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24/02/2006 - 10h59

Chineses descobrem "lontra" pré-histórica

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RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo

Ele parece saído de uma brincadeira de criança: o que dá o cruzamento de castor com lontra e com foca? Resposta: um Castorocauda lutrasimilis com 164 milhões de anos de idade, um bicho do Período Jurássico cuja descoberta está revolucionando a história mais remota dos mamíferos.

Reprodução
Reconstituição do Castorocauda
Reconstituição do Castorocauda
O fóssil do animal, encontrado na China, mostra que ele era bem maior que outros mamíferos primitivos, além ser o mais antigo membro do grupo adaptado à vida na água. A descoberta indica uma surpreendente colonização de um novo ambiente em um momento em que a vida na Terra era dominada pelos dinossauros.

Ele não é considerado ancestral direto dos mamíferos modernos, como o homem. Mas seu nome científico em latim indica as semelhanças --"cauda de castor" e "semelhante à lontra".

Serviço completo

O excelente estado de preservação do fóssil permitiu identificar pêlos, assim como uma cauda escamosa semelhante à dos castores e dentes que lembram os das focas, bem adaptados para caçar e comer peixes. Fósseis de mamíferos dessa idade são raros e, em geral, não passam de alguns poucos dentes e fragmentos de ossos.

O achado foi descrito por uma equipe de quatro pesquisadores da China e dos EUA na edição de hoje da revista americana "Science" (www.sciencemag.org).

A era geológica conhecida como Mesozóico durou de 245 milhões a 65 milhões de anos atrás, dividida nos Períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo, durante os quais os dinossauros surgiram, chegaram ao auge e se extingüiram.

"A maioria dos mamíferos do Mesozóico tem entre 20 gramas e 50 gramas. Até hoje, conhecem-se apenas três mamíferos mesozóicos com tamanho maior: o sinoconodonte, do começo do Jurássico, com 500 gramas; o Castorocauda, do Jurássico Médio, com até 800 gramas; e depois os da família dos gobiconodontídeos, que variam de 500 gramas a 10 quilos", disse à Folha Zhe-Xi Luo, curador de Paleontologia de Vertebrados do Museu Carnegie de História Natural (EUA).

"O Castorocauda é certamente o maior mamífero jurássico. Não é tão leve pelo padrão do Mesozóico. Era um gigante entre os anões, digamos assim", afirma.

Só depois da extinção dos dinos, 65 milhões de anos atrás, é que foi possível aos mamíferos evoluir de forma mais diversificada e ocupar novos nichos nos ambientes do planeta. Mas fósseis como o Castorocauda lutrasimilis indicam uma diversidade até agora insuspeita antes dessa explosão após o fim do reinado dos dinossauros.

A maioria dos minimamíferos mesozóicos era comedora de insetos. Tinham esqueletos "genéricos", sem nenhuma especialização. Até recentemente se achava que todos eram assim.

"Nós agora sabemos que os mamíferos mesozóicos podem ser excelentes trepadores, caso do Eomaia e do Sinodelphys; ou especializados em comer insetos sociais e bons cavadores, como o Fruitafossor", afirma Zhe-Xi Luo.

Além da especialização para escalar, o Eomaia e o Sinodelphys são importantes por outro motivo. O primeiro é o mais antigo representante dos mamíferos placentários (cujos fetos são protegidos por uma bolsa, a placenta), como o homem. Já o Sinodelphys parece ser o mais velho membro da linhagem marsupial, a dos cangurus e gambás de hoje. Ambos foram descritos por Luo e têm 125 milhões de anos.

Diversidade ecológica

"A descoberta do Castorocauda como o mais antigo mamífero nadador amplia ainda mais essa diversificação de nichos de mamíferos mesozóicos com o modo de vida semiaquático", diz ele. "Hoje, é correto dizer que os animais do Mesozóico são bem mais diversos ecologicamente do que os pesquisadores imaginavam três ou quatro anos atrás."

O Castorocauda tinha um modo de vida semelhante ao dos modernos ornitorrincos, que têm tamanho parecido --vivendo ao longo de margens de rios e lagos, comendo peixes e insetos e cavando túneis para seus ninhos, segundo Zhe-Xi Luo.

O fóssil mostra uma combinação precoce de várias características, como a adaptação tanto para nadar quanto cavar e os dentes especializados. Esses traços, porém, estão associados a um crânio com formas primitivas. Como lembrou o pesquisador Thomas Martin, do Instituto de Pesquisas de Senckenberg, Alemanha, em artigo na mesma edição da revista, a descoberta recua a data da conquista das águas pelos mamíferos em cerca de 100 milhões de anos.

Tanto os mamíferos modernos semiaquáticos, como castores e lontras, quanto os aquáticos, como peixes-bois e baleias, só apareceram na Terra de 55 milhões de anos para cá.

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