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20/04/2006 - 10h34

Cobra com patas revela origens do grupo

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REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S.Paulo

É preciso olhar com atenção ligeiramente acima do normal o corpo sinuoso da Najash rionegrina para ver que há alguma coisa errada: duas patinhas traseiras num corpo de cobra. Para os paleontólogos que descobriram o fóssil do bicho, esses membros minúsculos podem ser a chave para explicar como um grupo de lagartos acabou se transformando nas serpentes de hoje.

AP Photo
Fóssil descoberto por paleontólogos
Fóssil descoberto por paleontólogos
Segundo eles, é uma história suja e rasteira. Os bichos teriam perdido suas patas como forma de se adaptar à vida colada ao solo, entrando em buracos e se escondendo sob as folhas caídas das árvores. E o novo fóssil, descoberto na Argentina, seria justamente o golpe decisivo para mostrar que essa origem rés-do-chão, e não uma suposta gênese marinha, é que corresponde à verdadeira história das serpentes.

A N. rionegrina, cuja descrição sai hoje na revista científica "Nature" (www.nature.com), foi estudada por Sebastián Apesteguía, do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, e Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da USP. "A gente espera que esse trabalho provoque uma certa revoluçãozinha, trazendo uma baforada de ar fresco sobre o debate da origem das serpentes e rejeitando a hipótese da origem marinha", declarou Zaher à Folha.

Várias das cobras mais primitivas do mundo, com idade próxima à da N. rionegrina (uns 90 milhões de anos), também têm patas e vêm de rochas marinhas. Além disso, alguns detalhes de sua anatomia parecem ligá-las aos mosassauros, lagartões oceânicos da era dos dinossauros. Isso levou à tese de que o grupo teria surgido na água. Outras pessoas apostavam na origem rastejadora e escavadora. "Os dois ambientes exigem adaptações parecidas: redução dos membros e alongamento do corpo", pondera o brasileiro.

Cobra sacra

Acontece que a nova cobra, além de vir de rochas de terra firme, tem alguns detalhes que a tornam ainda mais próxima dos demais répteis que suas primas. Sua pelve, por exemplo, não está envolvida pelas costelas, como acontece até com as outras serpentes com patas. "E ela seria a única cobra com sacro", diz o paleontólogo Max Langer, da USP de Ribeirão Preto, que não participou do estudo. O sacro, explica Zaher, é a região da coluna vertebral que tem uma conformação diferenciada, "feita" para sustentar o peso do corpo --coisa que só um animal com patas usa.

Mike Caldwell, paleontólogo da Universidade de Alberta (Canadá) e defensor da hipótese marinha, disse que a descoberta era "muito empolgante", mas considerou a interpretação dela "extremamente problemática". "Eles não fazem nenhuma tentativa de descobrir os parentes mais próximas das serpentes [fora do grupo]. Só porque a Najash lhes pareceu um animal de toca, eles concluem que o ancestral comum de todas as cobras também o era."

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