Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/03/2006 - 11h35

Gripe aviária põe biodiversidade em risco, dizem cientistas

Publicidade

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo, em Curitiba

Um dia antes do início da COP-8, pesquisadores do mundo todo se reuniram em Curitiba para ressaltar o perigo que a epidemia de gripe aviária representa não só para a saúde humana mas também para a biodiversidade. Os cientistas também disseram que o medo de aves migratórias que a doença tem gerado no mundo tem pouco ou nenhum fundamento na realidade.

Um único slide da apresentação de Powerpoint de Juan Lubroth, da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), resumiu o consenso entre os especialistas. Debaixo de uma legenda que dizia "via de entrada de possível epidemia", havia uma animação mostrando um Boeing batendo suas asas como se fosse um pássaro, provocando risos nos participantes.

Para os pesquisadores, porém, a mensagem é bem séria: as principais culpadas pelo avanço do vírus da gripe aviária, o H5N1, são as atividades humanas, em especial as práticas pouco cuidadosas da produção de frango no mundo e o comércio ilegal ou pouco regulamentado de animais silvestres. Colocar a culpa nas aves migratórias é querer arrumar alguém para pagar o pato.

"Não sei por que esse medo das aves migratórias foi tão propagado. Talvez porque seja mais emocionante do que simplesmente dizer às pessoas "o problema são os frangos, seu tonto!'", afirmou à Folha William Karesh, diretor do programa veterinário de campo da WCS (Sociedade para a Conservação da Vida Selvagem, na sigla inglesa).

Origem doméstica

Karesh, que conduziu no ano passado estudos na Mongólia sobre a prevalência do H5N1 entre gansos selvagens, diz que essa versão do vírus provavelmente se originou entre aves domésticas e só então voltou para seus parentes selvagens.

"São os métodos de produção industrial de frangos que permitiram que o vírus se tornasse altamente patogênico [capaz de causar versões mais graves da doença]. As atividades humanas e o nosso manejo dos frangos é que estão mantendo esse troço vivo", avalia Karesh.

Ao lado dos outros especialistas presentes, ele ressaltou que seria inútil ou até contraproducente ordenar a matança em massa de aves selvagens ou drenar os pântanos e áreas alagadas que lhes servem de abrigos.

"Teríamos o risco de uma dispersão ainda maior desses animais e, se estiverem contaminados, do vírus", concorda Bert Lenten, secretário-geral do Aewa (Acordo Eurasiano-Africano sobre Aves Aquáticas).

Aliás, a julgar por um estudo da bióloga britânica Diana Bell, da Universidade de East Anglia, aves e outros membros da fauna selvagem vão precisar de tanta proteção quanto os seres humanos conforme a epidemia progredir.

Espalhamento

Bell apresentou novos dados sobre a morte misteriosa de civetas, pequenos mamíferos carnívoros, num parque nacional do Vietnã. Os bichos foram infectados pelo H5N1, engrossando a lista de espécies de mamífero que podem morrer por causa do vírus.

No caso das aves, a situação ainda é mais alarmante: "Cerca de 45% das ordens [grandes grupos de espécies] de aves têm casos registrados de morte pela doença", diz ela. O H5N1, por isso, representa um risco para 54 espécies ameaçadas de ave, afirma.

Para Bell, é preciso intensificar a vigilância e os estudos sobre as espécies selvagens, tanto para protegê-las como para entender como sua contaminação pode acabar afetando humanos numa escala realmente perigosa.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre diversidade biológica
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página