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21/01/2006
-
11h24
CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
O paulista Sérgio Mezzalira tem 85 anos, 1,70 metro de altura e pesa 63 quilos. Ontem ele foi oficialmente apresentado a um outro Mezzalira, de 70 milhões de anos, 4 metros de altura e 12 mil quilos. O homônimo é o mais novo dinossauro brasileiro, batizado por uma dupla de pesquisadores da Unesp em honra ao geólogo que descobriu seus fósseis, em 1959.
O Adamantisaurus mezzalirai é um novo gênero de titanossauro, grupo de saurópodes (dinos herbívoros pescoçudos) comum nas terras que hoje compõem a América do Sul. Ele foi descrito pelos paleontólogos Rodrigo Santucci e Reinaldo José Bertini, da Unesp de Rio Claro, em artigo científico na edição deste mês do periódico britânico "Palaeontology".
A descoberta acrescenta mais um membro à rarefeita família dos dinossauros do Brasil, que conta com menos de uma dezena de animais descritos e reconhecidos pela comunidade científica. Dos saurópodes brasileiros, o adamantissauro é o terceiro --os outros dois são o Gondwanatitan e o Amazonsaurus. (Há outra espécie descrita, o Antarctosaurus, sobre a qual existe dúvida.)
Tudo o que sobrou do animal, morto há cerca de 70 milhões de anos, foi uma série de seis vértebras da cauda, que permitiram aos cientistas identificar a espécie. O material está depositado desde 1959 no museu do Instituto Geológico de São Paulo, no parque da Água Branca, à espera de um especialista que o estudasse. A tarefa coube a Santucci, então aluno de mestrado de Bertini na Unesp e hoje pesquisador da Universidade de Brasília.
Não fosse por Sérgio Mezzalira, talvez nem essas vértebras tivessem chegado às mãos dos paleontólogos. O geólogo, que nos anos 50 chefiava o setor de paleontologia do instituto, precisou de paciência, muita lábia e uma tremenda sorte para arrancar os fósseis das mãos de um grupo de trabalhadores de uma ferrovia em Flórida Paulista, oeste do Estado.
"Eu soube por um pessoal da USP que tinha aparecido um material naquela região", recorda-se, animado, durante entrevista na sala de sua casa --onde um quadro com desenhos de dinossauros divide espaço numa estante com imagens de santos. Vários fósseis vinham aparecendo durante a obra de extensão dos trilhos da Cia. Paulista de Estradas de Ferro de Adamantina para Panorama. Muitos eram conchas, especialidade de Mezzalira. Outros eram dentes de dinossauro, vendidos pelos trabalhadores da ferrovia como amuleto.
"O diretor da faculdade falou que não podia ir buscar. E eu conversei com o diretor do Instituto Geológico e ele me mandou ir lá", conta. Foram três meses até que a USP emitisse uma autorização para o instituto coletar os fósseis.
Mezzalira, então, fez uma viagem quente e empoeirada de um dia inteiro até Adamantina. E deu com os burros n'água. "O topógrafo da ferrovia disse que não iria deixar eu levar o material." O geólogo, então, armou-se de toda a paciência do mundo para tentar convencer o sujeito, numa conversa de bar noite adentro.
Lá pelas 23h o assunto enveredou para as dificuldades de fazer ciência no Brasil e os "loucos" que se aventuravam numa carreira científica. O topógrafo, então, mostrou a Mezzalira um livro sobre moluscos fósseis escrito por dois desses "loucos". Foi a sorte do geólogo.
"Disse a ele: "O autor de baixo sou eu". Aí ele sorriu e disse: "Amanhã o sr. leva o material"."
Anão entre os gigantes
O Adamantisaurus era um dino pequeno se comparado a alguns de seus parentes mais próximos. Todos os titanossauros são primos-irmãos do braquiossauro, o maior animal que já caminhou sobre a Terra --ele chegava a 12 metros de altura e 25 de comprimento. E estima-se que uma espécie de titanossauro argentino, o Argentinosaurus, pudesse ultrapassar as 80 toneladas de peso.
No final do Período Cretáceo, época em que o animal viveu, a América do Sul estava isolada dos outros continentes, e a fauna local passou por um período de grande diversificação. Até agora, achava-se que essa explosão de diversidade só tivesse ocorrido na atual Argentina, uma região mais úmida. O novo titanossauro, e mais uma espécie ainda por ser descrita encontrada em Uberaba, Minas Gerais, estão ajudando os cientistas a derrubar essa crença.
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Brasil ganha nova espécie de dinossauro
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Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
O paulista Sérgio Mezzalira tem 85 anos, 1,70 metro de altura e pesa 63 quilos. Ontem ele foi oficialmente apresentado a um outro Mezzalira, de 70 milhões de anos, 4 metros de altura e 12 mil quilos. O homônimo é o mais novo dinossauro brasileiro, batizado por uma dupla de pesquisadores da Unesp em honra ao geólogo que descobriu seus fósseis, em 1959.
O Adamantisaurus mezzalirai é um novo gênero de titanossauro, grupo de saurópodes (dinos herbívoros pescoçudos) comum nas terras que hoje compõem a América do Sul. Ele foi descrito pelos paleontólogos Rodrigo Santucci e Reinaldo José Bertini, da Unesp de Rio Claro, em artigo científico na edição deste mês do periódico britânico "Palaeontology".
A descoberta acrescenta mais um membro à rarefeita família dos dinossauros do Brasil, que conta com menos de uma dezena de animais descritos e reconhecidos pela comunidade científica. Dos saurópodes brasileiros, o adamantissauro é o terceiro --os outros dois são o Gondwanatitan e o Amazonsaurus. (Há outra espécie descrita, o Antarctosaurus, sobre a qual existe dúvida.)
Tudo o que sobrou do animal, morto há cerca de 70 milhões de anos, foi uma série de seis vértebras da cauda, que permitiram aos cientistas identificar a espécie. O material está depositado desde 1959 no museu do Instituto Geológico de São Paulo, no parque da Água Branca, à espera de um especialista que o estudasse. A tarefa coube a Santucci, então aluno de mestrado de Bertini na Unesp e hoje pesquisador da Universidade de Brasília.
Não fosse por Sérgio Mezzalira, talvez nem essas vértebras tivessem chegado às mãos dos paleontólogos. O geólogo, que nos anos 50 chefiava o setor de paleontologia do instituto, precisou de paciência, muita lábia e uma tremenda sorte para arrancar os fósseis das mãos de um grupo de trabalhadores de uma ferrovia em Flórida Paulista, oeste do Estado.
"Eu soube por um pessoal da USP que tinha aparecido um material naquela região", recorda-se, animado, durante entrevista na sala de sua casa --onde um quadro com desenhos de dinossauros divide espaço numa estante com imagens de santos. Vários fósseis vinham aparecendo durante a obra de extensão dos trilhos da Cia. Paulista de Estradas de Ferro de Adamantina para Panorama. Muitos eram conchas, especialidade de Mezzalira. Outros eram dentes de dinossauro, vendidos pelos trabalhadores da ferrovia como amuleto.
"O diretor da faculdade falou que não podia ir buscar. E eu conversei com o diretor do Instituto Geológico e ele me mandou ir lá", conta. Foram três meses até que a USP emitisse uma autorização para o instituto coletar os fósseis.
Mezzalira, então, fez uma viagem quente e empoeirada de um dia inteiro até Adamantina. E deu com os burros n'água. "O topógrafo da ferrovia disse que não iria deixar eu levar o material." O geólogo, então, armou-se de toda a paciência do mundo para tentar convencer o sujeito, numa conversa de bar noite adentro.
Lá pelas 23h o assunto enveredou para as dificuldades de fazer ciência no Brasil e os "loucos" que se aventuravam numa carreira científica. O topógrafo, então, mostrou a Mezzalira um livro sobre moluscos fósseis escrito por dois desses "loucos". Foi a sorte do geólogo.
"Disse a ele: "O autor de baixo sou eu". Aí ele sorriu e disse: "Amanhã o sr. leva o material"."
Anão entre os gigantes
O Adamantisaurus era um dino pequeno se comparado a alguns de seus parentes mais próximos. Todos os titanossauros são primos-irmãos do braquiossauro, o maior animal que já caminhou sobre a Terra --ele chegava a 12 metros de altura e 25 de comprimento. E estima-se que uma espécie de titanossauro argentino, o Argentinosaurus, pudesse ultrapassar as 80 toneladas de peso.
No final do Período Cretáceo, época em que o animal viveu, a América do Sul estava isolada dos outros continentes, e a fauna local passou por um período de grande diversificação. Até agora, achava-se que essa explosão de diversidade só tivesse ocorrido na atual Argentina, uma região mais úmida. O novo titanossauro, e mais uma espécie ainda por ser descrita encontrada em Uberaba, Minas Gerais, estão ajudando os cientistas a derrubar essa crença.
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