Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/04/2006 - 09h20

Acordo sobre recurso genético fica para 2010

Publicidade

MARI TORTATO
da Agência Folha, em Curitiba

O encontro da CBD (Convenção da Biodiversidade) da ONU em Curitiba terminou ontem sem avanços nas metas definidas há quatro anos: adotar ações para reduzir a taxa global de extinções e definir um regime de compensação financeira pelo uso do patrimônio genético a países com elevada variedade de espécies.

Às 23h de ontem, a plenária de encerramento deu seu aval à proposta de consenso na COP-8 (8ª Reunião das Partes). O texto propõe a criação de um grupo de trabalho com a tarefa de, nos próximos quatro anos, definir regras internacionais para remunerar países pobres donos de elevada biodiversidade pela exploração de seus recursos genéticos.

O assunto desperta o interesse direto das indústrias de cosméticos, de fármacos e de alimentos.

Às 22h30, na posição de presidente da plenária, a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, tentava convencer os delegados a não emperrar a aprovação --sob pena de as tradutoras irem embora. "As intérpretes não vão continuar depois das 23 e apelo para que a pauta ande, sob pena de que os trabalhos continuem apenas em inglês", disse ela, que só fala português.

À tarde, depois de negociações de duas semanas, havia concordância de países ricos e pobres da necessidade de adoção de um regime de ABS (sigla em inglês para Acesso a Recursos Genéticos e Repartição de Benefícios). O assunto foi o tema mais polêmico discutido na reunião de Curitiba.

A proposta caminhava para que o grupo de trabalho formulasse um protocolo de regime de ABS até 2010. Assuntos igualmente complexos como a criação de um fundo para financiamento da pesquisa de novas espécies e moratória para avanços da biotecnologia sobre florestas trangênicas foram adiados para o próximo encontro, em 2008, na Alemanha.

ONGs como Greenpeace e Via Campesina apontaram "fracasso" das negociações. Atribuíram a classificação aos adiamentos das decisões importantes para quatro ou seis anos.

Os coordenadores do evento, ao contrário, só fizeram análises positivas. A ministra Marina Silva, que preside a CDB até 2008, diz que a reunião de Curitiba avançou ao obter o consenso de países ricos e pobres para o regime de acesso e repartição de benefícios. "A próxima reunião [COP-9, a ser realizada na Alemanha, em 2008], não terá que se debruçar mais sobre temas que, ao longo dos anos, ficaram sempre entre colchetes e nunca avançavam", disse ela, ao tentar apontar os avanços. Em convenções diplomáticas, assuntos pendentes vão para os documentos finais guardadas por colchetes como indicativo de que não há consenso.

Conquista dos EUA

O governo americano ameaça cortar 50% da verba que destina ao GEF (Fundo Mundial do Ambiente) nos próximos quatro anos. A proposta que o governo de George W. Bush enviou ao Congresso reduz de US$ 428 milhões (de 2002-2006) para US$ 224 milhões o orçamento de 2007-2010 para o GEF, mecanismo de financiamento da CBD.

Apesar do corte anunciado, o secretário-executivo da CDB, Ahmed Djoghlaf, disse que a entidade vai contar com US$ 1 bilhão do GEF nos próximos dois anos.

Mas Djoghlaf disse que caberá à diplomacia brasileira atrair a maior potência do mundo para a convenção, nos próximos dois anos em que Marina Silva estiver na sua presidência.

Mesmo sendo o maior financiador do GEF, os EUA não são membro da CDB. Mas atuaram no interesse de sua indústria, como para evitar o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança --que passaria a exigir a identificação de transgênicos nas exportações-- e a adoção do regime de repartição de benefícios. O governo Bush mandou 27 delegados como observadores da COP-8.
O chefe da delegação brasileira, embaixador Antonio Patriota, disse que a estratégia da CDB para os próximos dois anos é usar a liderança do Brasil em negociações internacionais para alcançar a universalização dos acordos sobre biodiversidade. Ainda segundo ele, as boas relações entre os governos Lula e Bush vão favorecer a aproximação.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a COP-8
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página