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25/11/2005 - 09h47

Gás carbônico bate recorde de 650 mil anos

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da Folha de S.Paulo

Três dias antes de representantes de 180 países se reunirem no Canadá para debater o futuro do Protocolo de Kyoto, cientistas europeus apresentam um estudo que promete esquentar o debate sobre as mudanças climáticas globais. Eles afirmam que as concentrações de gás carbônico --o principal causador do efeito estufa-- no planeta estão mais altas hoje do que em qualquer ponto nos últimos 650 mil anos.

O trabalho resulta da análise química de bolhas de ar aprisionadas no gelo do chamado Domo Concórdia, um platô congelado no interior da Antártida. Dali os pesquisadores obtiveram o maior testemunho de gelo do planeta, usando brocas para escavar a 3.200 metros de profundidade.

O testemunho (um imenso cilindro de gelo) conta como o clima da Terra variou ao longo dos milênios, quando suas várias camadas se precipitaram em forma de neve. No caso do Domo Concórdia (conhecido pelos cientistas como "Dome C"), esse registro se estende por 650 milênios. Até agora, o testemunho mais profundo já obtido vinha do lago Vostok, também no continente antártico: 430 mil anos.

O estudo chefiado pelos franceses Jean Jouzel e Valérie Masson-Delmotte, do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica), e publicado hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org), mostra que os níveis de gás carbônico (CO2) e metano (CH4) na atmosfera da Terra nesse tempo todo se mantiveram mais ou menos constantes: O CO2, por exemplo, variou entre 180 e 260 partes por milhão nesse período.

Só nos últimos cem anos, a concentração de gás carbônico na atmosfera terrestre subiu de 260 a 380 partes por milhão, devido principalmente à queima de combustíveis fósseis (como carvão, petróleo e derivados). Esses níveis, que continuam a subir, já são 27% mais altos do que o teto em todos os milênios anteriores. "Estamos completamente fora do limite hoje", disse Thomas Stocker, da Universidade de Berna, Suíça, co-autor do estudo.

Essa elevação rápida produziu um igualmente rápido aumento na temperatura média do planeta, da ordem de 0,7ºC.

Casamento perigoso

Embora os autores evitem falar em aquecimento global no artigo, o geógrafo Francisco Aquino, do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirma que o trabalho deverá gelar os ânimos dos chamados "céticos" do efeito estufa.

Segundo esses céticos, a Terra já foi mais quente no passado e o fato de tanto gás carbônico quanto temperatura estarem mais altos hoje do que nos últimos 430 mil anos (limite do registro anterior) poderia, ainda, indicar variabilidade natural. "Fica mais difícil defender essa posição com um registro de 650 mil anos", disse Aquino à Folha, por telefone.

O brasileiro observa, ainda, que durante o Pleistoceno, Período analisado pelo novo estudo, existe uma relação constante entre gases-estufa e temperatura. As concentrações de CO2 eram mais baixas durante as glaciações e mais altas nos períodos interglaciais (de degelo). "A relação entre as concentrações de gás carbônico e a temperatura global ainda continuam amarradas, isto é mais CO2, maior temperatura, e vice-versa."

Depois de amanhã

O estudo aparece num momento crítico para o debate sobre como mitigar o aquecimento global. Na próxima segunda-feira, uma reunião internacional em Montréal, Canadá, começa a debater o combate aos gases de efeito estufa depois de 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto --acordo global para reduzir as emissões de CO2 e outros gases dos países industrializados.

O mundo pós-Kyoto, no entanto, já nasce ameaçado. Diplomatas que participaram de reuniões preparatórias ao encontro de Montréal afirmam que os Estados Unidos, maior emissor global da gases-estufa --e que já rejeitou Kyoto-, acham "prematuro" abordar o assunto.

A União Européia, principal defensora de Kyoto, acha que é importante negociar um novo acordo que traga não só os EUA mas também os grandes países pobres, como Brasil, China e Índia, desobrigados por Kyoto a reduzir emissões.

Com agências internacionais

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