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24/03/2006
-
09h53
REINALDO JOSÉ LOPES
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Curitiba
A ciência chegou tarde demais para uma espécie de planta da ilha de Trindade: "Eu a descrevi depois de já estar extinta", conta Ruy José Válka Alves, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Alves e seus colegas dão hoje o primeiro passo para pagar essa dívida com a biodiversidade das ilhas oceânicas brasileiras: lançam, durante a COP-8 (8ª Conferência das Partes) da Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade, um livro com a primeira síntese já feita a respeito das espécies que habitam Fernando de Noronha, Trindade e Martim Vaz, São Pedro e São Paulo, Abrolhos e o atol das Rocas.
"Abrolhos, na verdade, não se encaixa na categoria oceânica [está ligada à plataforma continental do Brasil, ao contrário das outras, que surgiram a partir de atividade vulcânica no mar], mas, por isolamento, as espécies ali são tipicamente oceânicas", afirma Alves. No caso de Fernando de Noronha e Trindade e Martim Vaz, a colonização antiga é a principal responsável por extinções. Ambientes como essas ilhas são vulneráveis à ação de espécies invasoras, já que os seres vivos ali se desenvolveram em isolamento quase total, com poucos competidores.
O resultado, segundo Alves, foram dezenas de plantas extintas, de samambaias a angiospermas (plantas com flores). O pesquisador conseguiu descrever a espécie desaparecida de planta ao achá-la em meio às coleções de museus. Animais também sofreram. "Tenho relatos sobre um caranguejo gigante em Trindade, que ainda era visto nos anos 1950 e 1960. Ele nem chegou a ser descrito", diz.
O levantamento não é mero relato de tragédias. Os dados compilados apontam 450 espécies de plantas terrestres (fora musgos) e cerca de 25 espécies endêmicas (que só existem ali) de peixes de recife, além de centenas de invertebrados. "Ainda não sabemos quase nada sobre essas ilhas. Eu, por exemplo, já tenho mais três espécies novas de planta para descrever", diz Alves.
A ONG Conservação Internacional lançou ontem a segunda edição de sua revista científica "Megadiversidade", com o estudo mais detalhado já feito sobre o impacto da possível instalação da indústria petrolífera em Abrolhos (uma licitação para isso foi aberta em 2002 e depois cancelada). Os pesquisadores, liderados por Gabriel Marchioro, do Ibama, avaliaram os efeitos das várias fases da extração petrolífera sobre os diferentes ecossistemas da região, de manguezais a recifes de coral.
Vulnerabilidade
Eles atribuíram um peso diferenciado a cada efeito conhecido das atividades petrolíferas (como a desorientação ou danos aos ouvidos de tartarugas marinhas causadas pelas sondagens em busca das reservas) e atribuíram uma escala de vulnerabilidade a faixas do ambiente costeiro. O resultado foi a proposta da exclusão de 243 blocos da zona de uma possível área petrolífera.
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Para espécies brasileiras, extinção chegou antes da ciência
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Enviado especial da Folha de S.Paulo a Curitiba
A ciência chegou tarde demais para uma espécie de planta da ilha de Trindade: "Eu a descrevi depois de já estar extinta", conta Ruy José Válka Alves, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Alves e seus colegas dão hoje o primeiro passo para pagar essa dívida com a biodiversidade das ilhas oceânicas brasileiras: lançam, durante a COP-8 (8ª Conferência das Partes) da Convenção das Nações Unidas sobre Biodiversidade, um livro com a primeira síntese já feita a respeito das espécies que habitam Fernando de Noronha, Trindade e Martim Vaz, São Pedro e São Paulo, Abrolhos e o atol das Rocas.
"Abrolhos, na verdade, não se encaixa na categoria oceânica [está ligada à plataforma continental do Brasil, ao contrário das outras, que surgiram a partir de atividade vulcânica no mar], mas, por isolamento, as espécies ali são tipicamente oceânicas", afirma Alves. No caso de Fernando de Noronha e Trindade e Martim Vaz, a colonização antiga é a principal responsável por extinções. Ambientes como essas ilhas são vulneráveis à ação de espécies invasoras, já que os seres vivos ali se desenvolveram em isolamento quase total, com poucos competidores.
O resultado, segundo Alves, foram dezenas de plantas extintas, de samambaias a angiospermas (plantas com flores). O pesquisador conseguiu descrever a espécie desaparecida de planta ao achá-la em meio às coleções de museus. Animais também sofreram. "Tenho relatos sobre um caranguejo gigante em Trindade, que ainda era visto nos anos 1950 e 1960. Ele nem chegou a ser descrito", diz.
O levantamento não é mero relato de tragédias. Os dados compilados apontam 450 espécies de plantas terrestres (fora musgos) e cerca de 25 espécies endêmicas (que só existem ali) de peixes de recife, além de centenas de invertebrados. "Ainda não sabemos quase nada sobre essas ilhas. Eu, por exemplo, já tenho mais três espécies novas de planta para descrever", diz Alves.
A ONG Conservação Internacional lançou ontem a segunda edição de sua revista científica "Megadiversidade", com o estudo mais detalhado já feito sobre o impacto da possível instalação da indústria petrolífera em Abrolhos (uma licitação para isso foi aberta em 2002 e depois cancelada). Os pesquisadores, liderados por Gabriel Marchioro, do Ibama, avaliaram os efeitos das várias fases da extração petrolífera sobre os diferentes ecossistemas da região, de manguezais a recifes de coral.
Vulnerabilidade
Eles atribuíram um peso diferenciado a cada efeito conhecido das atividades petrolíferas (como a desorientação ou danos aos ouvidos de tartarugas marinhas causadas pelas sondagens em busca das reservas) e atribuíram uma escala de vulnerabilidade a faixas do ambiente costeiro. O resultado foi a proposta da exclusão de 243 blocos da zona de uma possível área petrolífera.
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