua vila natal na Alemanha.
Catálogo à venda
A exposição "Corpos Espetaculares" resultou em um catálogo com 224 páginas e 160 ilustrações. Os ensaios são dos curadores Martin Kemp e Marina Wallace. A Hayward Gallery organizou uma série de palestras de artistas e cientistas sobre temas relacionados à investigação da mente e do corpo humanos. Para crianças e adolescentes, foram programados workshops de desenhos e visitas didáticas.
O catálogo pode ser encomendado à Cornerhouse Publications, pelo telefone 00/xx/44/161/200-1503. Custa 25 libras, mais despesas de correio
Londres expõe a carne como espetáculo
JOSÉLIA AGUIARda Folha de S.Paulo, em Londres
No século 17, respeitáveis cirurgiões em Amsterdã dissecavam corpos humanos em anfiteatros próprios e atraíam platéia ávida. Pagava-se apenas o ingresso para garantir lugar naquelas investigações públicas. As lições de anatomia, transformadas em espetáculo, despertavam também a curiosidade dos principais artistas da época. Como Rembrandt van Rijn (1606-1669), que recompôs em óleo algumas dessas cenas de perturbadora revelação científica.
Seis retratos dos membros da corporação de cirurgiões de Amsterdã em plena ação -repartindo corpos que, em sua maioria, eram de criminosos executados- ocupam a sala de abertura da exposição "Corpos Espetaculares: A Arte e a Ciência do Corpo Humano, de Leonardo aos Dias Atuais", em cartaz até janeiro de 2001 na Hayward Gallery, em Londres.
"Lição de Anatomia"
Está lá o quadro "Lição de Anatomia do Dr. Deijman", pintado por Rembrandt em 1656. O cérebro que um médico holandês abre ao meio se apresenta agora às centenas de pessoas que visitam todos os dias a galeria, atraídas por essa exposição sobre a estreita relação entre arte e ciência nos últimos cinco séculos.
A mostra reúne mais de 300 obras de beleza nada usual. Nelas, a complexa máquina humana, com todas as veias e órgãos à vista, se revela a partir do olhar de mestres como Leonardo da Vinci, Courbet e Degas e de artistas contemporâneos como Christine Borland e Bill Viola.
Ao lado de pinturas, desenhos e vídeos, há livros e instrumentos antigos de medicina, além de modelos de cera em tamanho natural, emprestados de 80 museus e coleções particulares de 15 países.
Dois tamanhos
Depois da sala com os médicos holandeses, a exposição apresenta obras dos séculos 18 e 19, quando a representação humana em três dimensões se generalizou.
Os moldes eram feitos em materiais como cera, bronze, alabastro, gesso e mármore, com dois tamanhos-padrão: dimensão natural ou pequenos o suficiente para serem manuseados nas aulas de anatomia. Artistas como o francês Pinson, os italianos Zumbo e Susini e o britânico Towne foram os principais modelistas desse período. A maioria tinha carreira paralela na medicina.
Da Renascença aos dias atuais, os desenhos do corpo humano também aparecem com destaque na exposição. Estudos anatômicos de Leonardo da Vinci a Michelangelo se encontram ao lado de obras dos médicos Jan Wandelaar e Bernard Siegfried Albinus.
As últimas salas da exposição se concentram no estudo da face e da cabeça como peças-chave para compreender o caráter e o temperamento. Nos séculos 18 e 19, essas investigações ganharam a condição de disciplinas médicas, como fisiognomia e frenologia, depois abandonadas.
Entre os destaques, estão a pintura do homem desesperado de Gustave Courbet e as fotografias de Gerhard Lang, produzidas já nos anos 90, da população de sua vila natal na Alemanha.
Catálogo à venda
A exposição "Corpos Espetaculares" resultou em um catálogo com 224 páginas e 160 ilustrações. Os ensaios são dos curadores Martin Kemp e Marina Wallace. A Hayward Gallery organizou uma série de palestras de artistas e cientistas sobre temas relacionados à investigação da mente e do corpo humanos. Para crianças e adolescentes, foram programados workshops de desenhos e visitas didáticas.
O catálogo pode ser encomendado à Cornerhouse Publications, pelo telefone 00/xx/44/161/200-1503. Custa 25 libras, mais despesas de correio
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