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07/12/2000
-
08h10
da Folha de S.Paulo
Tolerância à morfina _o que significa doses maiores para obter o mesmo efeito_ e dependência dessa droga não andam juntas. Pesquisadores da Universidade Duke (EUA) comprovaram que esses dois mecanismos estão dissociados, usando camundongos como modelo do estudo.
A morfina é um forte analgésico, usado para aliviar a dor de pacientes com câncer, por exemplo, mas também um potente indutor de tolerância e dependência.
O desenvolvimento da tolerância acontece com o uso continuado da droga, de maneira que a quantidade de morfina necessária para aliviar a dor precisa ser elevada para compensar a diminuição da resposta do organismo.
Muitos médicos evitam recomendar o aumento da dose da droga ao paciente, para fugir do problema da dependência.
No entanto, segundo Laura Bohn, principal autora do estudo que sai hoje na revista "Nature", os dados "apontam para o desenvolvimento de uma terapia que diminua a necessidade de morfina".
"Clinicamente, podemos postular que, se não precisarmos aumentar a dose com o tempo, seremos capazes de evitar a dependência", disse Bohn à Folha.
Para chegar a esse objetivo, os pesquisadores deverão trabalhar com uma proteína chamada beta-arrestina. Essa proteína atua após a droga ser administrada, bloqueando o sinal químico que a morfina envia ao cérebro para inibir a sensação de dor.
A eliminação da beta-arrestina nos camundongos evitou o surgimento da tolerância nos animais. Doses menores de morfina aliviaram a dor por mais tempo. No entanto, os animais apresentaram dependência de morfina, indicando a dissociação dos processos.
Outras drogas
Segundo Dartiu Xavier da Silveira, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), "a dissociação dos mecanismos é algo em que a maioria dos especialistas em dependência química já acreditava, a partir da experiência".
"Há mais de uma década já observamos indivíduos que não desenvolvem tolerância a uma droga e, ainda assim, podem desenvolver dependência", diz Silveira.
Para o psiquiatra, apenas aqueles que acreditam que o fenômeno da dependência é biologicamente determinado, de modo exclusivo, é que associam a tolerância com a dependência.
Esses dados, porém, não podem ser extrapolados para outras drogas. "Cocaína e maconha agem em locais diferentes, no cérebro, e a contribuição da beta-arrestina na regulação desses fenômenos pode ser diferente", diz Bohn.
Droga desarma tolerância à morfina
ISABEL GERHARDTda Folha de S.Paulo
Tolerância à morfina _o que significa doses maiores para obter o mesmo efeito_ e dependência dessa droga não andam juntas. Pesquisadores da Universidade Duke (EUA) comprovaram que esses dois mecanismos estão dissociados, usando camundongos como modelo do estudo.
A morfina é um forte analgésico, usado para aliviar a dor de pacientes com câncer, por exemplo, mas também um potente indutor de tolerância e dependência.
O desenvolvimento da tolerância acontece com o uso continuado da droga, de maneira que a quantidade de morfina necessária para aliviar a dor precisa ser elevada para compensar a diminuição da resposta do organismo.
Muitos médicos evitam recomendar o aumento da dose da droga ao paciente, para fugir do problema da dependência.
No entanto, segundo Laura Bohn, principal autora do estudo que sai hoje na revista "Nature", os dados "apontam para o desenvolvimento de uma terapia que diminua a necessidade de morfina".
"Clinicamente, podemos postular que, se não precisarmos aumentar a dose com o tempo, seremos capazes de evitar a dependência", disse Bohn à Folha.
Para chegar a esse objetivo, os pesquisadores deverão trabalhar com uma proteína chamada beta-arrestina. Essa proteína atua após a droga ser administrada, bloqueando o sinal químico que a morfina envia ao cérebro para inibir a sensação de dor.
A eliminação da beta-arrestina nos camundongos evitou o surgimento da tolerância nos animais. Doses menores de morfina aliviaram a dor por mais tempo. No entanto, os animais apresentaram dependência de morfina, indicando a dissociação dos processos.
Outras drogas
Segundo Dartiu Xavier da Silveira, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), "a dissociação dos mecanismos é algo em que a maioria dos especialistas em dependência química já acreditava, a partir da experiência".
"Há mais de uma década já observamos indivíduos que não desenvolvem tolerância a uma droga e, ainda assim, podem desenvolver dependência", diz Silveira.
Para o psiquiatra, apenas aqueles que acreditam que o fenômeno da dependência é biologicamente determinado, de modo exclusivo, é que associam a tolerância com a dependência.
Esses dados, porém, não podem ser extrapolados para outras drogas. "Cocaína e maconha agem em locais diferentes, no cérebro, e a contribuição da beta-arrestina na regulação desses fenômenos pode ser diferente", diz Bohn.
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