Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
09/03/2006 - 11h27

Biólogos acham cerrado "molhado" em Goiás

Publicidade

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

O olhar desavisado pode até achar que está diante de um arrozal, mas é, na verdade, uma área de cerrado que passa os meses de verão permanentemente alagada. Descoberta por pesquisadores da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) no Parque Nacional das Emas, em Goiás, a vegetação ganhou o nome de cerrado hiperestacional e revela o quão pouco ainda se sabe sobre o principal ecossistema do Brasil Central.

Divulgação
O novo tipo de cerrado
O novo tipo de cerrado
Para encontrar o cerrado "molhado", que eles classificam como um novo tipo de formação vegetal, Marco Antônio Batalha e seus colegas Marcus Cianciaruso, Igor Aurélio da Silva e Priscilla Amorim tiveram de atolar um Corsa e até uma Toyota 4x4 na lama do parque. "O que evidencia a dificuldade de acesso à área", diz Batalha. Segundo ele, outros fatores também fizeram com que os pesquisadores demorassem para perceber a singularidade da região: os poucos estudos sobre a vegetação do parque e a necessidade de estar familiarizado com o conceito de hiperestacionalidade.

"Uma das características das savanas como o cerrado é ter um clima estacional, ou seja, com as estações bem marcadas", explica Batalha. Na prática, isso significa que o ecossistema só conta com duas estações verdadeiras: um verão chuvoso e um inverno seco. Justamente por causa dessa situação é que não se espera que uma área de cerrado fica alagada por longos períodos de tempo.

Hipercontraste

No caso da área de 300 hectares em Goiás, no entanto, entra em cena uma das possibilidades que geram uma savana hiperestacional: uma depressão no relevo faz com que a água fique represada, gerando um alagamento que dura toda a estação chuvosa e, portanto, um contraste ainda mais forte com o período da seca (daí o "hiper" do nome).

Tal como a região que o circunda no parque, o cerrado "molhado" pertence à categoria de campo limpo, com muitas gramíneas, poucos arbustos e sem árvores.

"A diferença é que o alagamento funciona como um filtro ambiental, restringindo o número de espécies capazes de crescer naquelas condições", explica Batalha. As gramíneas que predominam ali são diferentes das do cerrado tradicional, porque contam com adaptações para armazenar oxigênio nas raízes submersas, por exemplo. "As relações ecológicas ali acabam sendo únicas", afirma o biólogo. "Quanto à fauna, ainda não há nenhum estudo. Seria possível que essa área fosse importante, por exemplo, para alguns anfíbios", diz ele.

Seja como for, a descoberta já chega à comunidade científica sob os mesmos riscos que afetam o cerrado como um todo, do qual só resta 21% da área original. Ou riscos até piores. "Pela própria raridade, pequena extensão e delicado balanço entre alagamento e seca, ela é extremamente vulnerável", afirma o biólogo. "Uma obra numa estrada pode levar a mudanças na dinâmica da água."

No entanto, mais estudos ainda podem revelar a presença da formação em outros lugares do país. "Existem boas chances de haver outras áreas de cerrado que se alagam, especialmente na região do Pantanal e no Piauí", diz ele.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o cerrado de Goiás

  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página